O ano de 2015 se encerra de forma otimista para os ciclistas paulistanos, com infraestrutura crescente para o uso da bicicleta tanto em áreas centrais como periféricas. E a principal conquista para essa nova alternativa de transporte foi a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista que trouxe muito mais que melhorias na mobilidade.
Com cerca de 20 milhões de habitantes (segundo o IBGE) na área metropolitana, São Paulo enfrenta enormes desafios urbanos, entre eles a mobilidade. Assim como é comum entre as cidades brasileiras, São Paulo também é prioritariamente rodoviarista sendo os principais meios de transporte o ônibus, o metrô e o automóvel. Como dito pela urbanista e professora da USP Raquel Rolnik no documentário “Bikes vs Cars” (Direção de Fredrik Gertten, 2015), a saturação do trânsito de automóveis levou a necessidade de uma alternativa para a mobilidade e abriu espaço para diferentes meios de transporte, como a bicicleta. O filme mostra diferentes pontos de vista sobre a trânsição de cidades focadas no uso do carro para cidades com maior variedade de meios de transporte.
É interessante o fato do filme mostrar muito da realidade dos ciclistas paulistanos no ano de 2014 e ver que muitas das demandas mencionadas começaram a ser atendidas em 2015. O uso da bicicleta para transporte faz parte de um processo gradual ainda inicial na cidade de São Paulo. Inicialmente, o uso das bicicletas era quase exclusivamente para lazer em parques e nas faixas exclusivas dominicais. E cada vez mais, a bicicleta é incluída no planejamento de transportes da cidade. Entre 2014 e 2015, a rede de ciclovias e ciclofaixas foi ampliada para cerca de 360 km (segundo a Prefeitura de São Paulo).
Como a construção das novas faixas para bicicletas é realizada em detrimento de outros espaços da rua, geralmente as faixas de automóveis. Isso mostra que, além da mobilidade, outras questões também são levantadas a partir do crescimento de meios alternativos de transporte, como os usos da rua, o compartilhamento do espaço e as prioridades viárias. É inevitável que alguns se sintam prejudicados com mudanças e que, consequentemente, um debate seja iniciado. É necessário, então, um avanço na educação no trânsito já que a dinâmica viária depende, principalmente, do comportamento das pessoas nas ruas.
O evento mais significativo para a conquista do espaço cicloviário na cidade foi a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista, em junho de 2015. Foi num domingo e a avenida estava aberta exclusivamente para bicicletas e pedestres. Desde então, salvo algumas exceções, a abertura é repetida semanalmente e todos os domingos a avenida é ocupada por pessoas realizando atividades recreativas e esportivas. A nova ciclovia e a abertura da avenida aos domingo não gerou mudanças somente na mobilidade mas também na relação das pessoas com a cidade e na variedade de usos da rua.
Outro argumento a favor dos novos modais de transporte tem base no discurso da Helle Søholt (sócia do escritório Gehl Architects) no TedxFMUSP 2012, que levantou a idéia de que as pessoas utilizam o meio de transporte que for mais conveniente para o cotidiano delas. E não o meio de transporte mais amigável para o meio ambiente ou para a sociedade. Portanto, cabe ao governo garantir que os meios de transporte menos poluentes e invasivos sejam também a melhor opção em questão de conforto e rapidez para que as pessoas prefiram utilizá-los. Por exemplo, é claro, a bicicleta.
As ruas são o cenário para as intervenções urbanas mais criativas e democráticas. Pouco a pouco, os paulistanos estão percebendo que a variedade de transportes e de usos é benéfica para todos. Usufruir da cidade é um direito e cuidar da cidade é um compromisso. Em 2015, ficou claro que a utilização da Avenida Paulista vai além de ser um eixo viário para automóveis, é também uma conexão essencial para sistema cicloviário e um amplo espaço público de lazer. E pode ser muito mais.
Imagem destaque: Abertura da ciclovia da Av. Paulista. (Foto: Camila Cavalheiro, 2015)