A Série Avenida Paulista desta semana apresentará a casa de Ernesto Dias de Castro, a atual Casa das Rosas, onde tivemos o prazer de fazer uma palestra sobre a série, no sábado passado, durante a Jornada do Patrimônio 2071.
A casa de Ernesto Dias de Castro é uma das últimas edificações da primeira geração de casas na Paulista, projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo, foi concluída em 1935. Permanece no local até hoje e convive com o Edifício Parque Cultural Paulista.
Ernesto Dias de Castro, nasceu em 1873 no Rio Grande do Sul, filho de Pedro Dias de Castro e Elibia Antunes Maciel. Fez os seus estudos na Escola Politécnica de São Paulo formando-se engenheiro. Por um período, foi professor de matemática em escolas do estado.
Em 1903, Ernesto fundou uma empresa chamada Ernesto de Castro & Cia, em sociedade com seu irmão Mario Dias de Castro (que também morou na Paulista, a história pode ser lida neste link) e Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que se tornou sócio investidor da companhia.
No início, a importadora trazia todos os tipos de artigos para construção de edifícios, como ferragens, tintas, vigas de ferro, cerâmica, artigos sanitários, aparelhos para gás e eletricidade, tubos para água, óleos, cimento, madeiras, etc. Anos depois, a empresa mudou o nome para Dias de Castro S.A. Comercial & Importadora.
Além da importadora, durante sua trajetória profissional, Ernesto participou da administração do Banco Mercantil de São Paulo e foi diretor presidente da Serraria Azevedo Miranda S.A. Entre 1917 e 1920 foi presidente da Associação Comercial de São Paulo.
Ernesto casou-se com Lúcia Ramos de Azevedo, filha de Ramos de Azevedo. O casal teve os filhos Laura Martins e Ernesto Dias de Castro Filho.
O terreno onde seria construída a casa de Ernesto, pertencia a Ramos de Azevedo, que o adquiriu em em 1900. Como um presente à Lucia, sua filha, no dia 8 de abril de 1913 ele compareceu ao 11º Tabelionato de Notas da Capital para transferir a propriedade para o nome de Ernesto, seu genro.
O escritório de Ramos de Azevedo também fez o projeto arquitetônico, que foi assinado pelo arquiteto Felisberto Ranzini e, sogro e genro, construíram a casa, mas, como pai e sogro dos moradores, Ramos de Azevedo não viu a obra pronta, pois morreu em 1928. Depois de entregue, a casa serviu de moradia ao casal e aos seus descendentes diretos durante 51 anos.
A família de Ernesto levou uma vida abastada, sua empresa foi uma das maiores fornecedoras de materiais de construção de primeira linha para toda a sociedade paulistana. Como outros empresários que viviam na Avenida Paulista, tinha um belo automóvel Packard 1937.
Ernesto faleceu no ano de 1955 aos 82 anos de idade. Depois do desaparecimento dos pais, o imóvel e o automóvel passaram para o filho do casal, Ernesto Dias de Castro Filho. A segunda esposa de Ernesto Filho, Ana Rosa, foi a última descendente da família a morar no casarão até 1985. A casa, com quase trinta cômodos, quatro andares, era repleto de materiais de construção importados.
Com o passar dos anos, a importadora de materiais de construção, que havia passado para a gestão do filho, fechou e a família ficou gradativamente exposta a uma situação financeira cada vez mais difícil, o que os obrigou a vender o imóvel e o terreno.
Abaixo, uma descrição detalhada da casa, publicado no blog Encontros Culturais, com algumas imagens para degustarmos.
A parte interna conta com o pavimento Térreo, que tem 10 cômodos. O hall de entrada com piso de mármore e a escada social que dá acesso ao primeiro andar com mármore de carrara e balaústres de aço decorado. Corrimão de madeira maciça feita, provavelmente, no Liceu de Artes e Ofícios. Vitral da Casa Conrado feito por Conrado Sorgenicht.
Biblioteca, Escritório e Sala de Visitas com piso de madeira em tons claros e escuros formando desenhos diferentes para cada ambiente. Teto em gesso decorado. Paredes revestidas de tafetá de seda francesa. O retrato de Ramos de Azevedo, pintado em 1898 por Oscar Pereira da Silva, permaneceu na residência por 48 anos.
Sala de jantar com piso de madeira clara, paredes escuras, também revestidas de tafetá de seda francesa, decoradas com motivos gregos. Teto de madeira tipo “caixotão”. Lavabo com piso de pastilhas e revestimento da parede em azulejos alemães. Copa com piso em ladrilho decorado, paredes de azulejo, pia de mármore.
Sala de lunch com piso de madeira simples. Paredes e teto sem decoração. Sala de almoço dos empregados com piso de ladrilhos decorados e paredes de azulejos. Porta de saída para a parte externa.
Cozinha com piso de ladrilho decorado paredes e teto em azulejos; dois balcões de mármore um deles com duas cubas (pias), comunica-se com a sala de almoço dos empregados. Na parte externa junto à porta da cozinha está o forno doméstico. Escada de madeira com 6 lances, sendo o único com acesso aos 4 pavimentos.
O primeiro andar conta com 5 quartos decorados com tafetá de seda. Teto em gesso diferente para cada ambiente. Piso também diferentes para os diversos ambientes. O quarto menor tem piso de madeira, paredes e teto sem decoração. É um “quarto com alçapão” para a roupa suja ir parar diretamente no porão, em um pequeno armário.
Há 2 banheiros, um deles rosa com piso em mármore rosa e negro louça cor de rosa e outro verde com piso e louças verdes. Este possui uma segunda porta interna, possibilitando o uso por mais de uma pessoa independente uma da outra.
Dois belos terraços, um deles em “L” com piso belga decorado e outro grande, sem decoração no piso.
Mansarda (sótão), com janelas com águas furtadas, que possui: 3 quartos usados por empregados, simples, sem decoração em paredes e piso. Rouparia e um quarto das malas, viajava-se muito e de navio o que implicava em malas grandes, como armários e sala para empregados e banheiro simples.
O porão possui 7 cômodos: sala de jogos com piso de ladrilho verde, dispensa, lavanderia, banheiro com caldeira, adega e dois outros ambientes.
A Construtora Júlio Neves comprou a casa e o terreno de 5.500 m²com o objetivo de construir dois grandes edifícios comerciais. Por volta de 1985, o CONDEPHAAT tombou o casarão, e a sua desapropriação foi concluída no ano seguinte.
Com isso, a Construtora Júlio Neves apresentou uma proposta à Secretaria de Estado da Cultura, que se responsabilizaria pelo restauro do imóvel caso tivesse autorização para construir um de seus prédios comerciais nos fundos do imóvel. O acordo foi fechado e a casa, quase por milagre, foi salva da demolição.
Em 11 de março de 1991, no ano do centenário da Avenida Paulista, foi inaugurado o centro cultural batizado de “Casa das Rosas”, que recebeu esse nome pois possuía um dos maiores e mais belos jardins de rosas da cidade. Na parte do terreno que dá para a Alameda Santos, foi liberada a construção de um moderno edifício comercial enquanto a casa foi restaurada e transformada pelo Estado de São Paulo em espaço cultural. Durante alguns anos, funcionou lá uma galeria de artes que foi dirigida por Cláudio Tozzi e outros artistas.
Depois de quase 2 anos fechada, em 2003, a Casa das Rosas foi renomeada para homenagear o poeta Haroldo de Campos, falecido no mesmo ano e, por tal, recebeu a doação do acervo completo de livros e alguns objetos pessoais do poeta. A Casa das Rosas – espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura abriga ainda a primeira biblioteca do país especializada em poesias.
A missão da Casa das Rosas ´e “promover o conhecimento, a difusão e a democratização da poesia e da literatura, incentivando a leitura e a criação artística, preservando e problematizando o patrimônio histórico-cultural que abriga, tanto o arquitetônico quanto o acervo Haroldo de Campos”.
Além disso, o espaço ainda conta com a Livraria Giostri, localizada na sala que originalmente era o escritório da residência, que oferece livros de literatura, poesia e humanidades, e o charmoso Caffe Ristoro, com mesas espalhadas pelo jardim, que serve uma deliciosa sfogliatelle, um doce típico italiano.
Claro, não poderíamos esquecer do edifício Parque Cultural Paulista e o lindo projeto paisagístico de Roberto Burle Marx, no pavimento térreo, em seus muros nas laterais que chegam na Alameda Santos.
A torre de 21 andares é feita de cristal reflexivo, em linguagem arquitetônica contemporânea, com estrutura predial moderna e garagem pela Alameda Santos. A passagem entre a casa e o edifício é aberta e o transeunte pode atravessar por dentro.
Mais um de tantos prédios que se espalham pela Paulista e por tantas outras avenidas da cidade, mas que guarda uma preciosidade de nosso patrimônio histórico: a Casa das Rosas. O melhor exemplo de conservação da passado com o progresso do presente e do futuro.
Até domingo que vem!
Informações:
Endereço: Avenida Paulista, 37
Telefones: (11) 3285-6986 / (11) 3288-9447
Como chegar:
De metrô: Estação Brigadeiro – Linha verde
De ônibus: várias linhas
De carro: convênio com o estacionamento Parkimetro (fechado aos domingos e feriados). Al. Santos, 74.
De bicicleta: deixe sua bicicleta no bicicletário no jardim da Casa (mas não entre pedalando, por favor).
Horário de funcionamento
terça-feira a sábado, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 10h às 18h
(passível de mudança, de acordo com a programação).
Que bom que ao menos essa não foi pro chão. Já fui várias vezes visitá-la, muito linda!!
Gostaria de saber se haverá outras jornadas do patrimônio?? Eram tantos lugares interessantes pra visitar que teria que se estender por ao menos por alguns finais de semana
Fico lisonjeado por escolherem uma foto de minha autoria para ilustrar o belo texto. Que quiser pode ver outras fotos da Casa das Rosas em http://www.visualzine.blogspot.com. Abraço