CURIOSIDADES

Série Avenida Paulista: da mansão de Cardoso de Almeida ao prédio do Banco PanAmeriano do Grupo Silvio Santos.

By Luciana Cotrim

August 20, 2023

Nosso próximo casarão da série Avenida Paulista é a residência da família Cardoso de Almeida, projetada pelo escritório Ramos de Azevedo e erguida em 1915. A localização da mansão era na atual esquina da Avenida Paulista com a Rua Haddock Lobo.

Residência de José Cardoso de Almeida, localizada na Av. Paulista com a Rua Haddock Lobo.

Cardoso de Almeida, que emprestou seu nome a uma rua conhecida no bairro de Perdizes, foi um expoente político do começo do século passado. Em sua carreira foi deputado estadual e federal, em várias ocasiões, secretário de Estado – da Justiça e do Interior – e chefe da polícia paulista. Nasceu em Botucatu, filho de Antônio Joaquim Cardoso de Almeida, que foi líder político da região e prefeito municipal.

Seu pai, um português, foi casado com Maria Pulqueria do Amaral Barros e teve 4 filhos: Antonio, José, Custodio e Armindo.

Antonio, o mais velho, foi deputado estadual e prefeito de Botucatu por 8 vezes. Como empresário, foi fundador da CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz e banqueiro, fazendeiro que introduziu o café amarelo em Botucatu.

José Cardoso de Almeida, o segundo filho, foi presidente do Branco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Teve uma vasta atuação política como deputado federal, por várias vezes, secretário de estado da educação, da fazenda, da justiça, da agricultura. Foi ainda ministro da fazenda, líder do presidente Washington Luiz e líder do governo.

Os quatro irmãos eram sócios entre si. Além da CPFL, também fundaram a Companhia Paulista de Seguros.

Nascido em 8 de setembro de 1867, José Cardoso de Almeida passou a infância em Botucatu.

Em São Paulo, depois que se formou na Faculdade de Direito em 1890, abriu um escritório de advocacia. Foi eleito e reeleito deputado estadual pela cidade e criou a Força Pública – a polícia estadual, onde foi nomeado chefe de Polícia do Estado de São Paulo no primeiro governo de Rodrigues Alves.

Neste período, elaborou um documento analítico que propunha a criação de um plano de carreira profissional para a polícia paulista, acreditava que a melhoria só seria possível com um plano que garantisse acesso progressivo aos diversos cargos pelos oficiais. A partir deste estudo surgiu uma ampla proposta de reformulação da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Será que surtiu efeito? Parece que não.

Cardoso de Almeida também foi responsável pela implementação do projeto da Pinacoteca do Estado que solicitou à direção do Liceu de Artes e Ofícios a cessão de um salão em seu edifício para “estabelecer uma galeria de pintura com quadros existentes no Museu do Estado e com os que forem adquiridos”.  Para lá foram um conjunto de 26 pinturas, entre retratos, paisagens e naturezas-mortas, de autores como Almeida Júnior, Antônio Parreiras, Oscar Pereira da Silva, Benedito Calixto, Eliseu Visconti e Pedro Weingärtner, entre outros.

Liceu de Artes e Ofícios em 1905

Ramos de Azevedo,  famoso arquiteto que projetou tantas obras que hoje fazem parte da memória desta cidade, tornou-se responsável pela gestão da pinacoteca. Para receber as obras, o arquiteto projetou alterações no terceiro andar do edifício, em consonância com os padrões museológicos da época. Uma grande claraboia retangular foi instalada com o objetivo de obter claridade regulada por véus transparentes, evitando que os quadros recebessem iluminação direta das janelas.

José foi casado com Ismênia Ramos de Azevedo, irmã de Ramos de Azevedo, portanto os dois eram cunhados”.  Da união, teve dois filhos: Mario e Lauro Cardoso de Almeida.

Quadro com a figura de José Cardoso de Almeida, 1925. Óleo sobre tela de Oscar Pereira da Silva, pertencente à Secretaria Estadual da Educação. Foto: Dornicke

Em 1902 foi nomeado diretor do Banco de Crédito Real, após deixar o cargo de chefe de Polícia. Era um administrador respeitado, tanto no trato de empresas privadas como de órgãos públicos e, mais tarde, em 1918, assumiu a presidência do Banco do Brasil.

Por conta das agitações revolucionárias nas forças armadas (que resultaram em um golpe de Estado) em São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, como deputado federal, em maio de 1931, Cardoso de Almeida apresentou o Projeto de Lei nº 293/30, que permitia ao Presidente da República Washington Luís decretar estado de sítio em vários Estados e no Distrito Federal.

Todo o esforço foi em vão, pois a revolução foi vitoriosa. Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder. Com a vitória dos revolucionários, todos os órgãos legislativos do país foram extintos e Cardoso de Almeida foi exilado na Europa.

Aqui em São Paulo, uma rua foi batizada com seu nome, já em sua cidade natal, emprestou seu nome a Escola Municipal Dr. Cardoso de Almeida, a qual ajudou a construir. Em 1897, a bela edificação foi inaugurada, com o prédio principal e os dois pavilhões laterais, independentes, que receberam de Victor Dubugras o mesmo tratamento, conferindo ao conjunto uma composição harmoniosa. Vejam que linda construção de época.

Foto de 1933 da Escola Cardoso de Almeida, em Botucatu.

No lugar da mansão de Cardoso de Almeida, atualmente está localizado o edifício comercial Oscar Americano. O prédio foi projetado em 1968 pelo arquiteto Sidonio Porto, do escritório Sidonio Porto Arquitetos Associados. Com 16 andares, a construção foi entregue em 1975. Marco da arquitetura moderna paulistana, o edifício Oscar Americano surgiu como sede da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), uma das maiores empreiteiras de obras públicas do país, fundada pelo próprio Oscar Americano, posteriormente incorporada à Odebrecht (Aquela mesma, nossa conhecida da Lava-Jato!!!).

Edifício Oscar Americano, antes do processo de retrofit.

Em 2012, o edifício foi revitalizado, com a técnica chamada de retrofit. A técnica garante ainda que o empreendimento não perca sua identidade histórica.  Coincidentemente, ou nem tanto assim, a reforma também foi realizada pelo escritório de Sidonio Porto, que disse que “o projeto de retrofit prevê que o prédio recupere suas características arquitetônicas originais“.

Segundo o arquiteto, na época, a opção foi pela não utilização de placas de vidro na fachada, fato que gerou a busca de alternativas para a questão da temperatura no edifício. Segundo ele, a solução desenvolvida para a fachada controlava a entrada de luz e reduzia a transmissão de calor intenso por meio de janelas com vidros duplos e persianas internas.

Requalificação do Edifício Oscar Americano, em 2012. Foto:Pitanga Comunicação

Desde os anos 2000 o edifício era ocupado pelo Banco PanAmericano, do Grupo Silvio Santos. A instituição financeira fez muito sucesso tornando-se uma das principais instituições de crédito voltadas para o consumidor de baixa renda: a rede, que tinha apenas 50 agências no final de 2002, chegou perto de 200 unidades em 2007. Seu lucro se multiplicou por 5 em apenas dois anos.

O crescimento foi tão vertiginoso que, em 2009, o Banco Panamericano assinou como patrocinador do Corinthians na temporada, estampando seu logotipo no uniforme do time, que foi vencedor no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil.

Mas, no dia 8 de novembro de 2010, Silvio Santos anunciou um empréstimo de 2,5 bilhões de reais para cobrir uma fraude contábil nos caixas do Banco PanAmericano. Foi o começo do fim!

O rombo aconteceu porque o banco teria vendido grande parte de sua carteira de crédito a outros bancos, sem dar baixa destas transações em sua contabilidade, ou seja, era como se contasse com um dinheiro que não existia mais. A instituição foi vendida ao BTG Pactual, banco de investimentos de André Esteves.

Banco PanAmericano, do Grupo Silvio Santos, quando ocupava o prédio Oscar Americano, na Avenida Paulista. Foto: Marcelo Min

Em maio de 2013, a revista Veja publicou o seguinte texto “um edifício localizado na Avenida Paulista com 5.600 metros quadrados para escritórios, em dezesseis andares, três subsolos e heliponto foi colocado no mercado para locação. De quebra, quem disser “estou certo disso” e fechar o contrato vai virar locatário do apresentador Silvio Santos. O imóvel, erguido em 1968, era a sede do Banco PanAmericano (rebatizado de Pan), vendido por 450 milhões de reais ao BTG Pactual após um rombo de 4 bilhões causado por má administração. A equipe do Pan deixará o espigão em julho, quando o novo inquilino poderá ocupá-lo. O interessado deverá desembolsar o equivalente a 80.000 Tele Senas por mês: 560 000 reais”. Até hoje, prédio do banco de Silvio Santos ainda está para alugar!!!

Edifício Oscar Americano, colocado para locação após saída do Banco PanAmericano. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

 

Concluímos que tudo é uma questão de crédito, tanto no caso de Cardoso de Almeida, que foi diretor do  Banco de Crédito Real e presidente do Banco do Brasil, e acabou desacreditado e exilado do Brasil, como no de Oscar Americano, prédio que sediava a CBPO, que foi vendida para a Odebrecht e, depois, recebeu o Banco PanAmericano, ambas as empresas ficaram sem crédito no mercado.  

O que será que nos aguarda a próxima história da série Avenida Paulista???