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O bairro da Liberdade: do Largo da Forca à Força sindical, uma história de transformações.

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A evolução do bairro da Liberdade já se confunde com a história de transformações do país e está ligada tanto à chegada dos japoneses, quanto aos demais que vieram posteriormente, em sua maioria também asiáticos.

De acordo com a Associação dos Lojistas da Liberdade, em 1968, na inauguração do Viaduto Osaka, o então prefeito Paulo Maluf sugeriu que a região passasse a ser conhecida como Bairro Oriental, já que coreanos e chineses faziam parte dos habitantes. Lanternas “suzurantô” foram instaladas nas principais ruas do bairro, como adorno turístico, característica que destaca suas ruas.

O nome Liberdade, porém, remonta a um passado anterior ao da imigração: ao da época da escravidão, quando o local era conhecido como Largo da Forca (ou Praça dos Enforcados).

No Brasil Império, de 1821 até meados de 1888, muitas vidas ali foram executadas; em sua maioria escravos fugitivos ou rebelados. O local era estrategicamente escolhido por sua proximidade com o Cemitério dos Aflitos, construído entre 1774-1789 para que escravos, indigentes, sentenciados e não-católicos fossem sepultados.
Das poucas histórias que sobraram dessa época, está a do soldado Francisco Xavier da Chagas, o Chaguinhas, condenado à morte por ter participado de uma rebelião que reivindicava salários atrasados, e considerado um dos primeiros mártires paulistanos. Sua história tornou-se conhecida, porque foram necessárias três tentativas antes da sua execução: na primeira tentativa, a corda da forca se rompeu; na segunda, a tira de couro também se partiu; sendo a terceira e última um golpe certeiro. Tal resistência garantiu sua fama, e em sua honra, ergueu-se no local a “Santa Cruz dos Enforcados”, que daria origem, numa travessa da Rua dos Estudantes (em frente à loja Tenmanya e muito próxima à Bakery Itiriki), à Capela Santa Cruz das Almas dos Enforcados.
Isolada, abandonada e singela, a capela destoa da arquitetura atual do bairro, e preserva a tradição de fiéis acenderem velas aos mortos. Vez ou outra, avista-se alguém de joelhos em frente à capela.

A mudança de nome de Praça dos Enforcados para Praça da Liberdade apresenta um significado social, religioso e filosófico: a liberdade, quando não atingida em vida, poderia ser conquistada com a morte.

Após a abolição da escravidão (Lei Áurea, 13 de maio de 1888), o incentivo à imigração foi uma das soluções encontradas pelo governo brasileiro para a manutenção da principal atividade econômica da época. De fora do país vieram trabalhadores que se tornaram colonos, a principal mão de obra a substituir o trabalho escravo nas fazendas de café, dentre eles os japoneses.

A Liberdade de hoje abriga, além de restaurantes e comércio refinados, diversos centros culturais, um completo Museu para contar a história da maior colônia nipônica do mundo: a de tantas famílias, que procuravam uma nova vida, no campo (café) ou até na cidade, onde acabavam trabalhando em marcenarias, se tornavam pintores ou até caseiros em residências brasileiras.

No sentido oposto ao da Praça da Liberdade (onde havia a forca), ali na mesma Rua Galvão Bueno, há outro prédio que se destaca: a sede da Força Sindical, onde trabalhadores se candidatam diariamente a novas oportunidades de trabalho e recebem apoio para suas causas, ironicamente muitas das quais semelhantes às que levaram o soldado Chaguinhas a ser executado na forca.

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