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Série Avenida Paulista: da casa de Pérola Byington ao Edifício Pedro Biagi

A Série Avenida Paulista está prestes a completar 2 anos, durante todo esse período publicamos, semanalmente, a história dos casarões do início do século XX e os edifícios que os sucederam.  Foram 60 histórias publicada até hoje, algumas, de tão ricas, ganharam capítulos.

Ainda existem muitas outras casas, mas as informações começam a rarear …. Por isso, convidamos a quem tiver informações – pesquisadores, descendentes, curiosos – a participar deste levantamento inédito sobre a avenida.

Nesta semana, apresentaremos a casa da família Albert Jackson e, sua esposa, Pérola Byington, que ficava no 127 da numeração antiga. Por meio de um estudioso, Marcos Cesar da Silva, ao qual agradecemos, tivemos acesso à uma foto da casa. Durante esta semana pesquisamos sobre a família, mas não houve tempo para escrever o texto, assim daremos voz ao que encontramos publicado.

A origem da família é contada abaixo, por meio do trecho inicial de um artigo de Rafael de Luna Freire, intitulado “Da geração de eletricidade aos divertimentos elétricos: a trajetória empresarial de Alberto Byington Jr. antes da produção de filmes” publicado em 2013, na Revista Estudos Históricos do Rio de Janeiro.

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“Mary Elizabeth Ellis, professora do Colégio Piracicabano, em Piracicaba (SP), fundado por presbiterianos do Sul dos Estados Unidos, era oriunda da região do Mississipi. Devido à Guerra de Secessão, foi trazida para o Brasil aos nove anos de idade, indo viver na casa de seu avô, Henry Strong, já estabelecido como fazendeiro em Santa Bárbara d’Oeste, um dos principais núcleos de imigração americana no interior de São Paulo. Em 1878, Mary casou-se com outro imigrante, Robert Dickson MacIntyre, assumindo o sobrenome do marido (Mott, 2003: 22-3).

Uma das três filhas de Mary e Robert, Pearl Ellis MacIntyre (que depois adotou o nome de Pérola) nasceu em 3 de dezembro de 1879, na fazenda da família. Depois de viver em diversas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais, mudou-se com seus pais e suas duas irmãs para a capital paulista, onde estudou na Escola Normal Caetano de Campos. Formando-se normalista, foi convidada para trabalhar como governanta na mansão de uma rica família paulistana, mas recusou. Àquela altura já estava de casamento marcado com Albert, jovem imigrante norte-americano (Mott, 2001: 219).

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Albert Jackson Byington

Oriundo de Elmira, interior do Estado de Nova York, o noivo de Pérola, Albert Jackson Byington, nasceu em 22 de janeiro de 1875. Em 1893, aos 18 anos, trabalhou durante seis meses no pavilhão de eletricidade da Feira Internacional de Chicago. “Depois disso”, segundo depoimento de Paulo Egydio Martins, “foi contratado para vir para a Argentina e se estabeleceu em Buenos Aires com seu amigo Charles Williams. Em 1895 veio de Buenos Aires para o Rio de Janeiro, para trabalhar com o engenheiro canadense James Mitchel, responsável pela introdução do bonde elétrico na capital. Em seguida foi para São Paulo trabalhar na Light & Power” (Martins, 2007: 106).

A partir do trabalho manual no processo de eletrificação das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo “subindo poste e puxando fio”, nas palavras de Martins, teria início a carreira no Brasil do imigrante norte-americano (posteriormente naturalizado) e a vida conjugal de Albert e Pearl, ou melhor, Alberto e Pérola, casal de cidadãos brasileiros como seria frequentemente ressaltado.

O jovem casal se instalou em Sorocaba e aí, em 1901, Alberto Byington adquiriu a Empresa Elétrica de Sorocaba, que possuía uma pequena usina térmica (De Lorenzo, 1993: 55-6). De Sorocaba mudou-se para Campinas, então a segunda cidade mais populosa do estado, onde Alberto organizou em 1904 a Cavalcante, Byington & Cia., que daria origem à Companhia Campineira Luz e Força, provavelmente associando-se ao empresariado local ligado ao café. Aos poucos, o norte-americano prosseguiu na estratégia de compra e construção de pequenas usinas elétricas na região.

Nesse sentido, em março de 1913, Alberto Byington se tornou representante no Brasil da recém-criada empresa The Southern Brazil Electric Company, Limited, ligada a capitais ingleses. Durante a Primeira Guerra Mundial, diante da restrição à importação de carvão, principal insumo da geração térmica, houve um investimento ainda maior no Brasil na geração hidroelétrica.

Não à toa, através da firma Byington & Sundstrom, Alberto Byington foi um dos responsáveis pela complexa construção da ponte Hercílio Luz, que ligou a ilha de Santa Catarina, onde se situa Florianópolis, ao continente, inaugurada em 1926, depois de quatro anos de obras. (..)

A expansão da Byington & Cia nos anos 1920 fez com que a empresa passasse a ter uma filial em Nova York e nas principais cidades do Brasil: Rio, São Paulo, Santos, Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Recife”.

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Pérola Byington foi uma das fundadoras da Cruzada Pró-Infância, importante instituição com o objetivo de diminuir a mortalidade infantil. A neta de Pérola, Maria Elisa Botelho Byington, preocupava com a preservação da história de sua avó e da Cruzada, escreveu o livro “O gesto que salva – Pérola Byington e a Cruzada Pró-Infância’, editado em 2005 pela Grifo Projetos Históricos e Editoriais

No lançamento do livro, Maria Elisa, concedeu uma entrevista à Paula Protazio Lacerda, da Revista Época, e alguns trechos sobre sua avó publicamos aqui.

“Pérola casou-se com Alberto J. Byington e tiveram dois filhos. Em 1912 a família levou os filhos para estudar nos Estados Unidos. Estourou a guerra e eles não puderam voltar ao Brasil. Com isso, minha avó começou a trabalhar na Cruz Vermelha americana levantando fundos.

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Pérola Byington

A Cruz Vermelha americana estendeu os seus serviços além dos campos de batalha no atendimento aos feridos de guerra. Instituiu campanhas de prevenção de acidentes em casa e no trânsito, e foi pioneira na visitação rural para tratar as famílias distantes da cidade. Pérola pode não ter atuado em todas essas áreas, mas adquiriu, digamos, por “osmose” aquele ambiente de trabalho.

Quando voltou ao Brasil, trabalhou na Cruz Vermelha de São Paulo, com a fundadora, Maria Rennotte, companheira de sua mãe no Colégio Piracicabano. Então, com toda essa experiência, aos cinquenta anos, ela inaugurou a Cruzada Pró-Infância junto com Maria Antonieta de Castro, educadora sanitária. Sua finalidade era combater a mortalidade infantil.

A Pérola e sua equipe tinham ideias maravilhosas. Realizavam muitas campanhas, concursos e eventos públicos e de repente a Cruzada caiu no gosto da imprensa. Diversos jornais publicavam todas as campanhas da Cruzada. A última campanha, em 1963, pouco antes do falecimento de Pérola foi no canal 9, TV Excelsior. Permaneceu 27 horas no ar. Não sei como, mas alguém inventou um pedágio e todos os taxistas combinaram de passar pelo pedágio naquela noite.  Foram muitas ações em benefício à Cruzada Pró-Infância.

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Pérola em seu trabalho contra a mortalidade infantil.

Pérola recebeu inúmeros prêmios e condecorações. Em São Paulo, o hospital Pérola Byington, em sua homenagem, é dedicado ao atendimento da mulher e um núcleo de profissionalização para jovens em situação de vulnerabilidade social. Em sua cidade natal, Santa Bárbara d’Oeste, a avenida onde está sediada a maior indústria de tornos do mundo foi batizada como Avenida Pérola Byington.

Pérola, município do estado do Paraná – antes, distrito do município de Xambrê, foi assim nomeado em sua homenagem, por conta de seu filho Alberto Byington Júnior, um dos sócios da Companhia Byington de Colonização Ltda., empresa que, a partir de 1950, adquiriu terras e colonizou a região.

Sobre a casa da Avenida Paulista pouco sabemos, (talvez no livro tenha alguma informação, que comprei, mas ainda não chegou). O que apuramos é Pérola usava sua casa para reuniões e eventos da Cruzada Pró-Infância, além de recolhimento de donativos, como nesta matéria de 1930 sobre a Semana da Criança, instituída no Brasil por Pérola.

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A família aparece neste endereço nas listas telefônicas a partir de 1920, mas antes disso, 1917 o local aparece em nome de da família de Willian Speers, um inglês de Newcastle, que veio jovem para o Brasil. Trabalhou por 53 anos na São Paulo Railway Company, onde chegou a ser superintende e representante da empresa no Brasil. Em 1910, a casa estava em nome de seu filho J. P. Speers.

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Até 1935 encontramos notícias das ações da Cruzada na Avenida Paulista, depois no fim da década de 1940 início dos 50, encontramos o endereço em nome de Mario Dias Castro, que morou em outra casa da Paulista (A história pode ser lida neste link) e era irmão de Ernesto Dias Castro, dono da Casa das Rosas.

No terreno da Avenida Paulista, foi construído entre 1973 e 75 o Edifício Pedro Biagi, no atual número 460 da Avenida Paulista, com projeto dos arquitetos Mauricio Kogan e Luis Andrade Mattos Dias.

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A torre tem 23 andares, com dois pilares modulados de concreto aparente que ressaltam sua verticalidade, e na cobertura, os pilares terminam em arcos vazados.  No nível térreo há uma agência do Banco do Brasil, e no gramado uma obra de Franz Weissmann (1911 – 2005), conforme indicado por um leitor. Obrigada!

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O prédio foi batizado em homenagem a Pedro Biagi, que foi um imigrante italiano, que se tornou um conhecido fazendeiro e proprietário de Usinas de Açúcar no interior paulista.

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A frase antológica de Pedro Biagi: “Quando fabriquei meu primeiro tijolo, não pensei que teria um prédio com o meu nome na rua principal da principal cidade do Brasil!”, referindo-se ao prédio da Avenida Paulista em São Paulo. Tanto que foi emparedada no próprio edifício.

Então, vamos ao trabalho… Bom domingo e ótima semana a todos!

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

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