Nosso próximo casarão da série Avenida Paulista é a residência da família Cardoso de Almeida, projetada pelo escritório Ramos de Azevedo e erguida em 1915. A localização da mansão era na atual esquina da Avenida Paulista com a Rua Haddock Lobo.
Cardoso de Almeida, que emprestou seu nome a uma rua conhecida no bairro de Perdizes, foi um expoente político do começo do século passado. Em sua carreira foi deputado estadual e federal, em várias ocasiões, secretário de Estado – da Justiça e do Interior – e chefe da polícia paulista. Nasceu em Botucatu, filho de Antônio Joaquim Cardoso de Almeida, que foi líder político da região e prefeito municipal.
Seu pai, um português, foi casado com Maria Pulqueria do Amaral Barros e teve 4 filhos: Antonio, José, Custodio e Armindo.
Antonio, o mais velho, foi deputado estadual e prefeito de Botucatu por 8 vezes. Como empresário, foi fundador da CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz e banqueiro, fazendeiro que introduziu o café amarelo em Botucatu.
José Cardoso de Almeida, o segundo filho, foi presidente do Branco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Teve uma vasta atuação política como deputado federal, por várias vezes, secretário de estado da educação, da fazenda, da justiça, da agricultura. Foi ainda ministro da fazenda, líder do presidente Washington Luiz e líder do governo.
Os quatro irmãos eram sócios entre si. Além da CPFL, também fundaram a Companhia Paulista de Seguros.
Nascido em 8 de setembro de 1867, José Cardoso de Almeida passou a infância em Botucatu.
Em São Paulo, depois que se formou na Faculdade de Direito em 1890, abriu um escritório de advocacia. Foi eleito e reeleito deputado estadual pela cidade e criou a Força Pública – a polícia estadual, onde foi nomeado chefe de Polícia do Estado de São Paulo no primeiro governo de Rodrigues Alves.
Neste período, elaborou um documento analítico que propunha a criação de um plano de carreira profissional para a polícia paulista, acreditava que a melhoria só seria possível com um plano que garantisse acesso progressivo aos diversos cargos pelos oficiais. A partir deste estudo surgiu uma ampla proposta de reformulação da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Será que surtiu efeito? Parece que não.
Cardoso de Almeida também foi responsável pela implementação do projeto da Pinacoteca do Estado que solicitou à direção do Liceu de Artes e Ofícios a cessão de um salão em seu edifício para “estabelecer uma galeria de pintura com quadros existentes no Museu do Estado e com os que forem adquiridos”. Para lá foram um conjunto de 26 pinturas, entre retratos, paisagens e naturezas-mortas, de autores como Almeida Júnior, Antônio Parreiras, Oscar Pereira da Silva, Benedito Calixto, Eliseu Visconti e Pedro Weingärtner, entre outros.
Ramos de Azevedo, famoso arquiteto que projetou tantas obras que hoje fazem parte da memória desta cidade, tornou-se responsável pela gestão da pinacoteca. Para receber as obras, o arquiteto projetou alterações no terceiro andar do edifício, em consonância com os padrões museológicos da época. Uma grande claraboia retangular foi instalada com o objetivo de obter claridade regulada por véus transparentes, evitando que os quadros recebessem iluminação direta das janelas.
José foi casado com Ismênia Ramos de Azevedo, irmã de Ramos de Azevedo, portanto os dois eram cunhados”. Da união, teve dois filhos: Mario e Lauro Cardoso de Almeida.
Em 1902 foi nomeado diretor do Banco de Crédito Real, após deixar o cargo de chefe de Polícia. Era um administrador respeitado, tanto no trato de empresas privadas como de órgãos públicos e, mais tarde, em 1918, assumiu a presidência do Banco do Brasil.
Por conta das agitações revolucionárias nas forças armadas (que resultaram em um golpe de Estado) em São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, como deputado federal, em maio de 1931, Cardoso de Almeida apresentou o Projeto de Lei nº 293/30, que permitia ao Presidente da República Washington Luís decretar estado de sítio em vários Estados e no Distrito Federal.
Todo o esforço foi em vão, pois a revolução foi vitoriosa. Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder. Com a vitória dos revolucionários, todos os órgãos legislativos do país foram extintos e Cardoso de Almeida foi exilado na Europa.
Aqui em São Paulo, uma rua foi batizada com seu nome, já em sua cidade natal, emprestou seu nome a Escola Municipal Dr. Cardoso de Almeida, a qual ajudou a construir. Em 1897, a bela edificação foi inaugurada, com o prédio principal e os dois pavilhões laterais, independentes, que receberam de Victor Dubugras o mesmo tratamento, conferindo ao conjunto uma composição harmoniosa. Vejam que linda construção de época.
No lugar da mansão de Cardoso de Almeida, atualmente está localizado o edifício comercial Oscar Americano. O prédio foi projetado em 1968 pelo arquiteto Sidonio Porto, do escritório Sidonio Porto Arquitetos Associados. Com 16 andares, a construção foi entregue em 1975. Marco da arquitetura moderna paulistana, o edifício Oscar Americano surgiu como sede da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), uma das maiores empreiteiras de obras públicas do país, fundada pelo próprio Oscar Americano, posteriormente incorporada à Odebrecht (Aquela mesma, nossa conhecida da Lava-Jato!!!).
Em 2012, o edifício foi revitalizado, com a técnica chamada de retrofit. A técnica garante ainda que o empreendimento não perca sua identidade histórica. Coincidentemente, ou nem tanto assim, a reforma também foi realizada pelo escritório de Sidonio Porto, que disse que “o projeto de retrofit prevê que o prédio recupere suas características arquitetônicas originais“.
Segundo o arquiteto, na época, a opção foi pela não utilização de placas de vidro na fachada, fato que gerou a busca de alternativas para a questão da temperatura no edifício. Segundo ele, a solução desenvolvida para a fachada controlava a entrada de luz e reduzia a transmissão de calor intenso por meio de janelas com vidros duplos e persianas internas.
Desde os anos 2000 o edifício era ocupado pelo Banco PanAmericano, do Grupo Silvio Santos. A instituição financeira fez muito sucesso tornando-se uma das principais instituições de crédito voltadas para o consumidor de baixa renda: a rede, que tinha apenas 50 agências no final de 2002, chegou perto de 200 unidades em 2007. Seu lucro se multiplicou por 5 em apenas dois anos.
O crescimento foi tão vertiginoso que, em 2009, o Banco Panamericano assinou como patrocinador do Corinthians na temporada, estampando seu logotipo no uniforme do time, que foi vencedor no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil.
Mas, no dia 8 de novembro de 2010, Silvio Santos anunciou um empréstimo de 2,5 bilhões de reais para cobrir uma fraude contábil nos caixas do Banco PanAmericano. Foi o começo do fim!
O rombo aconteceu porque o banco teria vendido grande parte de sua carteira de crédito a outros bancos, sem dar baixa destas transações em sua contabilidade, ou seja, era como se contasse com um dinheiro que não existia mais. A instituição foi vendida ao BTG Pactual, banco de investimentos de André Esteves.
Em maio de 2013, a revista Veja publicou o seguinte texto “um edifício localizado na Avenida Paulista com 5.600 metros quadrados para escritórios, em dezesseis andares, três subsolos e heliponto foi colocado no mercado para locação. De quebra, quem disser “estou certo disso” e fechar o contrato vai virar locatário do apresentador Silvio Santos. O imóvel, erguido em 1968, era a sede do Banco PanAmericano (rebatizado de Pan), vendido por 450 milhões de reais ao BTG Pactual após um rombo de 4 bilhões causado por má administração. A equipe do Pan deixará o espigão em julho, quando o novo inquilino poderá ocupá-lo. O interessado deverá desembolsar o equivalente a 80.000 Tele Senas por mês: 560 000 reais”. Até hoje, prédio do banco de Silvio Santos ainda está para alugar!!!
Concluímos que tudo é uma questão de crédito, tanto no caso de Cardoso de Almeida, que foi diretor do Banco de Crédito Real e presidente do Banco do Brasil, e acabou desacreditado e exilado do Brasil, como no de Oscar Americano, prédio que sediava a CBPO, que foi vendida para a Odebrecht e, depois, recebeu o Banco PanAmericano, ambas as empresas ficaram sem crédito no mercado.
O que será que nos aguarda a próxima história da série Avenida Paulista???
Matteo Gavazzi
Alguém sabe se existe algum álbum de fotografias com imagens dos casarões da Av. Paulista?
Fábio, comentei no post do casarão do Dr Numa de Oliveira, que existe um livro, de 1987, chamado “Álbum Iconográfico da Avenida Paulista” de autoria de Benedito Lima de Toledo com fotos dos casarões. Talvez você possa encontrar no mercado livre ou estante virtual https://spcity.com.br/serie-avenida-paulista-do-numa-de-oliveira-ao-numa-de-oliveira/#more-3027
Fábio, como comentei no facebook e no post do casarão do Dr Numa de Oliveira na coluna SP: Antigo&Moderno deste site, que existe um livro de 1987 chamado “Álbum Iconográfico da Avenida Paulista” de autoria de Benedito Lima de Toledo com fotos dos casarões. Talvez você possa encontrar no mercado livre ou estante virtual.
Muito bacana, adorei saber sobre a origem do nome da Rua Cardoso de Almeida e da fala de “crédito” desta história.
Obrigada
Valeu pela informação! Vou começar a procurar hoje mesmo por esse livro!
Luciana, Adorei a matéria que escreveu sobre seus tio bisavô, José Cardoso de Almeida, porém preciso corrigi-lá pois o nome do meu tataravô pai do José não é Antônio Cardoso do Amaral e sim Antônio joaquim Cardoso de Almeida. Antônio Cardoso do Amaral na verdade é seu irmão mais velho meu bisavô que tem seu nome de batismo Antônio Cardoso de Almeida… de quem me orgulho muito de ter seu nome.
Abraços.
Camila Cardoso de Almeida.
Exato, Camila. Ele incorporou Amaral (de sua mãe, minha bisavó) apenas para que suas correspondências se diferenciassem das do pai, meu bisavô, pois chegavam endereçadas a Antonio Cardoso de Almeida, para ambos.
José e Tuni tinham outro irmão, Custódio, meu avô. Abs.
Luciana, tio José não acabou “desacreditado”, como você disse na matéria, ele foi exilado e faleceu em Paris três anos depois. Há uma diferença aí… Mas vale pela licença poética.
Paulo e Camila,
Muito obrigada pelas mensagens. Fico muito feliz que tenham visto o artigo. As correções foram realizadas. Vocês poderiam me explicar um pouco melhor os lações familiares? Vejam se entendi: Pai – Antônio Joaquim Cardoso de Almeida e a mãe? …. Amaral. José e Tuni (quem seria???) tinham outro irmão, Custódio, meu avô. Quantos irmãos eram?
E os filhos de José Cardoso de Almeida? Este foi um dos primeiros textos que escrevi na Série Avenida Paulista, os posteriores tenho adicionado mais informações sobre as famílias e a casa da Paulista. Alguns descendentes têm me ajudado e recompor a história inclusive escrevendo comigo. Vocês poderiam me ajudar? Segue um link com um de texto compartilhado: https://spcity.com.br/serie-avenida-paulista-da-familia-correa-galvao-ao-banco-central/ Muitíssimo obrigada, Luciana
Camila, fiquei muito feliz em receber sua mensagem é muito bacana quando alguém das famílias vê, gosta e participa. Peço desculpas pelo erro, já fiz a correção do nome de seu tataravô. Mas ainda fiquei em dúvida: Antônio Cardoso do Amaral era irmão de seu bisavô? Filho de Antônio Joaquim Cardoso de Almeida? E seu tataravô era realmente um líder político em Botucatu? Se quiser compartilhar mais alguma informação de sua família e da mansão da Paulista, será um prazer incluir no texto. Muitíssimo obrigada, Luciana
José Cardoso de Almeida foi casado com Ismênia ramos de Azevedo. portanto eram cumnhados. José e o arquiteto. Posso mandar uma cópia digital de livro que escrevi sobre a família Cardoso de Almeida. É só pedir. Meu email. cardosoclaudio@hotmail.com
Esse livro conta toda a trajetória dos quatro irmãos Cardoso de Almeida do pai, o velho Cardoso e trás a genealogia desde 1203 em Portugal até os nossos dias.
Gabi Pinna
Olá.
Creio que há um engano com relação à posição da casa dos Cardoso de Almeida: originalmente a casa da família levava o nº 40a, ou seja, na esquina da Rua Haddock Lobo no antigo lado par, onde hoje está o Edifício Três Marias, no atual nº 2239.
A casa onde está hoje o Edifício Oscar Americano, sob o nº 2240, era da família Moraes Barros, no antigo nº 21.