O primeiro casarão da Avenida Paulista foi construído próximo à Alameda Campinas e era propriedade do dinamarquês Adam Ditrik von Bülow. Hoje o local é ocupado pelo Edifício Pauliceia, um ícone da arquitetura moderna paulista.
O primeiro casarão da Avenida Paulista foi construído pelo empresário dinamarquês Adam Ditrik von Bülow e era localizado próximo da esquina da Alameda Campinas. Foi projetado pelo arquiteto Augusto Fried, que concebeu um amplo belvedere e uma torre bastante alta e imponente. O palacete foi, por muito tempo, o local mais elevado da avenida e, por isso, era utilizado como local para fotografar à distância os dois sentidos da Avenida Paulista.
Grande parte dessas fotografias era de autoria do célebre fotógrafo da época, Guilherme Gaensly, que dedicou sua carreira ao retrato e à documentação de locais públicos e propriedades particulares. Iniciou seu trabalho na Bahia, onde esteve até meados da década de 1880, e posteriormente em São Paulo, entre os anos 1895 e 1925, onde se tornou um dos mais ativos fotógrafos da elite e um reconhecido autor de cartões-postais, documentando as principais áreas urbanas e edificações paulistanas. A mansão de Von Bülow era um de seus pontos prediletos para fotografar a Avenida Paulista.
O empresário Von Bülow, proprietário do palacete, chegou a ser vice-cônsul da Dinamarca no Brasil, mas antes, atuou em diversos segmentos: constituiu uma empresa de importação e exportação – vendia café e comprava lúpulo, cevada e equipamentos. Além disso, depois de uma investida financeira, tonou-se um dos acionistas da fábrica de bebidas Companhia Antarctica Paulista. A empresa não existe mais, foi comprada pela Ambev, mas a marca da cerveja continua forte até hoje no mercado.
Uma curiosidade da época: vejam abaixo os anúncios da cerveja Antarctica no período da administração de Von Bülow, peças veiculadas em 1905/1907 – hoje esses anúncios jamais seriam publicados, por conta da mensagem que veiculam! Alguém pode supor uma senhora dando cerveja a um bebê? E jovens adolescentes negros bebendo cerveja? (É interessante lembrar que a libertação dos escravos tinha sido recém realizada no Brasil. Qual relação pode ter tido entre um fato e o outro?? Para pensar…)
Essa questão da cerveja faz lembrar algo da atualidade. Perto daquele lugar onde foi construído o palacete, um século depois se concentrariam muitos bares com mesas nas calçadas, que borbulham de gente: o local ficou conhecido como a prainha paulistana da Paulista. Está na origem…rs,rs,rs
Localizado ao lado do Gazeta, hoje o endereço do palacete é ocupado pelo Edifício Pauliceia, construído entre 1956 e 1959 e recentemente tombado: o prédio residencial é considerado um exemplo da arquitetura moderna paulista. O projeto é dos arquitetos Jacques Pilon e Gian Carlo Gasperini.
O edifício possui 23 andares, e é parte de um conjunto composto por dois edifícios que ocupam uma grande área com frente para as duas ruas – a Avenida Paulista e a Rua São Carlos do Pinhal.
À época de seu tombamento, em maio de 2010, o jornal Folha de S. Paulo publicou que “os prédios sintetizam características fundamentais da arquitetura moderna: fachada com pastilhas e venezianas; marquises e pilotis (tipo de coluna) no térreo, que, no projeto original, era totalmente aberto tanto para a Paulista quanto para a rua São Carlos do Pinhal”.
“Segundo o professor de história da arquitetura, Hugo Segawa, da FAU-USP, os dois edifícios simbolizam um período de transição: foram uns dos primeiros prédios residenciais em uma Avenida Paulista ainda ocupada predominantemente por casarões. O professor diz: “Naquele momento, ele contrastava com a paisagem de casarões. Hoje, chama atenção pela discrição, mas se destaca frente aos edifícios corporativos de vidro”.
O primeiro palacete e um dos primeiros edifícios da Avenida Paulista. É a história sendo revisitada, acontecendo e sendo contada à seu tempo….Duas edificações importantes da paisagem urbana paulista, que se complementam e constroem uma identidade da cidade.
Acompanhem o próximo post com uma nova história de um dos casarões da Paulista do século XX e de sucessor no século XXI.
Moema Calazans
Adorei. Ansiosa pela história do Palacete dos Matarazzo.
infelismente
Cristiane Alcântara: veja o que falamos !!
Débora, logo, logo teremos a história dos Matarazzo.
Em Canela ainda existe um palacete centenário assim….
Fabrício, que bacana! Podemos levantar a história dele!
Delícia de texto. Muito legal se aprofundar na história da nossa cidade.
Saiu uma família. Entraram 500.
Pena apenas pela arquitetura perdida.
Mas melhor o prédio.
Wilmer, é verdade, como também acontece, de forma mais esparsa, em outras áreas de São Paulo e, assim, vão se construindo “camadas”ou ciclos de história paulistana.
é a vida que segue…
O prédio é tombado, mas e os casarões antigos da Avenida Paulista? Eles têm/tinham mais história, o valor histórico deles era muito importante! Mas eles puderam ser derrubados.
É verdade, na época não tínhamos nenhuma regulamentação para preservação dos imóveis. Infelizmente.