CULTURA

LENDAS URBANAS: Capela dos Aflitos

By Redação SP City

December 27, 2023

A capela dos Aflitos recebeu esse nome em homenagem à Nossa Senhora dos Aflitos, mas o que nem todos sabem é que a construção foi palco de uma história tenebrosa. Onde hoje são realizados cultos, um soldado chamado Francisco José das Chagas está enterrado. Chaguinha, como era conhecido, foi condenado ao enforcamento, porém, na hora da execução, a corda se rompeu. E não foi apenas uma, mas duas vezes. O público considerou o episódio um milagre e pediu a liberdade do moço, que foi finalmente morto na terceira tentativa. Enterrado onde atualmente está a Capela dos Aflitos, algumas pessoas visitam o lugar até hoje para fazer pedidos ao soldado e pagar promessas.

É tão pequena a Capela dos Aflitos que os fiéis sentam-se nas poucas cadeiras ao lado do altar. Porque a frente já está quase na própria rua. O padre que lá reza missa é o mesmo da Capela das Almas dos Enforcados. Aflitos e Enforcados são duas capelas que estão ligadas por sua história. Reza a tradição que os escravos, vindos dos baixos do Carmo, da várzea do Tamanduateí, subiam a Tabatinguera. Paravam estatelados na Igrejinha da Boa Morte. Seguiam ao pelourinho, ali no atual Largo sete de setembro. Viam o suplício dos seus irmãos de cor e destino. Seguiam, não raras vezes, até o Largo da Forca (atual Liberdade), mais ou menos onde hoje situa-se a Capela dos Enforcados. Nesta paragem baloiçavam os corpos inanimados dos escravos condenados à morte certa.

Nossa Senhora dos Aflitos (Altar) – Foto: Fernanda São José

Seus irmãos de cor e sorte, desciam aos Aflitos. E ali compartilhavam a dor de uma vida sem esperanças. Eis a origem humilde e plangente da Capelinha de Nossa Senhora dos Aflitos.

Escondida num beco do bairro oriental da Liberdade, a Capela Nossa Senhora dos Aflitos foi construída em 1779, na época em que o Brasil era colônia portuguesa (a independência foi proclamada apenas 43 anos depois). No local, quatro anos antes, fora inaugurado o primeiro cemitério público de São Paulo.

Destruída pelo tempo e por um incêndio na década de 1990, a pequena igreja não tem capacidade para receber mais de duas dezenas de fiéis, estes que costumam “lotar” o templo nas celebrações das missas com intercessão de Chaguinhas.

Sem nenhum milagre reconhecido pelo Vaticano e nenhum processo para que isso aconteça, católicos se perdem entre as ruas da cidade para bater três vezes na porta onde há a placa anunciando a morte de Francisco José das Chagas. Ele era um cabo brasileiro, que liderou uma revolta contra a falta do pagamento aos militares (chamado soldo). Por essa razão foi preso e morto em praça pública.

“A condenação de Chaguinhas foi um marco na cidade”, conta Ilth Maria, secretária da igreja. A lenda diz que, ao ver o corpo desabar da forca, a multidão reunida gritou “Liberdade!” e aí surgiu o nome do bairro.

Chega a vez do Chaguinhas. Perpassa pelo povo, mudo, uma emoção: a corda, quando o corpo do Chaguinhas é jogado ao ar, arrebenta. O escudeiro-mor, desapontado, ordena a sua substituição. Novo engaste, novo nó, nova caída, e a corda, pela segunda vez, arrebenta. Chovem pedidos de liberdade. O carrasco range os dentes, negando a solicitação pública. Colocado novamente no patíbulo, Chaguinhas tem um olhar místico e doce, das almas contristadas. Desse olhar nasceu a primeira irradiação da crença. Pela terceira vez, o algoz lança o pescoço do infeliz e, pela terceira vez, a corda se rompe. Então, a população diviniza o condenado e alguma coisa sobrenatural perpassa no ar parado daquela manhã fatídica. Só na quarta tentativa, o corpo do Chaguinhas balança inerte no instrumento de seu martírio. A prova da inocência está ali, na teimosia da corda em se negar ao mister do enforcamento, como se a rebelião contra a injustiça partisse da própria coisa inanimada. O povo assim entendeu, e hoje, tradicionalmente, ainda se venera o Chaguinhas, na convicção da sua inocência pelo atestado que a lenda nos revela, segundo o citado Autor. ”Por causa da convicção da inocência de Chaguinhas, nasceu o culto que se faz até hoje em sua memória na Capela da Santa Cruz dos Enforcados, no Largo da Liberdade, mantida por uma irmandade organizada em 1902, por D. Antonio Cândido de Alvarenga, então Bispo de São Paulo.

Soldado, o negro Chaguinhas, como era conhecido, foi condenado por liberar rebelião por pagamento de soldo e segundo a tradição quando de seu enforcamento a corda arrebentou por três vezes. Sob os gritos de liberdade da população, o carrasco então tomou emprestado o laço de couro de um vaqueiro e consumou o suplício. Transformado em velário, a sala da prisão atrai fieis que batem a porta três vezes pedindo graças. Localizada em local popular do século dezenove, a forca encontrava-se onde se ergue hoje a Praça da Liberdade, onde em frente se encontra a Igreja Santa Cruz dos Enforcados foco de interessante sincretismo religioso pela permanência e encontro de várias baianas vendendo pipoca e flores.

Capela dos AflitosInaugurada em 27 de junho de 1779 Horário de expediente: Segundas Feiras: das 7h30 as 19h00 Terça feira a sexta feira das 8h00 as 12 12h00 e das 13h00 as 17h00 Missas as segundas feiras as 15h00, terço às 13h30.

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