Nesta semana, retomamos uma história já publicada, mas que foi atualizada com novas imagens e informações sobre a residência do Sr. Otto Weiszflog que ficava na Alameda Campinas esquina com a Paulista, no atual número 1063, onde atualmente está sendo construído um novo edifício.
Mais uma vez, como na história de outros casarões, tivemos a grande satisfação de fazer contato com os descentes da família de Otto Weiszflog que, gentilmente, compartilharam conosco fotos e histórias da vida da família na casa da Paulista.
Agradecemos imensamente à Hilda Giorgi e a seu pai Erich Dino Franz Giorgi, respectivamente, bisneta e neto de Otto Weiszflog.
Vamos começar pelo lado profissional. Os irmãos Weiszflog foram proprietários da Companhia Melhoramentos. Para contar essa história, nada melhor que a própria empresa. Replicamos aqui parte do texto que está em seu site.
“Na Alemanha, os Weiszflog almejam dias melhores. Assim dois deles, Otto e Alfried resolvem partir em busca do sucesso. O Brasil é o país escolhido e, dentro do Brasil, o novo Eldorado chama-se São Paulo. Otto chega em 1894. Semanas depois está trabalhando no estabelecimento do conterrâneo Bühnaeds, um negócio no ramo de papelaria, encadernação e importação de papel. Dois anos mais tarde é a vez de Alfried desembarcar no Brasil. Ele chega com um recado do pai, Wilhelm: “Façam alguma coisa que seja única, em que não tenham concorrência”.
Seguindo os conselhos do pai, os irmãos Weiszflog associam-se a Bühnaeds. Em 1905, adoentado e sem forças, Bühnaeds deixa a sociedade e, posteriormente, em 1915, a empresa é comprada pelos irmãos: nasce então a Weiszflog Irmãos – Estabelecimento Gráfico.
“Os serviços da gráfica dos Weiszflog ganha rápido reconhecimento em razão da qualidade superior dos seus produtos. Percebendo isso, o educador Arnaldo de Oliveira Barreto sugere aos Weiszflog que se tornem também editores. A sugestão é aceita. Já na condição de editores, os Weiszflog produzem em 1915 aquele que seria um marco da literatura infantil brasileira. O livro O Patinho Feio, de Hans Christian Andersen, com ilustrações de Franz Richter, é o primeiro no Brasil editado em quatro cores”.
Um dos clientes dos Weiszflog, que mandava imprimir livros e seu relatório anual era a Companhia Melhoramentos de São Paulo, que passou por sérias dificuldades financeiras, agravadas durante a Primeira Guerra Mundial.
Seus novos donos só veem uma saída: vender a Melhoramentos. Os Weiszflog já produzem, editam e comercializam seus próprios livros; faltava somente a produção do papel e para isso compraram a Companhia Melhoramentos de São Paulo em abril de 1920 e, em dezembro, incorpora a Weiszflog Irmãos – Estabelecimento Gráfico. Surge um slogan que durante muitos anos acompanha os livros da editora: “Do pinheiro ao livro, uma realização Melhoramentos”. Nas mãos dos Weiszflog, a Melhoramentos cresce e aparece”.
Na década de 1910, o estabelecimento gráfico dos Irmãos Weiszflog, que ficava no vale do Anhangabaú foi o embrião da editora e depois da Companhia Melhoramentos. Na foto abaixo o grande prédio e, à direita, a escadaria que ligava o Vale do Anhangabaú à rua Líbero Badaró.
A história conta que os Weiszflog foram magnatas da indústria nacional de derivados de papel, sendo os primeiros fabricantes de papel higiênico e celulose no País.
Neste período, Otto Weiszflog já vivia com sua família no belo casarão da Avenida Paulista. Ele, a esposa Anna Maria Kuhlmann Weiszflog, filha de deputado conhecido à época, e os filhos Jane, Frederico (Fritz), Hilda, Gerda, Wolfang e Annemarie. Wolfang faleceu muito jovem, aos 25 anos, em um acidente no mar do Guarujá.
Sobre o casarão não se tem disponíveis muitas informações. Não sabemos de quem foi o projeto arquitetônico inicial, mas identificamos que, em outubro de 1916, foi aprovado um aumento e alteração da casa, que foi solicitada por Georg Przirembel à Prefeitura de São Paulo.
As belíssimas fotografias, já amareladas, que seguem abaixo, pertencem à família e são de 1910, portanto, antes da reforma. Foram realizadas na casa e mostram detalhes da vida da família nesta época. As imagens foram cedidas por Hilda, que é neta de Hilda Weiszflog, uma das filhas de Otto Weiszflog.
Nesta imagem vemos a lateral da residência na Alameda Campinas que, na época, ainda não tinha sido asfaltada. As crianças são os filhos de Otto Weiszflog.
Anna Maria Weiszflog e seus filhos no jardim da casa, ao fundo a Avenida Paulista. À sua direita, Jane, à esquerda, Hilda, a avó da Hilda, nosso contato. A menina loira de olhos claros, em pá, é Gerda, que aparece no quadro mostrado no início e, sentados, Annemarie e Wolfgang. E o cachorrinho? Será um brinquedo ou um animal mesmo?
Com a grande maioria das casas da Avenida Paulista, no fundo pelo lado da Alameda Santos, havia uma vasta área para plantio de hortas, plantas e árvores. Geralmente as verduras e legumes da horta serviam para o consumo próprio da família. Animais também era criados, os Weiszflog ainda tinham um estábulo nos fundos da casa. As crianças na foto são Gerda e Hilda.
Nas fotos acima, em ângulos diferentes, o fundo da casa onde estava a garagem e o automóvel, em que a família posa para ser fotografada. Em pé o, Sr Otto Weisflog e, sentado no estribo, um de seus irmãos, o Alfried, dentro do carro, D. Anna e os filhos.
Uma linda foto das crianças em brincadeira de roda, no centro, a filha mais velha, a Jane, à direita Hilda, depois Gerda, Wolfgang, Annemarie e, fechando a roda, Fritz.
Hilda, bisneta de Otto, compartilhou conosco algumas histórias sobre a família:
“No início do século 20, por volta de 1910, passava pela Avenida Paulista bonde que Otto pegava diariamente para ir ao escritório. Quando não estava na frente do casarão, o condutor descia e perguntava se o Sr. Weiszflog não iria trabalhar! Coisas de um passado longínquo de São Paulo!
A família estava na Alemanha quando estourou a Primeira Guerra Mundial, quando soavam os alarmes de ataques aéreos todos corriam para os abrigos, e a Gerda, ainda jovem, era uma das últimas a chegar, pois tinha uma paralisia… um problema nas pernas. Já adulta, não andava.
Embora morassem no Brasil, a família ia com frequência à Alemanha; e foi numa destas viagens que minha avó, Hilda, nasceu na cidade de Hamburgo, alemã, portanto.
Consta que minha avó Hilda Weiszflog e meu avô Mario Giorgi moravam nos arredores da Avenida Paulista, porém só se conheceram na Alemanha. Meu avô era químico e fazia pós-graduação na Alemanha.
Na foto acima, Hilda Weiszflog e Mário Giorgi com seus filhos, Mario, à esquerda, Ronald, no centro, e Erich, à direita na casa que moravam na Rua Domingos de Morais.
A família falava alemão, inclusive meu pai e seus irmãos, que estudaram na escola que hoje é denominada Visconde de Porto Seguro; e, na época da segunda guerra mundial, com receio de perseguições, foram proibidos de falar a língua alemã.
Inclusive, em 1939, no início da guerra, a família saiu de São Paulo e foi morar na Fazenda Bom Retiro, que pertence ao Município de Itapetininga, razão pela qual, estamos aqui – eu e meu pai – até hoje! Atualmente, a fazenda hoje pertence à família de António Hermínio de Moraes. Posteriormente, minha avó conseguiu a cidadania brasileira. Até porque se casou com brasileiro e tinha filhos brasileiros e propriedades aqui”.
Erich, o menino menor da foto acima, é o pai de Hilda e, atualmente, está com 85 anos, único sobrevivente direto de Otto Wesizflog. Uma simpatia de pessoa, não é mesmo?
Voltando à reforma da casa que aconteceu em 1916, Georg Przirembel foi um conhecido arquiteto especialista no estilo neocolonial, em São Paulo, projetou e dirigiu a construção do novo mosteiro de São Bento, em 1912, participou da semana de arte moderna de 22 e, em 1928, projetou o convento e a igreja do Carmo, construídos no bairro paulistano da Bela Vista.
A casa depois da atuação do arquiteto Georg Przirembel, que realizou a reforma e deu ao projeto detalhes no estilo neocolonial. Vemos que a casa foi aumentada lateralmente, ganhando uma área maior no nível térreo e uma grande sacada no segundo nível. A Avenida Paulista e Alameda Campinas já apresentam calçamento, eletricidade e arborização e a casa conta com um muro diferente do original.
A casa era bastante ampla e muito confortável, com vários ambientes em estilo clássico, como a sala de jantar mostrada abaixo. A decoração, com muitos detalhes típicos do estilo colonial, semelhantes aos encontrados em casas da época.
Na imagem abaixo, a família aparece em trajes mais formais, (talvez uma cerimônia???) posando, na frente da casa. Nas pontas, muito provavelmente, os irmãos Weiszflog e no centro os filhos já crescidos. Do lado esquerdo vê-se uma parte do torreão da casa de Adam Bullow, que ficava no outro lado da Avenida Paulista.
Otto faleceu em 19 de abril de 1919. Em 1922, recebeu uma homenagem da Revista Nacional, que escreveu sobre sua importância como renovador da arte gráfica no Brasil e reorganizador da cartografia brasileira, que podemos apreciar abaixo, na imagem da Carta geral do Estado de São Paulo, publicada pela Weiszflog Irmãos, em 1912.
Após a morte de Otto, o casarão continuou sendo habitado pela família. Em 28 de abril de 1935, uma notícia publicada sobre o palacete da Avenida Paulista ganhou manchete: ocorreu um assalto na mansão. Segundo a reportagem, o local onde a família Weiszflog residia sofreu uma tentativa de assalto. Estava em casa apenas o jovem Fritz Weiszflog, filho de Otto, que ouviu os barulhos e chamou a polícia, que trocou tiros com os dois ladrões.
Hilda contou que quando a família Weiszflog deixou de morar na Avenida Paulista, mantiveram uma parte do imóvel, pois era quase uma chácara, inclusive tinha até estábulo, assim, permaneceram em uma residência construída na esquina da Alameda Campinas com a Alameda Santos.
Já em 1936, a casa da Avenida Paulista aparece em nome Nicolau Zarvos. Grego, nasceu em Rods, em 23 de maio de 1889, chegou ao Brasil em 1913, e fixou residência em Lins. Foi um fazendeiro de café e algodão. Desenvolveu suas atividades nesse setor até o ano de 1937, quando fundou a Sociedade Cafeeira da Noroeste e a Armazéns Gerais da Noroeste do Brasil S.A., das quais foi diretor e presidente.
Voltando aos Weiszflog, um pouco sobre o irmão de Otto, Alfried Theodor, sabemos que nasceu em Hamburgo, Alemanha, em novembro de 1872. Formou-se em Ciências Econômicas e veio para o Brasil em 1896, tornando-se anos depois o presidente da Cia Melhoramentos. Além disso, Alfried foi um dos primeiros diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em 1928. A história conta que os Weiszflog foram magnatas da indústria nacional de derivados de papel, sendo os primeiros fabricantes de papel higiênico e celulose no País. Alfried morreu em São Paulo, a 05 de setembro de 1942, aos 70 anos.
Os irmãos receberam várias homenagens da cidade. Alfried “virou” praça: a Praça Alfredo Weiszflog fica na Lapa e foi oficializada em novembro de 1950. Otto, Walther e Alfried também “viraram” escola: a Escola Estadual Otto Weiszflog, localizada na Rodovia Presidente Tancredo A. Neves, Km 34, e a E.E. Walther Weiszflog, na Av. dos Estudantes, 360 e a E. E. Alfried Theodor Weisflog, na R. Raimundo dos Réis, 251, todas elas em Caieiras.
Todos sabemos que os europeus preservam as suas histórias, que muitas vezes, são milenares. E assim também aconteceu com os Weiszflog e Hilda compartilhou conosco algumas fotos de 1912, que foram extraídas do livro da genealogia da família Weiszflog, cuja origem que se tem notícia, data do ano de 1600.
Nesta época, as filhas não iam para os livros de genealogia, mas aqui na Série Avenida Paulista, elas aparecem também.
Hilda disse que os membros da família de Otto, sua esposa Ana Maria e seus filhos – Jane, Fritz, Hilda, Gerda, Wolfgang e Annemarie – estão enterrados no mesmo jazigo no cemitério dos protestantes ao lado do cemitério da Consolação.
Acima mostramos a foto de Erich, filho de Hilda e neto de Otto Weiszflog e, para finalizar essa narrativa marcante de uma família alemã, que escolheu São Paulo como local para viver, apresentamos a terceira e quarta geração, Hilda, bisneta, e seus filhos, Lucas e Bruna, tataranetos de Otto e Anna Weiszflog.
Erich e Hilda, muito obrigada por compartilhar conosco a história da família.
No terreno do casarão, até recentemente, encontrava-se a agência Trianon do Banco Safra. A agência, construída em 1982, em um espaço de 2.145 m², com mais de 800 m² construídos, teve um prédio icônico projetado pelo arquiteto Sidonio Porto e paisagismo de Roberto Burle Marx. Para registro da memória, compartilhamos algumas fotos publicadas no site do arquiteto Sidonio Porto e de outros autores.
Em 2016, a agência foi demolida e um novo empreendimento começou a ser construído em seu terreno como mostram as fotos abaixo, clicadas no feriado de 7 de setembro último.
A placa na construção informa que a obra se chama J. Safra Corporate e começou a ser construída em 2016, com previsão de término em 2019. O projeto arquitetônico é do escritório Aflalo/Gasperini e a construção está a cargo da Cyrella.
Tempos atrás, algumas matérias publicadas em blogs diziam que o Eataly estaria negociando com o proprietário para abrir sua segunda unidade na Paulista. Vamos esperar para conferir!!!
Até o próximo domingo! Obrigada, Hilda.
Ingrid, schau mal!
Hamza Dairy
Luciana Cotrim adoro suas postagens. Sei que vc tem o livro sobre a Ponte Estaiada, mas não tem sobre esses casarões? Seria muita alegria ver todas as postagens reunidas em um livro. Ótimo para leitura ou consulta, para sonhar e soltar a imaginação nesses casarões e suas famílias.
Mafalda, seria uma alegria fazer este livro. Fico muito feliz que você também acha isso. A questão principal é financeira, pois é caro imprimir um livro. O da Ponte consegui um auxílio com um patrocínio. Enquanto escrevo, estou pensando em como viabilizar financeiramente. Mas comentários como o seu só me aninam nesta empreitada…
Obrigada pela resposta. Sei bem como é difícil quando se trata de algo não “tão interessante financeiramente” para quem poderia colaborar. Tenho uma filha que ilustra livros infantis e faz toda a parte editorial. Muitos tem ideias ótimas para colocar em circulação, mas se depender de financiamento… fica anos apenas na ideia. Espero que vc consiga realizar esse trabalho (sonho). Mas vai ser uma dura batalha, mas vai valer a pena. Um abraço
Mafalda, muito obrigada pelo incentivo. Vamos ver se em 2016 uma luz apareça que aponte o caminho para lançar o livro.
Quero ser a primeira a comprar.
Série av Paulista muito atrativa, sou fã de carteira! regis herzer
Regis, muito obrigada. É sempre um incetivo quando recebemos emails como o seu.
Como sempre um texto muito gostoso de ler.
Obrigada, Dora Rossi Cotrim
Muito bom ler um pouco da história de São Paulo e apreciar os casarões com sua belas histórias!
Cristina, muito obrigada! Você é uma leitora que me orgulho.