O quarto post sobre os casarões antigos da Avenida Paulista apresenta a mansão do alemão Moritz Rothschild. Inaugurado em 1910, o casarão foi construído onde, atualmente, a Avenida Paulista cruza com a Rua da Consolação. A residência da família permaneceu ali por mais de meio século.
É muito gratificante e enriquecedor quando estabelecemos contato com descendentes das famílias que residiram na Paulista. Neste caso, pudemos trocar informações com a neta de Rothschild, a Sandra que, gentilmente atualizou e corrigiu algumas informações publicadas na versão anterior deste texto. Revisado, a história apresenta novas informações e agora reflete objetivamente a realidade da época.
Agradecemos muito a contribuição de Sandra.
Moritz Rothschild nasceu em Pforzheim, cidade próxima a Stuttgart, no sul da Alemanha, em fevereiro de 1870. Veio jovem para o Brasil e depois de passar um período no Rio de Janeiro, mudou-se para São Paulo onde se fixou. Em setembro de 1905 tornou-se sócio proprietário de uma gráfica que se tornou uma das mais importantes da época: a Typographia Brazil Rothschild & Co.
Seu compatriota Carlos Gerke, já era proprietário da tipografia, mas ao se associar ela recebeu este nome. O seu primeiro endereço era na Rua São Bento, passando depois para Rua 15 de Novembro. Foi extensa sua produção de mapas e cartões postais, reconhecida mundialmente e que vale ser relembrada aqui.
Entre 1911 e 1913 editou duas longas e célebres séries de cartões postais, alguns colorizados, na técnica conhecida como cromolitografia. As séries apresentavam a identificação Typ. Brazil, Rothschild & Co. A série de São Paulo contava com mais de quarenta vistas da cidade e a de Santos mostrava panorâmicas de praias de Guarujá e Santos, além do centro urbano e o porto. Publicou também postais de plantações de café do interior paulista.
Além nos cartões postais, a tipografia imprimiu uma série de livros especializados na área de medicina, história, geografia, etc. Em especial, para a Comissão Geológica e Geográfica do Estado de São Paulo publicou diversos, mapas e fotografias, incluídos muitos mapas do litoral paulista e estudos sobre o saneamento na cidade.
Interessante que em Santos existe um prédio do início do século passado onde se estabeleceu uma tipografia com mesmo nome: Tiphographia Brasil e, por coincidência, também se localizava na Rua XV de novembro. O fato já causou confusão, com mesmo nome e endereço, essa empresa não pertencia ao Sr. Moritz Rothschild.
Até hoje o prédio da tipografia no centro de Santos está preservado e, por 6 anos, foi uma balada noturna, que foi fechada por não conseguir cumprir as determinações de preservação do edifício, que realmente é muito belo, vejam abaixo e deve ser conservado.
Segundo o livro Lembranças de São Paulo dos autores Carlos Cornejo e João Emilio Gerodetti, Rothschild era um germanófilo convicto, e ajudou no esforço bélico alemão na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, por isso, foi incluído em uma lista negra do governo brasileiro, sendo impedido de realizar atividades comerciais e tendo que se ausentar do país.
Depois da guerra, voltou ao Brasil e retomou suas atividades na sua tipografia. Em 1920 casou- se com Ema Goldschmidt e teve 2 filhas, Hanna Augusta e Ellen Marion. Neste período, residiu no casarão da Avenida Paulista e, após uma viagem à Alemanha, em 1923, naturalizou-se brasileiro, mudando seu nome para Maurício Rothschild.
Sobre o casarão sabemos que em 1910 foi construída uma residência térrea e, em uma reforma nos anos 1920 ganhou mais um andar, ficando como aparece na foto acima. A neta do Sr. Rothschild disse: “foi aumentada depois que minha tia nasceu e, posteriormente, o jardim de inverno foi envidraçado como eu o conheci”.
O Sr. Rothschild veio a falecer em novembro de 1933 e sua esposa continuou vivendo no casarão até sua morte, em 1985. Sobre esse período mais recente, sua neta Sandra compartilhou conosco algumas lembranças em um lindo texto que transcrevemos abaixo:
Minhas lembranças das minhas vindas mensais de Ribeirão Preto a São Paulo, remontam a Avenida Paulista, onde minha avó morava. Meus avôs não foram barões do café, isto é um mito de quem tinha casarão na Paulista era Barão do Café. Mito a parte eles tinham uma casa na Avenida Paulista. Meus avós maternos eram judeus alemães. Meu avô veio para o Brasil em fins de 1800, enviado por uma empresa alemã e minha avó em 1920 após o casamento.
Após certo tempo, meu avô se estabeleceu como tipógrafo, e entrou como sócio da Typographia Brasil, na Rua XV de novembro, no centro de São Paulo mais tarde Typographia Rothschild & Loureiro, e as oficinas eram na Rua Brigadeiro Tobias. Foi ele o criador da “Paulistinha”, a famosa agenda, após muitos anos vendida à Pombo.
Não conheci meu avô, ele morreu quando minha mãe tinha apenas 11 anos. Minha avó Ema Goldschmidt, nascida em Hamburgo veio em 1920, foi trazida pelo meu avô após o casamento. Aqui tiveram duas filhas, Hanna Augusta, minha mãe (1922-2009), e minha tia Ellen Marion (1924-2014), ambas tinham orgulho de dizer que nasceram na casa da Avenida Paulista.
Mais recentemente, iniciamos um estudo genealógico onde aprendi mais sobre as origens. Três dos 09 irmãos do meu avô vieram para São Paulo: Julio, Emilio e Theodoro, que foi seu sócio na Typographia Brazil. Os quatro estão enterrados no Cemitério Israelita de Vila Mariana, e lembro da minha mãe sempre dizer que esses eram os tios dela, que ela pouco conheceu.
Em 1985, minha avó morreu, e o que fazer com o casarão da Paulista? Juntamente com o casarão da família Camasmie, virou estacionamento, e posteriormente desapropriado pelo Metro e acabou sendo o canteiro de obras do Metrô Consolação. Sempre que passo na esquina da Paulista com a Consolação, muitas lembranças me vêm à mente.
No muro que separa o Prédio do Trade Center Eloy Chaves do terreno, e no fundo tem um Ficus que foi preservado pelo metro. E na calçada existe uma pitangueira. Seria a da casa da minha avó?
A estação Consolação do metro foi inaugurada em 25 de janeiro de 1991, data da comemoração do aniversário da cidade de São Paulo. É uma das estações da Linha 2 – Verde do Metrô de São Paulo e fica localizada na Avenida Paulista, na altura do número 2.455, exatamente onde no início do século passado foi construída a residência do Sr. Moritz Rothschild.
Estação subterrânea, com área construída de 10. 270 metros quadrados, composta por mezanino de distribuição e plataforma central. A sua capacidade é de até vinte mil passageiros por dia. Possui acesso para pessoas portadoras de deficiência. Desde 21 de junho de 2010, a estação Consolação faz integração com a Estação Paulista da Linha 4 – Amarela, quando as viagens da Linha Amarela passaram a ser tarifadas. A história do metro e da linha verde pode ser conhecida aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=PH0fMrR5vuA
Agradecemos a Sandra pela participação especial nesta semana. Até a próxima semana com novas histórias na Série Avenida Paulista!
Gostei! Muito interessante o paralelo entre as atividades de distintas épocas e o que representaram na história os proprietários das mansões e os homenageados nos nomes dos edifícios que ocupam os respectivos terrenos. Eu não sabia desse apreço do Sr. Rothschild pelas águas do litoral paulista. O que temos ao longo da atual Rodovia Rio-Santos é mesmo um tesouro e que bom ter sido relativamente bem preservado.
Esta sua série está me fazendo lembrar dos versos da canção “Paulista”, de autoria de Eduardo Gudin, sucesso na voz aveludada de Leila Pinheiro: “Se a avenida exilou seus casarões, quem reconstruiria nossas ilusões?”.
Seus leitores aguardam os próximos capítulos da história das propriedades do século passado e retrasado no alto da mata do Caaguaçu.
Carlos, muito obrigada pelo seu comentário com tantas informações bacanas, acho que de tão rico está mais para um texto para ser postado.
Carlos, muito obrigada pelo seu comentário com tantas informações bacanas, acho que de tão rico está mais para um texto para ser postado.
Muito bacana a associação com o significado das águas nestes lugares em momento que precisamos economizar. Parabéns!
Obrigado. A intenção era essa: lembrar da questão da água, que hoje nos é preciosa.
Obrigado. A intenção era essa: lembrar da questão da água, que hoje nos é preciosa.
Muito bacana a associação com o significado das águas nestes lugares em momento que precisamos economizar. Parabéns!
Adoro história. Essa série me emociona.
Debora, são comentários como o seu que motivam a gente para continuar escrevendo…
Débora, são comentários como o seu que motivam a gente para continuar escrevendo…
Passei minha infância aqui. Com Dona Erna….
Vi seu comentário e me chamou a atenção pq só quem conheceu sabe que é onde é o terreno do metro. Voce é o neto da Tia Alice? Sou Sandra, neta da Dona Erna.
Fiz outras correções também
Tem um erro….a casa nao era no terreno do prédio. O predio fica ao lado de onde ficava a casa, que foi desapropriada para fazer o metro linha verde e onde hoje é um respiro do metro
Lucio, muito obrigada por sua leitura e correção. Eu escrevi o texto e vou atualizá-lo conforme sua observação. Você poderia me informar o número correto da casa? Seria muito rico se pudesse dar qualquer tipo de informação adicional que contribuísse com o resgate da história da casa. Agradeço, feliz 2016.
Sr. Lucio, como vai?
Aguardei sua resposta, mas também imaginei que não quisesse se comunicar por aqui. Por isso, se possível, peço a gentileza que me escreva neste e-mail luciana@spcity.com.br Gostaria muito de esclarecer essa dúvida, pois não consegui localizar o respiro do metrô. Muitíssimo obrigada. Luciana
Este texto foi atualizado em 08 de maio de 2016
Nnmn
Nnnn É bom ou Ruim???
Marina Roitman Rothschild Baumel
vixi amiga ,não é nosso nao….
Kkkkkk
Abraham Ferreira foda
Acho uma pena São Paulo não preservar absolutamente nada de sua memória, tudo eles destroem, tinha prédios, casarões belíssimos.
Que pena…o que vai sobrar da “velha SP” para as próximas gerações?!? :'(
Monique, é uma pena. Vai sobrar imagens e histórias, como esta série.
São Paulo tem uma história riquíssima, pra mim q moro no interior fica até difícil as vezes imaginar como tdo era em tempos idos, pois conhreço apenas uma pequena parte da zona leste onde moram os parentes de minha mãe, mais sempre vale apena aprender um pouco mais da cidade mais linda do país
Bruno Guedes C
Teriam alguma ligação com o proprietário da Brindes Pombo, sr.Ernesto Rotschild ?
As imagens dos postais foram retiradas do meu blog. (www.sampahistorica.wordpress.com)
A matéria está sensacional, mas acho que as fontes de onde vieram as imagens deveriam ser creditadas.
Um abraço.
Olá Felipe, muito obrigada. Corrigimos colocando na legenda do último postal que as imagens foram retiradas do seu blog, Sampa Histórica.