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Série Avenida Paulista: da família Abdalla ao Paulista Corporate

Esta semana apresentaremos a mansão de Assad Abdalla, que se localizava na Avenida Paulista, 65 na numeração antiga, ao lado do Belvedere, hoje o MASP – Museu de Arte de São Paulo, entrecortados pela Rua Plínio Figueiredo.

A propriedade inicial dessa residência era do Sr. Feliciano Lebre, que contamos a história em outro texto publicado na Série Avenida Paulista, e pode ser conferido aqui. Pressupomos que por volta do ano de 1927, o Sr. Feliciano tenha vendido a casa ao Sr. Assad Abdalla.

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A casa do Sr. Assad Abdall, que ficava ao lado do MASP. Nesta foto, vemos a Rua Plínio Figueiredo e ao lado a construção do museu.

Outra informação interessante é que o Sr. Abdalla era primo e sócio do Sr. Nagib Salem, que já morava na Paulista. Aliás, durante toda produção da Série Avenida Paulista fomos verificando como existem laços de parentesco entre as famílias que lá residiam. Por exemplo, a família do Sr. Nagib Salem (a história pode ser lida aqui) se ligou a família Calfat (vejam aqui) por meio do casamento de um de seus filhos.

Vamos ao Sr. Assad Abdalla. Ele nasceu em Homs na Síria, em 23 de março de 1870, filho de Abdalla Haddad e Zahra Salem, era o quinto filho entre seis irmãos. De família modesta, só frequentou um ano de escola, pois teve que começar a trabalhar muito cedo. Foi aprendiz de sapateiro, tecelão, e aos 15 anos começou a calçar ruas, tornando-se feitor da prefeitura.

O site da loja Doural, pertencente à sua família conta que o Sr Assad:

Em 1895, aos 25 anos, devido à difícil situação econômica em seu país, emigrou para São Paulo com seu primo Nagib Salem e outros conterrâneos. Começou a mascatear, por conta de patrícios, carregando nas costas a grande caixa, cheia de armarinhos, chamando os fregueses ao som da matraca pelas ruas dos bairros da Penha, de Santana e arredores.

Logo depois, Assad e Nagib já trabalhavam por conta própria. Nesse período, as atividades comerciais acabaram se concentrando na região da Rua 25 de Março, que recebeu imigrantes de várias nacionalidades que começaram a vida no comércio. Conforme o site da loja:

 A escolha do comércio de tecidos e armarinhos deu-se devido a menor concorrência. Homem essencialmente prático e objetivo, Assad decide então em 1900, (…) próximo de completar seu trigésimo aniversário, constituir sua primeira empresa.  (…) O número 141 da Rua 25 de março tornou-se famoso, pois todos os artigos, como algodãozinho, o alvejado, levavam o número da loja e a marca tornou-se conhecida por todo o Brasil.

A loja Assad Abdalla & Nagib Salem – AA&NS era dirigida pelos dois primos, Abdalla comprava mercadorias, ia para o Rio de Janeiro, que era o centro comercial do país e, algumas vezes, para a Europa para comprar e importar produtos, e Nagib Salem administrava a loja e cuidava das vendas. Em 1932 chegou ao fim a sociedade de longos anos entre os primos, sendo que cada um assumiu negócios próprios com os filhos.

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A loja de Assad Abdalla & Nagib Salem,  com a inscrição AA&NS acima das janelas. Atualmente, no número 595 da Rua 25 de março, encontra-se a loja Doural, ainda pertencente à família.

A empresa passou a ser chamada de “Assad Abdalla e Filhos”. Ao longo dos anos, foi ampliando sua atuação para outros segmentos. A família fundou a Indústria York S.A. que produzia produtos cirúrgicos e plásticos que foi, em 1977, unida à têxtil Assad Abdalla S.A. (TAASA) formando o Grupo York S.A. Indústria e Comércio.

Naquela época da sociedade, os primos eram grandes investidores, metade dos lucros da loja eram destinados aos imóveis. Eles adquiriram vários terrenos no Tatuapé, que à época era a periferia de São Paulo, área onde futuramente ruas seriam inauguradas, como a Rua São Jorge e várias outras próximas. Há registros de imóveis em nome de Assad Abdalla nas Ruas 25 de março, Celso Garcia, Rebouças, Consolação, Santa Ifigênia, Penha, entre outras.

Abdalla costumava dizer que para saber como São Paulo seria dali 30 anos, era preciso olhar atrás 30 anos. Não poderia imaginar que anos depois iria construir a praça de esporte do Parque São Jorge, e que a venderia ao clube mais popular do Brasil: o Corinthians.

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Aos 33 anos, casou-se, em São Paulo, com a prima Corgie Hadad, de 22 anos. Segundo o site da loja, Assad sempre dizia que devia a esposa grande parte de seu sucesso. Casados em 1903, o casal teve 10 filhos: Nabiha, Nabih, Wagih, Wagiha, Josephina, Malvina, Helena, Rosinha, Ernesto e Odette.

Pelo menos até 1920, Assad viveu na Rua 25 de março, 141 nos altos de sua loja. A partir de 1927 há informações de sua residência como sendo na Avenida Paulista. Não há registros ou dados sobre sua construção, nem mesmo fotografias. Conseguimos imagens de pedaços da casa em fotografias relativas à construção do MASP.

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A única história relacionada à mansão que conseguimos localizar foi a ocorrência de um furto dentro dela, ocorrido em 1936, de um relógio de platina cravejado de brilhantes que pertencia a Josephina, filha de Abdalla. A investigação da polícia chegou até a empregada doméstica da residência, Sra. Helena Sovientake, que, segundo as autoridades, escondeu o relógio no vaso sanitário de sua casa em Osasco.  Vejam só!!!

O Sr. Assad Abdalla morreu no dia 21 de abril de 1950 em São Paulo, a cidade que o recebeu e que considerou sua terra, depois que ser naturalizou brasileiro. No lugar da casa, ergueu-se o Paulista Corporate, edifício entregue em 2012, agora no endereço Av. Paulista, 1636.

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Lançado pela Gafisa, o edifício tem 17 pavimentos, com áreas para escritórios de 424 a 912 m², podendo receber até 10 conjuntos por andar. Para se ter uma ideia, um escritório de 33 m², está sendo vendido por R$ 650 mil, o aluguel é de R$ 2.500,00. O condomínio é de R$ 570 e o IPTU é de R$ 168. O que acham?

O planejamento da construção começou em 2003, parece que ficou, por algum motivo, algum tempo parado. Vemos, na imagem de 2009, que a construção estava de vento em popa, mesmo com o Ministério Público Federal tentando embargar a obra porque considerava que ela, com mais de 70 metros de altura, afetaria a paisagem no entorno do Masp.

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Construção do Paulista Corporate em 2009.

O portal G1, publicou em maio de 2010, que o

“órgão municipal de proteção ao patrimônio, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), aprovou as obras do Paulista Corporate, mas definiu que o limite de 70,55 metros como altura máxima do edifício. No projeto executivo do prédio, no entanto, consta uma altura seis metros acima do permitido”.

Em 2014, o jornal do Estado de São Paulo, publicou a seguinte informação sobre o prédio:

“Houve uma preocupação com uma arquitetura sóbria, para não conflitar com o Masp, que é o grande elemento ali”, disse o arquiteto Luiz Felipe Aflalo Herman, um dos responsáveis pelo projeto. Deve ser por isso que originalmente o edifício tinha 19 andares e, na entrega, apenas 17 andares. De qualquer forma nada adiantou, o edifício foi entregue.

Até hoje estão disponíveis na internet as imagens em computação gráfica mostradas antes do lançamento, ainda no período de vendas dos escritórios.

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Imagens do projeto em computação gráfica. Fotos; Gafisa/ Aflalo/Gasperini Arquitetos

Antes dessa data não saberia dizer se ainda estava lá a casa dos Abdalla ou se houve outra construção entre a mansão e o edifício atual? Entre a década de 1930 e o inicio dos anos 2003 se passou um extenso período. Alguém, talvez da família Abdalla, saberia dizer? Enquanto isso seguimos a nossa pesquisa. Até a próxima semana.

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

10 Comentários

  • Muito boa essa reportagem. Gostei mais ainda de saber que fiz parte disso, ja q trabalho em um escritório de concepção e cálculo estrutural e fizemos o Paulista Corporate. Parabéns pela reportagem.

    • Então Luciana Cotrim, eu fiz bastante coisa na parte de desenho, não sei seu eu poderia falar sobre isso. Mas caso tenha mais interesse sobre ele me diga o q gostaria de saber, quem sabe o escritório que eu trabalho aceitaria fazer uma reportagem sobre a engenharia do Paulista Corporate.

    • Julio, muiro obrigada. Existe a possibilidade dos textos da Série Avenida Paulista virarem um livro. Se isso acontecer, quero sim conversar com eles. Para este momento, gostaria de saber – e não sei se saberão dizer – é o que tinha antes da construção do Edifício Paulista Corporate. Será que era a casa que menciono no texto? Não sei…

  • Olha, gosto dessa explanação sobre os lugares!!! Está de parabéns. Que eu me lembre, desde os anos 80 (87, 88 por ai) a casa já não existia mais, já era o estacionamento e havia vigas de construção parada, como se houvesse um projeto abortado… E isso ficou até o desembargo da construção do Corporate então não sei se era o mesmo projeto ou não.

  • Luciana eu passo por esse lado da calçada da Paulista desde 1975, e lembro que sempre foi um estacionamento possivelmente para facilitar o acesso ao Masp, não sei quando foi a demolição do casarão mas foi antes desse ano.

    • Olá, Marcelo. O texto fala que foi demolido por volta de 1970, realmente era um estacionamento, depois em 2003 foi fechado para construção do prédio. Abs, Luciana

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