RAPIDINHAS

Espetáculo “O jardim” traz mal de Alzheimer para o palco

Foto: Divulgação

Um jardim. Sete atores. Dezenas de caixas. Milhares de lembranças. Isso tudo, e muito mais, compõe o incrível e devastador espetáculo “O Jardim”.

Criada pela Companhia Hiato, a peça traz para o público uma bela reflexão sobre as memórias e a perda delas. Em um primeiro momento, a história retratada pode parecer bastante particular, mas é impossível não se identificar com pelo menos um dos personagens afetados direta ou indiretamente por uma doença tão universal como o Alzheimer.

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Foto: Divulgação

A peça conta a história de Thiago, que após a sua difícil separação de Fernanda constrói uma nova família com outra mulher. Nessa nova vida, o jardim é conotativo e denotativo, uma perfeita metáfora sobre a existência humana. Porém, apesar de tantos anos, tantas árvores plantadas e tantos frutos colhidos uma fala da filha de Thiago deixa claro que na vida há raízes que não podem ser arrancadas: “Se a outra soubesse que desde que ela foi embora nenhum dia se passou…”. É Fernanda quem costura a história, tudo o que ela foi, não foi e ainda poderá ser ou tudo o que ela deixou de ser e agora volta à tona graças ao Alzheimer. As três cenas acontecem sempre na mesma data, dias antes do aniversário de Thiago, mas com várias décadas de diferença. Através dessas décadas podemos observar os efeitos do Alzheimer não só para aquele que o possui, mas para todos os familiares e amigos. Outro fato bastante importante, mas que só é possível ler nas entrelinhas das falas e gestos das personagens, é a característica hereditária, presente em alguns tipos da doença.

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Foto: Divulgação

Assim como a narrativa, o público também é dividido em três partes. Nesse jogo de encaixe e desencaixe cabe às caixas de papelão do cenário separar não só as décadas de história de uma família, mas também o cenário e a plateia, que assiste uma cena de cada vez e é forçada a também entrar no jogo e acessar a memória da cena anterior- ou mesmo da seguinte, uma vez que nem todos vêm a peça em uma ordem cronológica. Durante uma hora e meia de espetáculo as cenas vão se somando, completando e contradizendo assim como as memórias e a vida, que são subjetivas e relativas.

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Foto: Divulgação

Para compor o espetáculo, os atores mergulharem em um intenso processo de pesquisa. Visitaram asilos e e casas de repouso, lugares de memórias. Além disso, também trouxeram para o palco depoimentos pessoais. Uma das cenas mais emocionantes é a que os personagens/ atores mostram para o público objetos que remetem a suas lembranças pessoais ou familiares. Para deixar o processo ainda mais pessoal, os atores usam seus próprios nomes em cena.

Chama a atenção não só a força da interpretação, a entrega, o tragicômico e a expressividade de cada um em cena, o que mais brilha é esse incrível encontro de atores e o modo como o talento de cada um contribuí para o sucesso de um trabalho de anos. A peça já ganhou diversos prêmios, incluindo três de “Melhor Espetáculo”, e recentemente fez apresentações no exterior.

“O Jardim” é daquelas peças que causam orgulho à produção teatral brasileira. Difícil não chorar pelo menos uma vez durante o espetáculo ou ver alguém com os olhos marejados. O diretor Leonardo Moreira conseguiu com maestria conduzir uma narrativa que encanta pela emoção, impressiona pela técnica e desperta a atenção para um problema tão grave como a perda da memória.

Assista ao vídeo do espetáculo:

SERVIÇO

Até 26 de julho de quinta a domingo/ Quinta a sábado, 21h, e domingo, 19h/ Bate papo: 19 de julho – domingo – após o espetáculo/ Rua Maria Antônia, 294 Consolação – São Paulo, SP (próx. ao Metrô Santa Cecília)/ Não indicado para menores de 14 anos/ Ingressos R$ 20,00 (meia-entrada: R$ 10,00). Ingressos limitados a dois por pessoa.

Em agosto, no Tusp, entram em cartaz os espetáculos “Ficção” e “02 ficções”, também da Cia. Hiato.

www.ciahiato.com.br

 

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Miguel Garcia
the authorMiguel Garcia
Miguel Garcia é idealizador e coordenador de conteúdo do projeto. Publicitário, viajante, adora provar todos os tipos de comida, vinhos e cervejas e tem uma vontade imensa de fazer todos se orgulharem cada vez mais de viver em SP.

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