CULTURA

Série Avenida Paulista: Escola Estadual Rodrigues Alves de 1919 a 2016

By Luciana Cotrim

September 19, 2023

Pela primeira vez, depois de 1 ano e meio de publicações – da apresentação da histórias de 46 casarões e algumas da própria avenida -, a Série Avenida Paulista apresenta um imóvel de uso público que permanece preservado até hoje: o prédio da Escola Estadual Rodrigues Alves.

No início do século passado, o denominado Grupo Escolar da Avenida, que foi fundado em 1907, surgiu para reunir seis pequenas escolas da região. Funcionava precariamente em um casarão, alugado e adaptado para este uso, na esquina da Rua Pamplona com a Avenida Paulista.

Permaneceu até 1919 neste endereço, até que a escola mudou para um belo prédio, projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, que ficava localizado na Avenida Paulista.

Apesar de, na época, o endereço concentrar residências de grandes empresários e fazendeiros, a escola que, na mudança, foi rebatizada com o nome de Grupo Escolar Rodrigues Alves, não foi criada para receber os filhos da elite paulistana do início do século passado.

A nova escola surgiu por conta da política de disseminação da escolarização elementar, que foi adotada pelo Estado de São Paulo durante a Primeira República. No governo de Altino Arantes foi iniciada uma concorrência pública, que tinha como objetivo a compra de um terreno para a construção do “Grupo Escolar Rodrigues Alves”. A escolha do nome foi uma homenagem feita ao presidente do Brasil no período entre 1902 e 1906, que morreu no início de 1919, ano da inauguração do grupo escolar.

O objetivo do novo colégio era propiciar boa educação aos filhos de comunidades menos abastadas, mas o fato não fez com que o prédio fosse menos suntuoso e, assim como as demais construções da época, a edificação construída com pé direito de cinco metros de altura, recebeu lindos vitrais trabalhados e escadarias de madeira.

O edifício possui dois pavimentos, em estilo eclético, como a grande maioria das obras de Ramos de Azevedo, com vários elementos neoclássicos. Constituía parte do projeto um amplo jardim para a entrada das crianças e um pátio interno para as aulas de educação física e o recreio.

Durante grande parte do século passado, em todas as escolas se observava a divisão por gênero. No projeto foi concebido e, por muitos anos, no Grupo Escolar Rodrigues Alves o primeiro andar era destinado as salas de aula masculinas e o gabinete do diretor e, no andar térreo, ficavam as salas de aulas femininas e a sala dos professores.  No início até a ida aos pátios eram em horários diferentes, só mais recentemente as classes se tornaram mistas.

Uma iniciativa inédita aconteceu nos anos 1960, em que foram abertas quatro classes especiais para deficientes físicos, sob a supervisão da Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) e, na década seguinte, a instituição manteve uma oficina de trabalhos manuais para esses alunos.

O edifício foi tombado pelo CONDEPHAAT em 1985. No começo dos anos 2000 iniciou-se um projeto de preservação da edificação que, atualmente, é chamado de Escola Estadual Rodrigues Alves.

A deterioração do prédio na época do restauro.

A obra de preservação aconteceu entre 2003 e 2006, depois de firmada uma parceria com o Banco Real (vendido posteriormente para o Banco Santander) que patrocinou, por meio das leis de incentivo fiscal estadual e municipal, a restauração completa do prédio, no valor de R$ 3,5 milhões. Os governos não gastaram nada com o projeto. A maquete 3D e o resultado do trabalho pode ser visto neste vídeo.

O processo recuperou a fachada com seus detalhes e adornos, as escadas de madeira, os vitrais e, além disso, disponibilizou novo mobiliário escolar e apetrechos para as salas de aula. Foi uma obra cheia de minúcias e detalhes como, por exemplo, a tinta para pintar a edificação teve que ser importada da Itália, pois as cores das tintas nacionais, não se aproximavam do tom de amarelo, original do prédio.

Segundo a empresa Formarte, que realizou o restauro, “durante os trabalhos, foram encontrados afrescos originais, que estavam escondidos sob as camadas de tinta. De acordo com a diretora da escola (..), comenta-se que outras relíquias históricas também estariam escondidas por debaixo das camadas de tinta das paredes da E.E. Rodrigues Alves. “Em 1932, a escola serviu de abrigo para os combatentes da Revolução Constitucionalista, que teriam deixado mensagens daquela época nas paredes do prédio”, conta”.

O edifício logo após a restauração. Foto: Formarte

Considerando a configuração inicial do edifício, durante este longo período, o prédio sofreu algumas alterações, como a perda de grande parte do jardim fronteiro quando a Avenida Paulista foi alargada e a construção de um galpão em sua parte posterior, para atendimento de um maior número de alunos, mas o prédio principal foi mantido com suas características originais, planejadas por Ramos de Azevedo.

Recentemente, esta que vos escreve, teve a oportunidade de entrar no prédio, acompanhando uma eleitora na votação para prefeito e vereadores da cidade de São Paulo e, com o seu aparelho celular registrou algumas imagens, que hoje são compartilhadas com todos vocês.

As duas fotos de cima são da fachada, que é vista da Avenida Paulista, e as duas de baixo, são a parede lateral e a do fundo do prédio.
Lindos detalhes das portas, janelas e grade que podem ser apreciados em um passeio pela Avenida Paulista. Na terceira imagem, janelas internas, em que são colocadas sementes para germinar e plantinhas dos alunos.
Visão interna do prédio: as escadas de madeira, o vitral trabalhado, janelas e o corredor das salas de aula do andar térreo.

Boa semana a todos e até o próximo domingo com mais uma história da Avenida Paulista!