Moda e estilo são coisas diferentes. A primeira trata do desejo coletivo expressado no vestir. O segundo, da forma como a personalidade e a vontade individual se comunicam pelas roupas. As duas expressões se moldam pelo tempo em que nascem, pela cultura onde vivem, pela sociedade que as cercam, claro. E duas exposições em São Paulo conseguem exemplificar por meio da arte as diferenças entre esses conceitos, do coletivo e do subjetivo.
A exposição no Museu de Arte de São Paulo “Arte na moda: Coleção MASP Rhodia” apresenta o conjunto completo da coleção composta por 78 peças produzidas nos anos 1960. O acervo mostra parte importante da história da moda e da arte brasileira, uma vez que as peças têm estampas criadas por artistas como Carybé e Alfredo Volpi. Os modelos são bastante característicos da época: formas em A, vestidos trapézio, pantalonas, macacões e pijamas palazzo. É evidente o “clima vintage” da exibição.
Ou seja, percebemos que ali está a marca de um tempo, de uma moda, de um tipo de vestimenta que foi do gosto da maioria durante um período. As estampas, que são o tema central da mostra, também carregam seu marco histórico, com traços modernistas e psicodélicos. E é possível notar que, da dezena de artistas que colaboraram com os tecidos da Rhodia, algo em comum nas cores e padronagens eles tinham. Uma coletividade.
Senti falta de mais material explicativo sobre as técnicas de estampas e informações dos artistas, como as biografias. O museu justificou que algumas informações do acervo se perderam com o tempo, antes mesmo que chegasse ao Masp – foi doado pela Rhodia no final dos anos 70.
Outra exibição que num primeiro momento pode parecer apenas de artes plásticas, mas que traz muito mais do que isso – como tudo na arte, convenhamos – é “Frida Kahlo – conexões entre mulheres surrealistas no México”. A mostra, no Instituto Tomie Ohtake, traz 20 telas da artista, incluindo seis de seus famosos autorretratos. Também estão expostas outras 13 obras em papel: nove desenhos, duas colagens e duas litografias. Frida, por si só, já é uma mulher que nos diz muito de estilo, pois se vestia com muitas referências: da indumentária folclórica mexicana, aos modismos da época, passando por seu próprio gosto pessoal, de maneira bastante efusiva e comumente chamada de excêntrica.
Seu trabalho é repleto de alegorias e surrealismo, refletindo nas telas muito do que ela própria comunicava em sua aparência. Entre todos os temas que abordava, sem dúvida as questões femininas, eram as mais fortes. E a curadoria da exposição ressalta isso. Não só em seu trabalho, mas no das outras artistas expostas. É muito lindo. Assim como Frida, elas desafiaram as convenções por meio da arte surrealista, abordando temas como identidade e gênero. Entre elas estão a inglesa Leonora Carrington, a espanhola Remedios Varo e a mexicana María Izquierdo.
Além de quadros e croquis, entre eles 100 obras inéditas, a curadoria fez uma pesquisa a partir das fotos de Frida Kahlo feitas por Nicholas Muray, e reproduziu peças que se aproximam muito das vestimentas que a artista usava, já que os originais não podem sair da Casa Azul, no México. As roupas que estão na exposição são originais tehuana que foram doadas para o acervo da Casa Azul, segundo informações do Huffpost Brasil. Imagine que Frida andava assim por Nova York nos anos 40? E há fotos também, para comprovar.
Ela até usava alguns aspectos da moda da época, como o cabelo (às vezes, preso e com turbante) e o batom vermelho, mas misturava com muitas indumentárias e acessórios de diversos povos mexicanos, e ainda mantinha as sobrancelhas grossas – um toque pessoal? Ou seja, era uma mulher que expressava todo o seu ser no modo de vestir. Isso é estilo. Ficou claro? 😉
Serviço
Arte na moda: Coleção MASP Rhodia
Até 14 de fevereiro de 2016
Local: 2º subsolo
Endereço: MASP, Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); quinta-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Telefone: (11) 3149-5959
Ingressos: R$ 25,00 (entrada); R$ 12,00 (meia-entrada)
O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo, e às quintas-feiras, a partir das 17h.
O ingresso dá direito a visitar todas as exposições em cartaz no dia da visita.
Estudantes, professores e maiores de 60 anos pagam R$ 12,00 (meia-entrada).
Menores de 10 anos de idade não pagam ingresso.
O MASP aceita todos os cartões de crédito.
Acessível a deficientes, ar condicionado, classificação livre.
www.masp.art.br
Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México
Até 10 de janeiro de 2016
Endereço: Instituto Tomie Ohtake, Av. faria Lima, 201
Horário: terça a domingo das 11h às 20h
O ingresso custa R$ 10 e pode ser adquirido na bilheteria do instituto (de terça a domingo, das 10h às 19h) ou pelo site Ingresso.com. Até 10 anos, a entrada é grátis. Às terças-feiras a entrada é gratuita.
www.institutotomieohtake.org.br