RAPIDINHAS

Dior e Eu: a evolução de um grande estilista

Primeiro dia de trabalho. O desafio é liderar uma equipe de excelência, em uma das melhores companhias de seu ramo no mundo, com 65 anos de tradição. O país é estrangeiro e ele mal arranha a língua local. Além disso, o último a ocupar o lugar que agora é seu era um gênio, que saiu após uma grande polêmica. Isso, sem contar o legado daquele que dá nome ao negócio. Intimidador?

Essa cena foi real para o estilista belga Raf Simons, quando assumiu a direção artística da Dior, em 2012, após John Galliano ser desligado por conta de declarações antissemitas. Com um jeito introvertido e um olhar amigável, apesar do ambiente desafiador, Simons fez questão de conhecer um por um os membros da equipe da lendária casa de alta costura no primeiro dia de trabalho, se esforçando no francês e dizendo “não sou uma pessoa isolada, vocês me verão bastante por aqui”.

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Foto: Divulgação

Entremeado por cenas do passado com narrações em off de Christian Dior, o documentário Dior e Eu (2014), do diretor Frédéric Tcheng, tem ritmo de reality show e nos leva à intimidade da confecção de uma coleção de alta costura. Com apenas oito semanas para elaborar seu trabalho, Simons precisa mostrar que tem personalidade, mas que sabe conjugá-la ao estilo indefectível e estabelecido da Maison Dior. Suas ideias e forma de trabalhar precisam casar com as da equipe do ateliê. E todos precisam se comunicar muito bem, mesmo que a língua seja um obstáculo.

Para os amantes da moda, é um deleite ver a construção das peças, que é mostrada desde o processo criativo até a finalização. Assim  omo Simons se inspira, em passeios pelo museu de arte moderna de Paris, o Georges Pompidou, de onde tira inspiração para estampas de vestidos, até a divisão dos modelos entres as costureiras – a chefe do ateliê deixa que cada uma escolha qual prefere fazer, pois acredita que quem trabalha no que gosta, faz bem feito.

É muito interessante ver como o diretor artístico desenvolve a coleção, preparando um dossiê detalhado e repassando-o ao time de estilistas, que têm liberdade para propor seus desenhos. Ele se envolve também na  apresentação da coleção e cria uma sala de desfiles belíssima, com as paredes cobertas de flores, baseada na casa onde Christian Dior passou a infância e também em uma instalação de Jeff Koons. Percebemos que Simons é calmo, tímido, concentrado e que não perde o controle — apesar de mostrar-se vulnerável conforme o desfile se aproxima.

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Foto: Divulgação

Conhecido por ter um estilo minimalista, o oposto do antecessor John Galliano, Simons era visto com reticências pelo mercado. Os críticos de moda estavam ansiosos em ver como seria sua coleção para Dior. Antes, na Jil Sander, onde ficou por sete anos, arrancou elogios rasgados. Na primeira investida na Dior, a recepção foi controversa, mas, hoje, está aprovado pela maioria: o estilista belga conseguiu modernizar a Maison sem desprezar sua história e essência. O documentário mostra não apenas a concepção de uma coleção, mas principalmente a transformação de um estilista em diretor artístico.

Contudo, o filme carece de profundidade na investigação dos bastidores. Por ser uma produção bancada pela própria Dior, ficou um pouco com cara de apresentação institucional. Não deixa de ser um retrato importante de um marco histórico da Maison, mas ter explorado um pouco mais as relações de trabalho e de conflitos poderia ter deixado o filme mais interessante para quem não é do mundo da moda.

Trailer Oficial – Imovision

Para saber onde assistir, confira os cinemas que estão exibindo o documentário no site da distribuidora, clicando aqui.

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Camila Rocha
the authorCamila Rocha
Jornalista que já se enveredou por diversas áreas na comunicação, hoje também é consultora de estilo. Adora a vida urbana e multifacetada de São Paulo e tenta cada vez mais conhecer os diferentes aspectos da vida na capital. Estar atenta e aberta a tudo o que acontece no fervilhante cenário cultural da cidade é essencial para seu trabalho, assim como fundamental para seu desenvolvimento pessoal. Compartilhar tudo o que de interessante encontrar é apenas uma consequência. E dona do blog Ninguém Perguntou

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