RAPIDINHAS

Um bonde chamado Desejo. E sucesso.

By Viviane Roesil

March 01, 2016

O Espetáculo teatral Um bonde chamado Desejo, volta a São Paulo em nova temporada no Tucarena, depois te ter sido aclamado pela crítica e público em 2015.

Disseram à Blanche que pegasse um bonde chamado Desejo e depois outro, chamado Cemitérios e descesse na parada Campos Elísios. Mal sabia ela que sua vida iria dar um giro de 180º, na hora em que se iludiu esperançosamente.

O triângulo que dá ensejo à uma rede de intrigas e loucuras.

Obra clássica.

Escrita em 1947, pelo dramaturgo americano Tennessee Williams (1911 – 1983), a peça Um bonde chamado Desejo expõe explicitamente a relação pontuada de tensão entre os cunhados Blanche DuBois e Stanley Kowalski, sendo amparados pela irmã e esposa Stella, em meio a uma atmosfera dualmente cruel e pincelada de carga poética. O também dramaturgo americano Arthur Miller (1915 – 2005) salienta que com Um bonde chamado Desejo, inaugura-se na dramaturgia norte-americana um tipo de texto que coloca a linguagem puramente a serviço dos personagens e não da trama em si. Aqui, os personagens são totalmente livres em suas falas a ponto de conseguirem expor verbalmente todas suas contrariedades e complexidades.

Blanche DuBois (Maria Luisa Mendonça explode em si própria.

Tudo o que é humano, não é estranho.

É sabido que um bom personagem é aquele que apresenta inúmeras facetas e um bom drama é aquele que foge do maniqueísmo transparente e simples. E é exatamente isso o que acontece em Um bonde chamado Desejo, um grito imbuído de imensidão essencialmente humana. O caráter dos personagens vem à tona através de suas ações e discursos, criando-se um conflito clássico e universal.

Novo encontro teatral.

Na nova montagem, atualmente em cartaz na cidade, o jovem diretor, Rafael Gomes, aproveita-se do formato de arena do teatro e engrandece o discurso pulsante ao apresentar uma ação unificada, porém entremeada de arrebatamentos intrigantes que fazem coro à trilha sonora que retumba de Nina Simone à Amy Winehouse, passandopor Radiohead.

Em uma peça de superlativos, o cenário funcional não poderia ser diferente e desenvolve importante papel na narrativa.

Colocando a mão na massa.

O cenário minimalista e funcional de André Cortez, foge do realismo puro e brinda a ambos: espectadores e atores, em um jogo essencialmente teatral, unindo versatilidade e imaginação.

Figurinos grifados e hypados.

O estilista/artista paulistano Fause Haten, que nos últimos anos tem incursionado na seara teatral (são dele os figurinos de Alô, Dolly!, O Mágico de Oz, O Médico e o Monstro, entre outros), mais uma vez, contempla cada um dos personagens com seus croquis, tecidos e fluidez, a serviço da amplificação e dos signos intrínsecos ao enredo.

Encontro vital no palco.

O plot é simples e os personagens, complexos. Nessa releitura, o high and low primam pela descoberta da verdade entre protagonista/antagonista, atingindo a delicadeza, fragilidade e complexidade psicológica de Blanche DuBois e o instinto rude, boêmio e primitivo de Stanley Kowalski. Some-se a isso os demais personagens que fornecem o respiro e alívio necessários entre uma sequência e outra.

Redescubra e surpreenda-se.

Para os cinéfilos fiéis de plantão, um aviso: essa nova versão teatral não fica devendo absolutamente nada ao filme de 1951, dirigido por Elia Kazan (na versão brasileira, o título é Uma rua chamada Pecado), e os atores Maria Luisa Mendonça, (ganhadora do prêmio de melhor atriz da Associação Paulista dos Críticos de Arte, 2015), Eduardo Moscovis e Virginia Buckowski, põem-se no mesmo patamar de Vivien Leigh, Marlon Brando e Kim Hunter.

Absolutamente imperdível!

Ao final, não faltarão palavras para classificar o espetáculo, mas como menos é mais, faça coro ao adjetivo transformado em interjeição, pelo roteirista Alexandre Freire, para sumarizar as quase duas horas de peça: VISCERAL!

UM BONDE CHAMADO DESEJO 110 minutos. Censura 14 anos. R$25,00 a R$70,00. Sextas às 21h30, Sábados às 21h00 e Domingos às 18h00. TUCARENA – Teatro da PUC-SP. Rua Monte Alegre, 1024. (entrada pela Rua Bartira) Perdizes. Telefone: 3670-8453. Site: www.teatrotuca.com.br. Até 03 de abril.