O Instagram é um clube de fotografia?

Você é fã do projeto São Paulo City, adora a nossa cidade e curte fotografia, certo? Fica muito feliz quando ganha um destaque de uma foto sua em nosso feed no Instagram? Pois é, isso é realmente muito bom para divulgar suas imagens, além de te propiciar conhecer novas pessoas com quem você se identifica. Mas como será que os fotógrafos faziam para divulgar o seu trabalho e achar parceiros antes da internet?

Uma das maneiras, praticada ao longo do século passado, foi o fotoclubismo. Isso mesmo, um clube de fotógrafos! Uma associação cujos membros se uniam para debater, estudar, apreciar e trocar trabalhos de fotos e realizar ações com objetivo de promover o desenvolvimento da fotografia.

O Foto Cine Clube Bandeirante.

O Fotoclube mais importante de São Paulo é o Foto Cine Clube Bandeirante, fundado em 1939 e, acreditem, ainda em atividade. A proposta do FCCB era a de desbravar novas perspectivas para o fazer fotográfico – por isso o nome em homenagem aos Bandeirantes – além de valorizar principalmente a fotografia como forma de expressão e arte.

Essa intenção do clube se devia a um conflito histórico que persistia na fotografia desde o seu surgimento: a dicotomia entre a fotografia como documento e a fotografia como arte. Na Europa, na segunda metade do século XVIII, a fotografia era considerada por muitos pensadores como apenas uma imitação, um espelho da realidade, um instrumento mecânico (ótico-químico) que registrava o mundo real, sem a participação do homem. Portanto, não era arte.

O papel da fotografia, segundo esses estudiosos, deveria ser o de servir a outras esferas do conhecimento, por exemplo, fornecer imagens precisas dos seres vivos à biologia; de paisagens à geografia e imagens comprobatórias à polícia. Ou seja, a fotografia era vista sempre como documental, não tinha um fim em si mesma, mas sim a tarefa de auxiliar outras áreas. Imaginem se essa visão perdurasse até hoje!

Essa é a importância do fotoclubismo. Os amantes da fotografia aqui no Brasil, que formaram o FCCB, queriam expandir essa visão reducionista. Eles propuseram uma nova maneira de pensar a fotografia e, influenciados por movimentos artísticos e outras vertentes fotográficas, como o surrealismo, o concretismo, o instante decisivo, de Cartier-Bresson e a fotografia humanista nos EUA, começaram a mudar os conceitos técnicos da imagem e a explorar novas possibilidades de composição, de enquadramento, novos temas.

Outro fator muito bacana, que garantia a interação dos artistas e a difusão dos seus trabalhos eram os concursos e salões que os clubes realizavam. Funcionava assim: os sócios organizavam um concurso para premiar as melhores fotos dos associados, que podiam ser feitas em saídas fotográficas do próprio clube ou não. Essas fotos premiadas eram expostas nos salões e eventos fotográficos, não só do próprio clube, mas de muitos outros, tanto no Brasil quanto no exterior. Elas rodavam por vários lugares e voltavam ao clube a que o fotógrafo era associado com selos da participação mundo afora, carimbos e comentários de outras premiações. Assim os artistas ficavam sendo conhecidos.

Encontrou certa semelhança com o Instagram? Bom, os concursos continuam acontecendo, no lugar de clubes que premiam e expõem nossas fotos, temos os feeds que fazem isso. Associados viraram seguidores e o reconhecimento do trabalho se dá pelos likes e pelos mesmos comentários! É, a história costuma ser assim, cíclica.  Acho que vale pensar sobre essa comparação e refletir a respeito da maneira como lidamos com as imagens atualmente.

Exposição sobre o Foto Cine Clube Bandeirante.

Para quem quiser saber mais sobre a história do Foto Cine Clube Bandeirante, vale visitar a exposição sobre ele, que ficará no Masp até 20/03/2016. E claro, vale também visitar a sede do FCCB, que, como eu disse, ainda está em funcionamento. Fica na querida Rua Augusta, n 1108. No próximo artigo, falaremos sobre alguns de seus principais membros.

Via: Foto Cine Clube Bandeirante –  www.fotoclub.art.br e www.fccbblog.blogspot.com.br

Museu de Arte de São Paulo – www.masp.art.br