Ocasionalmente nós falamos sobre os modismos na gastronomia, e como eles nos influenciam desde os produtores até os consumidores que embarcam em uma demanda artificial, mas depois, que o mercado já não consegue mais absorvê – los muitos acabam naufragando pelo caminho. O mercado consumidor da cidade de São Paulo é um vasto território para modismos gourmet, alguns duram mais tempo e outros logo se acabam.
De tempos em tempos algum modismo chega de longe, seja trazido por algum viajante que o conhece lá fora, ou pelas correntes naturais e movimentos da gastronomia que conversam entre si, ou por incursões empresariais bem estudadas e orquestradas para fazer nascer do nada de maneira quase espontânea, como se aquele novo produto fosse um novo achado que sempre esteve ali ao nosso alcance. Mas operações dessa escala geralmente são incursões globais que exigem muito tempo e investimento para darem lucro, e requerem um patrocinador muito maior do que a indústria de alimentos costuma ser, pois mesmo as grandes multinacionais do ramo de alimentos costumam fazer incursões cuidadosas e pontuais nos mercados consumidores respeitando sobre tudo os sabores locais as preferências de paladar e a sazonalidade de cada mercado, a gigante do mercado a Anglo Holandesa Unilever, por exemplo, embora possua as mesmas marcas no mundo inteiro leva anos para trazer um produto de um continente ao outro e muitas vezes nós achamos que esta ou aquela marca sempre foi nossa e então descobrimos que na verdade ela veio de fora, mas se fundiu a nossa memória como se sempre houvesse estado presente em nossa casa. Geralmente as grandes jogadas de mídia e movimentações de público ficam por conta do mercado de bebidas mais volátil as tendências e desejos do mercado.
A pouco mais de 2 anos o Grupo Campari introduziu no mercado brasileiro um drink que era um grande desconhecido do público, o Aperol, que chegou no mercado como uma “releitura” de algo que nós nunca havíamos visto na vida mas que sempre soubemos o que era. O Aperol Spritz é a nova bebida dos moderninhos e descolados, seu sabor cítrico meio amargo disfarçado por uma combinação de água com gás e espumante o fez cair no gosto e no clima de São Paulo, no final dos anos 90 após uma repaginada no conceito do grupo e um audacioso plano de expansão e aquisição de marcas o Grupo Campari começou uma nova estratégia de negócios, a compra da marca italiana Aperol em 2003 uma bebida até então completamente desconhecida fora do norte da Itália foi um marco na exportação de uma imagem, primeiro rodaram a Europa e finalmente chegaram ao Brasil o 4 mercado em volume e valores de venda do Grupo Campari, treinaram bartenders e instalaram em alguns bares as embaixadas do Grupo, levaram a bebida a bares e baladas conceito e captaram alguns blogueiros formadores de opinião e em pouco tempo a bebida foi se consolidando como a queridinha dos moderninhos de plantão.
A chave do sucesso foi à combinação do sabor cítrico com o frescor do espumante e o calor tropical, essa mistura somada com um relativo teor alcoólico, harmoniza muito bem com o ambiente da noite paulistana, mas se esta receita vai durar, somente o tempo e as papilas gustativas é que vão nos contar.
