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Série Avenida Paulista: dos Silva Pereira ao vidente do Barão do Serro Azul.

Hoje tentaremos resgatar a história da família de Alberto de Paula Silva Pereira que residiu na Avenida Paulista, pelo menos, até o início dos anos 1900. Não estão disponíveis informações a respeito da família Silva Pereira, portanto a narrativa que teremos aqui parte de notícias divulgadas entre 1985 e 1920, que foram encontradas em jornais da época, tais como “O Correio Paulistano” e o “O Combate”.

Esta fotografia disponível do palacete é oriunda dos documentos do acervo de Guilherme Gaensly, que fotografou a casa em 1900. Segundo o pesquisador Benedito Lima Toledo, autor do Álbum Iconográfico da Avenida Paulista, o projeto e a construção da casa, realizada em 1895, foi do Engenheiro de obras João Sivborg.  Com a colaboração de Marcus Uchoa, do Janela da História, pudemos publicar as outras fotos que aparecem no artigo.

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Residência Alberto de Paula Silva Pereira 1900 | Foto: Guilherme Gaensly.

É tudo o que sabemos da mansão! Conseguimos capturar alguns dados sobre a família, que apresentamos a seguir, com a ressalva que as conclusões são meras hipóteses, construídas à partir de anúncios e reportagens publicadas nos jornais referidos.

Começamos pelo patriarca da família, que deve ser de origem portuguesa: o Sr. Francisco de Paula Silva Pereira que era casado com Adelina Elizabeth de Paula Silva Pereira. O casal teve a imensa quantidade, para os dias atuais, de 11 filhos: Eduardo, Adelina, Florence, Francisco, Maud, Ethel, Maria Augusta, Ernesto, Carlos, Dora e, finalmente, Alberto, que é o indicado como proprietário do casarão da Avenida Paulista.

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Família Pereira e Silva.

Pudemos reconstituir a composição da família por meio do anúncio de falecimento de um dos irmãos de Alberto, o Eduardo. Vimos também que duas de suas irmãs, Dora e Florence, casaram-se com dois membros de uma mesma família de sobrenome Ennor. Pressupomos que o endereço em que saiu o féretro de Eduardo, a Alameda Joaquim Eugenio Lima, seja o endereço do falecido, portanto, próximo à casa da Avenida Paulista, que, na verdade, era de seu pai, Francisco, e que foi passada a seu filho, Alberto, quando da sua morte.

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A família Pereira foi uma das primeiras a habitar a Avenida Paulista, logo depois de sua inauguração, como podemos ver nessa foto de 1897.Pereira da silva 1897 3 500x483 - Série Avenida Paulista: dos Silva Pereira ao vidente do Barão do Serro Azul.Parece que Francisco, além de importador, foi um daqueles homens que vendia de tudo, um comerciante e vendedor em todos os seus sentidos. Era proprietário de uma empresa chamada “Francisco de Paula Pereira & Filho”, este filho pressupomos ser Alberto, uma firma de comércio que vendia diferentes artigos e que teve diferentes endereços. Vejam só:

A empresa vendia Vinhos do Porto, genuínos do D’Ouro (região de Portugal), das categorias Sobremesa, Duque, Moscatel e Superior. Além de publicar quem exportou para o Brasil, a empresa vangloriava-se em ser os “únicos importadores do Estado de S. Paulo”.  Além do vinho, no anúncio na parte inferior, também vendia cimento Portland, que dizia ser “de primeira qualidade em barricas de 120 quilos, …garantido”. Estas propagandas sempre foram veiculadas com o endereço da Rua da Quitanda, número 15ª. Mesmo para a época, é estranho vender vinho e cimento no mesmo local.

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Já em outro endereço, à Rua José Bonifácio, 39, a “Francisco de Paula Pereira & Filho”anunciava a venda de farinha de trigo, vinda dos Moinhos de Caracaranã, de Rosário e de Santa Fé, o primeiro local parece ser um lago em Roraima e, os dois últimos, são cidades de Portugal. A farinha era categorizada como Patente 0, Fenix 0 e Especial Primeira. E, claro, a empresa era a única no estado de S. Paulo.

Neste mesmo endereço, fez um anúncio dirigido “aos Sr. Proprietários, engenheiros, arquitetos e mestres de obra informando que eles, Francisco e o Filho, receberam uma grande quantidade de ardósia, “própria para ser utilizada para cobertura de casas”, que veio pela barca Alliança, vinda de Londres, Lisboa e Porto.

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Descobrimos, também, que um de seus clientes era o governo. Na notícia abaixo, a Secretaria da Agricultura autoriza a Superintendência de Obras Públicas a adquirir da empresa Francisco de Paula Silva Prereira & Filho, tubos de barro vidrado e 30 sifões interceptores que seriam utilizados nos serviços de esgoto na capital.

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Supomos, então, que o empresário começou no ramo alimentício e, em seguida, focou na área de construção civil. Mas não parou por aí, o próximo negócio da empresa foi na área de serviços: venda de seguros.  A firma tornou-se também representante da empresa inglesa Northeam Assurance Company, que vendia seguros contra incêndio e existia desde 1836.

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Presume-se que este negócio tenha gerado problemas à empresa de Francisco, isso por conta de algumas publicações realizadas, por acionistas e segurados, da Northeam Assurance Company. Os anúncios diziam:

Aos agentes Srs. Francisco de Paula Pereira & Filho pergunta-se: a Companhia Importadora Paulista já foi indenizada dos prejuízos havidos em setembro último? E assina: Um acionista.

Pergunta-se aos Srs. Francisco de Paula Pereira & Filho qual o valor do depósito que a Northeam Assurance Company tem no Tesouro Nacional para garantir os milhares de contos que a companhia assegurou neste Estado.

Pede-se a bondosa atenção do Sr. Dr. Procurador Geral da República para as leis sobre este assunto. E assina: Um segurado.

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Encontram-se vários anúncios deste tipo nos jornais da época, fato que nos indica um certo problema em pagar os segurados na hora em que estes precisavam e, por isso, acionavam o seguro. Será que a empresa Francisco de Paula Pereira & Filho passou por dificuldades financeiras? Será que não deu conta ou fugiu de pagar as apólices? Ou será que a empresa inglesa deu um calote? Provavelmente, nunca saberemos.

Em novembro de 1898, um anúncio destinado ao mercado, informa que mesmo com o falecimento do Sr. Francisco de Paula Pereira, sócio da empresa, a Francisco de Paula Pereira &Filho continua a representar a Northeam Assurance Company. Imagina-se que a partir daí, Alberto, filho de Francisco, tenha tomado o seu lugar nos negócios.

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Durou pouco. Sabemos que, como publicado, Alberto foi considerado sucessor da extinta firma de seu pai. E, mais adiante, verificamos que foi decretada a falência de Alberto de Paula Pereira. Muitas notícias existem de processos judiciais a favor e contra pai e o filho. Em uma delas, o Sr Alberto e sua mulher este relacionados a uma ação hipotecária por conta de uma penhora realizada. Seria referente ao palacete da Avenida Paulista? Só Deus sabe.

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É possível que a casa tenha sido comprada e demolida em seguida, ou anos depois, não sabemos exatamente. Então, para apreciarmos um pouco mais a linda mansão de uma família falida, vejam mais uma fotos e o seu desenho em computação gráfica, publicado no site Janela da História.

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No lugar onde ficava a mansão, atualmente encontra-se o Edifício Barão de Serro Azul, no número 1159 da Avenida Paulista, esquina com a Alameda Campinas.

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Edifício Barão de Serro Azul – Foto Jornal Metro

O edifício tem 18 andares comerciais, e sua construção foi realizada em 1976, sendo entregue em janeiro de 1977.  No andar térreo está instalada uma agência do Banco Itau e, em seus andares com 200 condôminos, encontram-se empresas de serviços, associações entre outras, como diversos escritórios empresariais: imobiliárias, escolas de idiomas e clínicas médicas.

Presumimos que o nome foi uma homenagem ao Barão de Serro Azul, que se chamava Ildefonso Pereira Correia, nascido em 1849, na cidade de Paranaguá, no Paraná. Segundo consta, ele foi comerciante e exportador de erva-mate, além de um reconhecido político:  presidente da Câmara Municipal de Curitiba, deputado e vice-presidente da Província. O barão contribuiu muito para o desenvolvimento econômico e cultural do Paraná. Recebeu o título de Barão do Serro Azul em 1888.

Sua participação na Revolução Federalista de 1893 custou-lhe a vida. Em 1894, foi fuzilado no Km 65 da Estrada de Ferro Paranaguá – Curitiba, junto com outros participantes da revolução. Ainda hoje existe uma cruz que marca o local. Engraçado, pois o Barão lutava para tornar independente e separar o estado de Paraná do de São Paulo. Batizou um prédio em Curitiba e outro em São Paulo!

Na verdade, o Edifício Barão de Serro Azul não tem muita graça. Um único fato, muito inusitado, fez o prédio ganhar as mídias em 19 de novembro de 2014. Para contar para vocês reproduzo a matéria do Jornal Metro daquele dia:

Depois de um vidente prever que um avião iria se chocar com um prédio na avenida Paulista, a administradora do condomínio Barão de Serro Azul distribuiu um comunicado prevenindo os condôminos sobre a suposta “tragédia”.

O condomínio fica na rota delimitada pelo vidente Nóbrega da Luz. De acordo com ele, o acidente irá ocorrer no dia 26, em um condomínio na avenida Paulista com a alameda Campinas, próximo ao Hotel Maksoud Plaza. No recado, a direção do edifício afirma que não tem o intuito de ser “sensacionalista” ou “alarmista”.

“Fico com a sensação do dever cumprido e deixo a decisão a cada um responsável pelas suas equipes de trabalho”, diz o comunicado entregue pela administradora do prédio.

Alguns empresários e funcionários que trabalham no prédio já se programam para não ir ao local no dia 26. O vidente Nóbrega da Luz ganhou destaque após afirmar que havia previsto a queda do avião do então candidato à presidência Eduardo Campos.

Abaixo podemos ver uma reprodução do comunicado enviado pelo síndico aos 200 condôminos do edifício.

comunicado - Série Avenida Paulista: dos Silva Pereira ao vidente do Barão do Serro Azul.

É demais não, o Barão de Serro Azul onde é que esteja deve ter chacoalhado suas insígnias! E claro que o fato viraria piada, como publicou o site Bol:

Adesivos com a palavra “premonição” foram colados nos arredores do edifício Barão do Serro Azul, na região da avenida Paulista, em São Paulo, alvo da previsão sobre um acidente aéreo. O voo partiu às 8h30 de Congonhas, na zona sul da capital paulista e aterrissou em Brasília (DF) pouco depois das 10h30.

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Com isso encerro essa história da Série Avenida Paulista… Até a próxima semana!

Edifício Barão de Serro Azul google 500x399 - Série Avenida Paulista: dos Silva Pereira ao vidente do Barão do Serro Azul.

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

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