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Série Avenida Paulista: Escola Estadual Rodrigues Alves de 1919 a 2016

Pela primeira vez, depois de 1 ano e meio de publicações – da apresentação da histórias de 46 casarões e algumas da própria avenida -, a Série Avenida Paulista apresenta um imóvel de uso público que permanece preservado até hoje: o prédio da Escola Estadual Rodrigues Alves.

No início do século passado, o denominado Grupo Escolar da Avenida, que foi fundado em 1907, surgiu para reunir seis pequenas escolas da região. Funcionava precariamente em um casarão, alugado e adaptado para este uso, na esquina da Rua Pamplona com a Avenida Paulista.

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Permaneceu até 1919 neste endereço, até que a escola mudou para um belo prédio, projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, que ficava localizado na Avenida Paulista.

Apesar de, na época, o endereço concentrar residências de grandes empresários e fazendeiros, a escola que, na mudança, foi rebatizada com o nome de Grupo Escolar Rodrigues Alves, não foi criada para receber os filhos da elite paulistana do início do século passado.

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A nova escola surgiu por conta da política de disseminação da escolarização elementar, que foi adotada pelo Estado de São Paulo durante a Primeira República. No governo de Altino Arantes foi iniciada uma concorrência pública, que tinha como objetivo a compra de um terreno para a construção do “Grupo Escolar Rodrigues Alves”. A escolha do nome foi uma homenagem feita ao presidente do Brasil no período entre 1902 e 1906, que morreu no início de 1919, ano da inauguração do grupo escolar.

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O objetivo do novo colégio era propiciar boa educação aos filhos de comunidades menos abastadas, mas o fato não fez com que o prédio fosse menos suntuoso e, assim como as demais construções da época, a edificação construída com pé direito de cinco metros de altura, recebeu lindos vitrais trabalhados e escadarias de madeira.

O edifício possui dois pavimentos, em estilo eclético, como a grande maioria das obras de Ramos de Azevedo, com vários elementos neoclássicos. Constituía parte do projeto um amplo jardim para a entrada das crianças e um pátio interno para as aulas de educação física e o recreio.

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Durante grande parte do século passado, em todas as escolas se observava a divisão por gênero. No projeto foi concebido e, por muitos anos, no Grupo Escolar Rodrigues Alves o primeiro andar era destinado as salas de aula masculinas e o gabinete do diretor e, no andar térreo, ficavam as salas de aulas femininas e a sala dos professores.  No início até a ida aos pátios eram em horários diferentes, só mais recentemente as classes se tornaram mistas.

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Uma iniciativa inédita aconteceu nos anos 1960, em que foram abertas quatro classes especiais para deficientes físicos, sob a supervisão da Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) e, na década seguinte, a instituição manteve uma oficina de trabalhos manuais para esses alunos.

O edifício foi tombado pelo CONDEPHAAT em 1985. No começo dos anos 2000 iniciou-se um projeto de preservação da edificação que, atualmente, é chamado de Escola Estadual Rodrigues Alves.

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A deterioração do prédio na época do restauro.

A obra de preservação aconteceu entre 2003 e 2006, depois de firmada uma parceria com o Banco Real (vendido posteriormente para o Banco Santander) que patrocinou, por meio das leis de incentivo fiscal estadual e municipal, a restauração completa do prédio, no valor de R$ 3,5 milhões. Os governos não gastaram nada com o projeto. A maquete 3D e o resultado do trabalho pode ser visto neste vídeo.

O processo recuperou a fachada com seus detalhes e adornos, as escadas de madeira, os vitrais e, além disso, disponibilizou novo mobiliário escolar e apetrechos para as salas de aula. Foi uma obra cheia de minúcias e detalhes como, por exemplo, a tinta para pintar a edificação teve que ser importada da Itália, pois as cores das tintas nacionais, não se aproximavam do tom de amarelo, original do prédio.

Segundo a empresa Formarte, que realizou o restauro, “durante os trabalhos, foram encontrados afrescos originais, que estavam escondidos sob as camadas de tinta. De acordo com a diretora da escola (..), comenta-se que outras relíquias históricas também estariam escondidas por debaixo das camadas de tinta das paredes da E.E. Rodrigues Alves. “Em 1932, a escola serviu de abrigo para os combatentes da Revolução Constitucionalista, que teriam deixado mensagens daquela época nas paredes do prédio”, conta”.

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O edifício logo após a restauração. Foto: Formarte

Considerando a configuração inicial do edifício, durante este longo período, o prédio sofreu algumas alterações, como a perda de grande parte do jardim fronteiro quando a Avenida Paulista foi alargada e a construção de um galpão em sua parte posterior, para atendimento de um maior número de alunos, mas o prédio principal foi mantido com suas características originais, planejadas por Ramos de Azevedo.

Recentemente, esta que vos escreve, teve a oportunidade de entrar no prédio, acompanhando uma eleitora na votação para prefeito e vereadores da cidade de São Paulo e, com o seu aparelho celular registrou algumas imagens, que hoje são compartilhadas com todos vocês.

fachadas 500x626 - Série Avenida Paulista: Escola Estadual Rodrigues Alves de 1919 a 2016
As duas fotos de cima são da fachada, que é vista da Avenida Paulista, e as duas de baixo, são a parede lateral e a do fundo do prédio.
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Lindos detalhes das portas, janelas e grade que podem ser apreciados em um passeio pela Avenida Paulista. Na terceira imagem, janelas internas, em que são colocadas sementes para germinar e plantinhas dos alunos.
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Visão interna do prédio: as escadas de madeira, o vitral trabalhado, janelas e o corredor das salas de aula do andar térreo.

Boa semana a todos e até o próximo domingo com mais uma história da Avenida Paulista!

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

21 Comentários

  • O jardim foi bastante comentado nas publicações disponíveis. Dizem que Ramos de Azevedo projetou o jardim, para que, ao chegar em meio à balburdia, o aluno tivesse tempo de se compenetrar e se concentrar para entrar no colégio… rsrsrs. Imagina como deveria ser no começo do século passado. A ordem era a lei: veja uma foto interessante que não publiquei mo artigo.

  • Boa tarde,
    Luciana eu estudei nesse monumental Colegio entre os anos de 1969 e 1970, tinha imt local desse majestoso Edifício que era o seu porão; os alunos não tinham acesso, muitas eram as histórias que se houvia sobre ele.
    Tinha um pátio interno enorme onde nos entravamos em forma todos os dias, onde era feita a verificao de uniformes e aceio pessoal.
    Esse local hoje e o novo prédio que nada faz lembrar a majestosa obra de RAMOS DE AZEVEDO.
    E tem muito mais histórias.
    Abraços Fraterno

  • Boa tarde,
    Luciana eu estudei nesse monumental Colegio entre os anos de 1969 e 1970, tinha imt local desse majestoso Edifício que era o seu porão; os alunos não tinham acesso, muitas eram as histórias que se houvia sobre ele.
    Tinha um pátio interno enorme onde nos entravamos em forma todos os dias, onde era feita a verificao de uniformes e aceio pessoal.
    Esse local hoje e o novo prédio que nada faz lembrar a majestosa obra de RAMOS DE AZEVEDO.
    E tem muito mais histórias.
    Abraços Fraterno

  • Parabéns pela matéria, eu estudei de 73 a 80, e temos um grupo no face https://web.facebook.com/groups/radecada70/, que se encontra no mínimo, duas vezes por ano, para comemorar nosso encontro que já está no XI, eu tenho muitas fotos, inclusive , as turmas da AACD, e sua primeira professora Terezinha Pacheco, que sempre que possível, vai em nossos encontros, a turma da AACD, em algumas aula, juntava-se com as nossas turma, e auxiliávamos aonde eles tinham mais dificuldades.

  • Estudei de 1967 a 1975, quando não pudemos continuar pois o “colegial”, não fazia mais,parte dessa escola,infelizmente. A base educacional foi extraordinária, me orgulho de ter estudado e vivido uma parte da minha vida alí. Resgatados e unidos, formamos grupo de ex alunos há onze anos, reunidos em encontros anuais, e outros. Satisfação , alegria e felicidade… eternizamis nossa amizade..

  • Como não falar deste colégio tão querido, que guarda tantas estórias dos alunos que lá frequentaram. Eu tenho muito orgulho, de ter estudado nessa escola, e também, dos amigos e professores que lá conheci.
    Tivemos a oportunidade de reencontrar muitos deles, e fazer novas amizades com outros que lá estudaram; alguns na mesma época, e outros de uma outra época. Mas, que trazem consigo uma linda estória e o amor pela escola que todos estudamos! O ponta-pé inicial, dado pelo Julio Nakano, que nunca desistiu de procurar pelo alunos do Rodrigues Alves, e colecionar as variadas estórias e reuni-las uma por uma. Trabalho árduo, mas sempre com a perseverança e carinho, obrigada Julio Nakano!!!

  • Estudei no Rodrigues Alves nos anos 70. É muito bom ver um prédio tão bonito bem preservado. Parabéns pela matéria! Adorei.

  • Comecei a estudar nessa escola em 74..Ela foi, é e será a paixão da minha vida. Saudades. Ótima matéria.

  • Quantas histórias vivi dentro desse prédio. Bons momentos com boas pessoas. Estudei na década de 70 e sempre que passo aí na frente bate aquela saudade de tudo que era aquela época. Meu pai e meu tio estudaram aí tb e sobram histórias da época dele também.

  • Muitas saudades desta escola. Grandes amigos da época que carrego até hoje comigo. O ensino foi bom. E continua charmosa como sempre.

  • Quantas saudades de tudo e de todos. Estudei ai de 1973 à 1978…foram os melhores momentos da minha vida…
    Sempre que passo pela avenida Paulista, “tenho” que passar em frente ao Rodrigues Alves…
    Parece que tem um pouquinho de cada um de nós lá ainda..
    Belo texto! Parabéns Luciana

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