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Série Avenida Paulista: do corso carnavalesco aos blocos de rua na avenida.

Estamos em pleno Carnaval! Exatamente um século atrás, o Carnaval bombava na Avenida Paulista.  Eram os corsos carnavalescos que faziam sucesso entre as famílias da região e animavam o carnaval de rua. Por isso hoje, domingo de Carnaval, dedicamos a Série Avenida Paulista ao carnaval destes tempos e aos blocos de rua na querida Avenida Paulista.

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No wikipedia, encontramos que corso carnavalesco foi

“um tipo de agremiação carnavalesca que promovia desfiles utilizando carros, geralmente de luxo, abertos e ornamentados, pelas ruas de sua cidade, com foliões geralmente fantasiados, que jogavam confetes, serpentinas e esguichos de lança-perfume nos ocupantes dos outros veículos”.

O corso foi muito popular em muitas cidades do Brasil no final do século 19 e início do século 20. A brincadeira, de origem europeia, era uma proposta de se reproduzir as batalhas de flores características dos carnavais mais sofisticados, como, por exemplo, o da cidade de Nice, no sul da França. Por sua própria natureza, o corso era uma brincadeira exclusiva das elites, que possuíam carros ou que podiam pagar seu aluguel nos dias de carnaval.

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No começo do século XX, em São Paulo, o corso começou e permaneceu por poucos anos no centro da cidade. Os automóveis, enfeitados com flores e acessórios, levavam as famílias, andando devagar pelas ruas, e os rapazes seguiam a pé pelas calçadas. Segundo Jorge Americano no livro São Paulo Naquele Tempo,

“durou pouco o corso na cidade. Entre 1910 e 1915 foi transferido para a Avenida Paulista. Aí, começava às 4 horas da tarde e ia até às 9 da noite. Nos carros, todos de capota aberta, (naquele tempo era enorme a quantidade de carros abertos), as senhoras vinham sentadas no banco, e as moças sentadas sobre a capota aberta”.

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Capa da Revista A Cigarra da edição de fevereiro de 1916.

Muitos desses carnavais foram registrados pelos jornais e revistas da época. As imagens que trazemos neste artigo é da “A Cigarra”, uma das mais lidas revistas da cidade de São Paulo entre 1914 e 1975, período de sua circulação. Nestes anos, a revista publicava muitas fotos dos carnavais sempre sob o título “O Corso na Avenida“.

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Além dessas fotos, apresentamos também trechos do livro A Villa Kyrial – Crônica da Belle Époque Paulistana, de Marcia Camargos, publicado pela Editora Senac, que conta detalhes do carnaval pela avenida Paulista.  O texto será intercalado com imagens que mostram os detalhes…

“Entre as quatro horas da tarde e as dez da noite, o corso passava lentamente em dupla direção, percorrendo o trecho que ia da Praça Osvaldo Cruz ao final da avenida. Com quatro filas de carros em baixa velocidade, cujos motores, não raro ferviam, repetiam as tardes de sábado e domingo, que vieram, na Paulista, substituir o footing”.

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Mapa com instruções para a realização do corso na Paulista.”As grandes casas armavam tablados junto aos muros para assistir ao corso, e ao anoitecer acendiam todas as luzes e convidavam os conhecidos para tomar refresco. Ao cair da tarde, (…), Washington Luís (prefeito municipal), de chapéu gelô, risonho e de cavanhaque, por ali transitava, tendo a seu lado (Senador) Freitas Valle, que, contente, solícito, sobre ele se debruçava certamente contando coisas jocosas”.

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“Se ao longo do ano as ruas eram tomadas por cadillacs conversíveis, no carnaval só se viam landôs, vitórias abertas ou qualquer carro cuja capota pudesse ser completamente arriada.

Na Loja Flora ou Hortolândia, recebiam roupagem especial, própria para a ocasião, ressurgindo na avenida transmutados em pagode chinês, cobertos de hortênsias ou em caramanchão de cravos vermelhos.”

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“Havia também barcos com vela de azaleias e casco de rosas e cisnes de dálias brancas”.

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E até de carro com “os cozinheiros”…

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E até o zeppelin apareceu…

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“Certas famílias que não possuíam carro particular quotizavam-se para alugar caminhões decorados com fitas, folhagens e flores”.

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Publicado no Estado de S. Paulo em março de 1916

“Enchiam-se de rapazes e moças, cujas mães e homens do clã, sempre atentos, apertavam-se no comprido banco central, com assentos de um lado e de outro”.

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“Os de menores recursos utilizavam artifícios menos dispendiosos, adornando a lataria com colchas bordadas e arranjos florais. Num desses carnavais o florista Nemitz pôs em prática antiga ideia do Sr. Valle. Construiu sobre um caminhão uma cesta toda enfeitada, dentro da qual se colocaram cerca de trinta pessoas, entre artistas e amigos do senador, vestidos de pierrô branco com botões vermelhos. Esse carro causou furor no corso, precedido pelo automóvel do “chefe” Freitas Valle, um pierrô de cetim vermelho com botões brancos…”

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Tudo era muito planejado e organizado para a maior diversão dos participantes. Inclusive podemos ver que a chuva já era uma preocupação naquela época…

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Tudo muito organizado e divulgado nos principais veículos de notícias, mas depois da década de 1920, com o aparecimento das escolas de samba, o corso em carros abertos caiu em desuso pela população.

Atualmente não há mais carnaval na Paulista, e o corso ficou no início do século passado. O que se aproxima mais desta antiga prática social é o bloco de rua, e existe um grande bloco que começa na Paulista esquina com a Consolação: o bloco pré-carnavalesco Acadêmicos do Baixo Augusta, que desfilou, no pré carnaval. O tema de 2018 foi “apavora, mas não assusta”. Um milhão de pessoas acompanhou o bloco que se tornou o maior do Brasil.

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O desfile que tem seu esquenta no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, contou com diversas personalidades da televisão e cantores em todo o percurso.

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Alessandra Negrini, a rainha do bloco, de frente ai Cemitério da Consolação.

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

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