Pelo chamado centro velho da cidade de São Paulo, muitos são os prédios cheios de história para contar, um deles ganha destaque para quem é e também para quem não é da cidade, ele já foi o edifício mais alto da cidade e de toda América Latina.
É claro, só podemos estar falando sobre o Edifício Martinelli, conhecido por todos cantos, quem é daqui, ou quem passa por ele, nota logo toda a sua elegância e suntuosidade. Um prédio com estilo eclético, inaugurado em 1929, mas que só realmente concluído em 1934.
O edifício Martinelli leva o nome de seu criador, Giuseppe Martinelli, um imigrante italiano que veio para a América em busca de prosperidade, e a encontrou. Giuseppe desejou um legado maior que seu trabalho, e por isso, decidiu erguer na cidade de São Paulo, um arranha-céu, numa época em que isso era um marco, e não era qualquer um, ele queria um prédio para ser seu e ser o maior da América Latina!
São Paulo não tinha nenhum edifício com aquelas proporções, com mais de 100 metros de altura e relativamente largo, o Martinelli foi alvo de muitos comentários, incluindo muita gente que achava que o prédio não era seguro. Para conter toda essa conversa, Giuseppe Martinelli decidiu construir um autentica vila italiana no topo do prédio, para ser a sua própria casa, atestando a segurança de sua obra.
A construção teve inicio em 1924, com um projeto do arquiteto húngaro, William Fillinger, a da Academia de Belas Artes de Viena, eram 12 andares em um dos pontos mais nobres na São Paulo daquela época, o terreno ficava entre as ruas São Bento, Libero Badaró e a Avenida São João.
Todo o cimento utilizado na construção veio da Suécia e da Noruega, Giuseppe Martinelli, nessa época já Comendador Martinelli, tinha uma companhia de importação, e trazia todo o material por meio de sua empresa. Mais de 600 operários trabalhavam na obra, e o próprio Giuseppe se metia a pedreiro, profissão que ele havia exercido em sua juventude na Itália.
Além dos operários, 90 artesãos espanhóis e italianos trabalhavam no acabamento, os detalhes da fachada do prédio foram desenhados pelos irmãos Lacombe, que também projetaram a entrada do túnel da avenida nove de julho. Os cálculos estruturais eram tão complexos que levaram a importação de uma máquina de calcular da Alemanha.
Em meio a tudo isso, Martinelli não parava de acrescentar andares a seu edifício, de 12 andares no início, ele passou a 20 em 1928, quando o próprio idealizador já havia assumido o projeto arquitetônico. Ao chegar a 24 andares, a prefeitura embargou a obra por não haver licença e desrespeitar as leis municipais vigentes, uma comissão técnica garantiu que o prédio era seguro, com isso, Martinelli, que desejava que seu prédio chegasse a 30 andares, construiu sua casa no topo do edifício.
Além da arquitetura belíssima e extremamente diferente de tudo em sua época, o Martinelli tinha ornamentação luxuosa, com portas de pinho de Riga, escadas de mármore carrara, espelhos, papel de parede e vidros vindos da Bélgica, louças sanitárias inglesas, elevadores suíços, revestimento em marmorite, molduras em gesso, pintura a óleo, reentrâncias para ventilação e iluminação.
Há três claras divisões em sua arquitetura, embasamento, corpo e coroamento. O embasamento é completamente revestido em granito vermelho, o corpo é pintado em tons de rosa e coberto de uma massa também cor de rosa, feita com mistura de vidro moído, cristal de rocha, areias e pó de mica, que permita que a fachada cintilasse na noite, e o coroamento com falsa mansarda de ardósia.
O edifício teve muitos inquilinos em sua era de glória, partidos políticos, sedes de clubes como a Portuguesa e o Palmeiras, sindicatos, restaurantes, boates, o cine Rosário, uma escola de dança, confeitarias e até mesmo o Hotel São Bento.
Giuseppe Martinelli, teve muitos problemas financeiros para colocar seu prédio em pé, da maneira como desejou, e foi forçado a vender seu prédio em 1934, para o governo da Itália. Em 1943, durante a II Guerra Mundial, o governo brasileiro declarou guerra ao eixo, e confiscou diversos bens, dentre eles, o edifício Martinelli, que passou a ser propriedade da União.
Após o fim da Guerra, São Paulo viveu uma explosão de crescimento, incluindo o crescimento imobiliário, o que fez com que muitos outros arranha-céus fossem construídos, em 1947 o Edifício Martinelli perdeu o título de prédio mais alto da cidade para seu vizinho, o edifício Banco do Estado.
Nas décadas de 1960 e 1970, o edifício Martinelli viveu anos de decadência, foi ocupado por famílias de baixa renda e virou palco de promiscuidade, com pilhas imensas de lixo nos poços de ventilação, abrigo de ladrões e cenário de crimes. Até que, em 1975, o prefeito Olavo Setúbal desapropriou o prédio, tendo que fazer uso do exército, e deu início a sua restauração.
Mais de 640 funcionários trabalharam sobre o comando do engenheiro Walter Merlo, que precisou substituir completamente do o sistema elétrico e hidráulico, instalou novos elevadores, e um moderno sistema de prevenção de incêndios, também limpou toda a fachada do prédio, devolvendo suas marcantes características.
O Martinelli foi reinaugurado em 1979 e abriga algumas repartições municipais, com as Secretarias Municipais de Habitação e Planejamento, as empresas Emurb e Cohab-SP, a sede do Sindicato dos Bancários de SP além de diversos estabelecimentos comerciais na parte térrea do edifício. Foi tombado pelo patrimônio histórico da cidade em 1992.
No 26º andar do prédio há um belíssimo terraço de onde se tem uma visão panorâmica da cidade de São Paulo, pode-se ver, por exemplo o Pico do Jaraguá, as antenas da Paulista, o Vale do Anhangabaú, e os milhares de prédios que compõe a paisagem urbana da cidade. Atualmente o mirante está fechado a visitação, mas esperamos que logo seja reaberto!
Passeie pelo centro de São Paulo e observe os belos prédios, o Martinelli é um deles, especial, cheio de história e muito famoso, mas há muito mais para ver e se encantar.
Serviço: Fica entre as ruas Libero Badaró, São Bento e a Avenida São João.