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Série Avenida Paulista: a história das netas do Ministro Rocha Azevedo – Parte 3

A Série Avenida Paulista apresenta a emocionante história de duas Damas, Renata e Yolanda, de mais de 90 anos, netas do Ministro Rocha Azevedo, que viveram a infância na casa do avô, na avenida Paulista, esquina com a rua que leva seu nome.

Lembranças resgatadas pela Maria Eugenia, filha de Yolanda, que nos felicita com esse belo presente. A todas elas, o nosso muito obrigada. Com a palavra, Maria Eugenia.

As Donas da História: Renata e Yolanda, “As Damas”.

Nesse domingo, Dia das Mães venho contar as histórias vividas por Renata e Yolanda, na casa da Avenida Paulista nº 58.

Nas últimas duas semanas tive a oportunidade de descrever como tudo começou, a abertura da Avenida Paulista, como era a casa inicial (que pode ler lida neste link), a sequência das gerações que nasceram e viveram sob aquele teto (neste link).

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A casa nº 58 da Avenida Paulista, à esquerda, antes da reforma e, à direita, após 1923, quando foi ampliada.

E as histórias vividas ali foram muitas. Ao contá-las sinto como se estivesse entrando pelo portão e olhando, vejo todos eles: bivô Rocha Azevedo, bivó Maria Eugenia, minha avó Nair…todos eles abrindo a porta e nos convidando a entrar…

A vida na Casa da Avemida Paulista

As “Damas”, como já foi relatado nos artigos anteriores, são netas do Ministro Álvaro Gomes da Rocha Azevedo e Maria Eugenia, filhas da segunda filha deles, Nair. As duas foram a segunda geração nascida na casa nos meados dos anos 20.

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Renato, Nair com Renata no colo e a ama Herna com Yolanda ainda bebê. Novembro de 1925.

Naquela época as crianças pequenas de famílias abastadas tinham uma ama que cuidava do dia a dia das meninas.  Elas tinham sua própria rotina e horários, faziam suas refeições em separado, na salinha do café da manhã só passando para a sala principal depois dos 12 anos, quando já tinham noção da etiqueta e dos modos exigidos nas refeições.

A roupa das crianças era bem mais complexa do que as de hoje: eram anáguas, combinações, roupas cheias de botões e laços de fita nos cabelos. As crianças usavam chapeuzinhos e manteaux (casacos de lã) ao saírem a passeio.

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Renata e Yolanda brincando no quintal, ao lado, e passeando num domingo com a mãe Nair, vestidas com manteaux e chapeuzinho.

A casa tinha muitos empregados como cozinheira, arrumadeira, lavadeira, motorista, garçom e jardineiro. Era uma construção grande, com muitas pessoas e um terreno enorme. As empregadas dormiam todas juntas num grande quarto no porão da casa e os homens dividiam um quarto que tinha saída para o quintal.

Minha avó Nair, com o passar do tempo, assumira a liderança do serviço doméstico. D. Cotinha, minha bisavó Maria Eugenia, estava sempre envolvida nos seus compromissos sociais, com Associações Beneficentes e atividades das senhoras da Igreja.

Então cabia a Nair fazer com que a casa funcionasse, que a comida fosse excelente, que as compras fossem feitas e que os empregados seguissem à risca o esquema estabelecido. Estava, muitas vezes, a frente do fogão já que tinham coisas que só ela sabia fazer a contento. Eram empadinhas, toucinhos do céu, quitutes que ela chegou à excelência. Os livros de receitas são preciosidades guardadas na família.

No final da tarde uma empregada subia, abria as camas, tirando as colchas e dobrando os lençóis. Fechava as janelas e preparava as camisolas aos pés da cama.

Toda noite, minha avó fazia papelotes nos cabelos de minha mãe Yolanda para que eles ficassem cacheados. O cabelo era umedecido, repartido em mechas e cada uma delas enroladas em um pedaço de papel que terminava em um nó. E ela dormia assim! Minha tia Renata escapava dessa “tortura”pois tinha os cabelos tão lisos que nada conseguiria cacheá-los.

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De manhã cedo, no quintal de pijama: Yolanda de papelotes nos cabelos junto com sua irmã Renata e a filha de um amigo da família. No canto vemos Dolly a cachorrinha.
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Os cachos de Yolanda.

O Natal:

Na memória de Renata e Yolanda ficaram marcados para sempre os dias de Natal. Não havia grandes festividades na casa da família, mas minha avó Nair fazia questão de montar a árvore para as filhas.

A sala de jantar tinha uma bow window (que é uma janela com várias faces de janelas formando um arco), dando para o jardim lateral. Ao lado dessa janela havia 2 bancos de madeira.

A sala de jantar era fechada na véspera para que uma grande árvore natural fosse montada na frente dessa janela, entre os dois bancos.

As meninas mal podiam dormir com tanta expectativa. A porta só era aberta na manhã de Natal para que elas pudessem ver seus presentes de São Nicolau. Nesse tempo ainda não havia sido propagada a versão americanizada do Papai Noel.

A árvore chegava quase ao teto da sala e era toda decorada com os enfeites natalinos e também com saquinhos de filó pendurados nos galhos, cheios de doces de marzipã, que é um doce alemão feito de amêndoas. A árvore era iluminada por pequenas velas em castiçais de latão. O pinheiro natural e os doces impregnavam o aposento com seu aroma marcante e ficou sendo para sempre o “cheiro de Natal”.

Sob a árvore ficavam os presentes e também alguns brinquedos mecanizados que só nessa data eram trazidos para que as crianças brincassem. Minha mãe lembra bem da carrocinha de padeiro e da pequena enfermeira de corda que andava com seu passinho truncado; antigos brinquedos alemães que faziam o deleite das meninas.

Em tempos de pouco consumo, além do presente de Natal, era comum ganharem presentes que haviam sido de outras crianças da família. Até hoje temos vários livros infantis, que passaram de geração em geração. Em um dos bancos ficavam os presentes de Yolanda e no outro banco, os de Renata.

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Livros que as meninas ganharam durante a infância. Vários foram dados pelo Tio Alvrinho que havia sido o antigo dono. A maioria das edições é de 1910/ 1920.
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Bonecas vestidas para uma festinha no jardim. A de corpete escuro era Emília e o bebê do canto existe até hoje.

Apesar de terem nascido nos anos 20 em uma família tão tradicional, as meninas quando ficaram maiores, tiveram uma infância muito livre e pouco formal. Era exigido que elas fossem educadas e corteses, mas viviam numa casa enorme, com os adultos envolvidos em seus afazeres e elas com tempo de sobra para brincar.

Quando chegaram na idade certa entraram para o jardim de infância do Externato Elvira Brandão onde estudaram até tirarem o diploma do ginásio.

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Com uniformes do Externato Elvira Brandão. À esquerda, no Jardim de Infância com suas lancheiras de metal. À direita, Renata com o uniforme do ginásio.

Na falta de filhos homens, Renato era muito companheiro das filhas e brincava com elas de salto em altura, medicineball e exercícios na barra fixa. A manhã era reservada para que ele supervisionasse os cuidados com as criações e com a horta no fundo do quintal e também era hora de brincar com as filhas.

A frase dele para as filhas era: “Seja homem!”, querendo fazê-las fortes para enfrentarem a vida. Apesar desse jeito aparentemente brusco, ele era muito carinhoso, afetuoso e alegre, mantendo esse temperamento durante os 86 anos de vida, com netos e bisnetos.

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Renato, com Renata e Yolanda, no colo.

Renato vinha de uma família com vários irmãos e contava para as filhas histórias das traquinagens impossíveis que ele e os irmãos faziam na infância, na fazenda da família.

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Renato, sentado de braços cruzados, com os irmãos Aguinaldo (ao alto), Antoninho (com um arco na mão). Marcelo e a irmã Lilota (por volta de 1907).

As meninas inspiradas por esses relatos viviam aprontando brincadeiras sem fim, andando de patins e bicicletas. Subiam nas árvores, comiam jabuticabas sem parar e brincavam com o cachorro Mitty, um fox terrier temperamental que só era manso com os membros da família.

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Renata e Yolanda (de boina) com o querido Mitty, o Fox terrier que acompanhou a infância e a juventude delas.

Yolanda lembra de um dia em que estava fazendo “loucuras” de patins, o avô Álvaro chegou na janela de seu escritório gritando: “Nair, essa menina vai se matar!!!” Até nas jabuticabeiras ela subia com os patins nos pés e segurando em uma corda brincava de Tarzan, caindo no chão em piruetas arriscadas.

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Yolanda, de patins nos pés com a prima Cecília Lourdes na bicicleta. Na lateral da casa.

O fundo do quintal:

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Aquarela pintada por Yolanda em 1945 mostrando a cerca que dividia o jardim do fundo do quintal. Podemos ver as jabuticabeiras queridas, o chão de terra e lá atrás a casinha de bonecas que o pai construiu para elas.

Além da cerca de madeira que dividia o terreno ficava o fundo do quintal. Era uma grande área onde estavam os canteiros da horta, muitas árvores e os galinheiros.

Criavam-se patos, galinhas, perus e, durante um período, até coelhos para horror da minha mãe que não se conformava que alguém pudesse comer um bichinho lindo daqueles.

Renato construiu para as filhas uma casa de bonecas no fundo do quintal. Era uma casinha habitável, toda de madeira, com varanda, janelas e portas. Dentro, a pedidos das meninas, foi posto um guarda-roupas de criança e através do seu fundo foi feita uma saída secreta.

Com a imaginação atiçada pelas aventuras da infância do pai e pelas leituras de Monteiro Lobato e Mark Twain, as meninas, junto com o primo Fernando, filho de um dos irmãos de Renato, criaram “O Bando da Caveira Negra” com regras, juramentos e símbolos, aumentando a emoção das brincadeiras.

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A casinha de bonecas construída no fundo do quintal. Tinha varanda, cortinas nas janelas e flores à volta toda. Ao lado o primo Fernando, vestido de índio pele vermelha, bem no espírito das brincadeiras.

Quando as colegas de escola vinham para visitá-las, a graça era entrar na casa e depois aparecerem inesperadamente atrás das meninas, saindo escondidas pela saída secreta.

Como Renata nasceu no dia 7 de setembro, essa data era sempre dia de festa na casa, com familiares e amigos vindo para o aniversário e aproveitando o feriado para assistir à Parada de Sete de Setembro que ocorria na Avenida Paulista.

Yolanda, na sua inocência de criança, achava que a parada era em homenagem à irmã Renata e pensava ser uma injustiça não ter outro desfile militar em seu aniversário, 10 dias depois…

No muro que dava para a Avenida Paulista havia um terraço onde a família se reunia para ver a Parada de Sete de Setembro. Abaixo dele foi instalado um ponto de bonde. Renata e Yolanda contam que se divertiam jogando folhas secas e sementes nas abas dos chapéus dos homens que esperavam a condução, sem que eles percebessem. Ao cumprimentarem alguma senhora, a “chuva” de folhas secas fazia as crianças darem boas risadas escondidas atrás do muro.

Durante a infância delas, o avô Rocha Azevedo construiu várias casas no terreno. Algumas dando frente para a Alameda Santos, no fundo do terreno e outras na lateral, dando para a Alameda Ministro Rocha Azevedo. Já contamos sobre isso no artigo da semana anterior.

Renata e Yolanda lembram vivamente da construção dessas casas e de como se divertiam escalando as pilhas de pranchas de madeiras que ficaram empilhadas no quintal. Nessa época, para não matarem as árvores que ficavam onde as novas casas subiriam, transplantaram as jabuticabeiras, arrastando-as com um guindaste para o jardim da casa. As crianças ficaram muito impressionadas com todo o movimento e as marcas deixadas no piso de cimento pelas raízes das árvores, nunca saíram.

Texto de Yolanda aos 88 anos

Hoje me lembrei! Meu Deus, como amei minha infância e meninice! Um jardim enorme, “mil” árvores, “mil” flores.. Minha avó ( D Cotinha) andava pelo jardim com o jardineiro ao lado e ia podando, fazendo enxertos nas roseiras.  Nos prometia moedas por cada lagarta que pegássemos no pé de manacá!

Quantas flores! O terreno era enorme; tinha uma divisão no jardim, uma grande porteira e depois…o fundo do quintal. Lá tinha o galinheiro. Meu pai fazia “tourada” com um galo que ficou tão feroz que quando o lixeiro; numa bruta carroça puxada por burros, ia entrar pelo portão, era atacado pelo nosso cachorro Mitty e também pelo galo! Só entrava estalando o chicote!”.

Nesse terreno as meninas viviam suas aventuras infantis, acordando cedo, tomando o café da manhã e descendo pela escada da cozinha, direto para o quintal. Yolanda já tomava o café da manhã com os patins nos pés.

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Yolanda com os queridos patins e, à direita, com sua boneca preferida. Ao fundo vemos a escada da cozinha com a porta do quarto da lenha e o portão de uma das garagens.

Quando chegavam da escola, o caquizeiro era a “sala de estudos” e lá em cima, Yolanda guardava tinteiro e caneta para fazer seus deveres de casa encarapitada lá em cima!

As atividades junto à Igreja da avó D. Cotinha acabava envolvendo as netas. Quando havia procissão, elas e a prima Cecília Lourdes, filha da tia Jacyra, eram escolhidas para se vestirem de anjos. Eram momentos de muita animação e também de ciúmes, pois as asas de Renata eram maiores e mais bonitas, já que sendo a mais velha, tinha asas de Arcanjo.

No dia seguinte, as asas serviam para “voar” pelo quintal…

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Yolanda, a prima Cecília e Renata (com asas maiores) posando na elegante sala da casa da tia Jacyra.

Na Sexta-feira Santa saíam de carro com a avó para percorrerem 7 Igrejas. As meninas adoravam o ritual de saírem com a avó, entrarem nas igrejas com véu na cabeça, o cheiro do incenso, as luzes baixas, as rezas sem fim e o momento de contemplar a imagem de Jesus Morto, que elas achavam lindo.

A Revolução Constitucionalista de 1932  

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Capacete que meu avô Renato usou na Revolução de 1932 e ao lado o detalhe da inscrição que existe no couro que reveste internamente o capacete.

Na década de 30, a casa da Avenida viu explodir outra revolução. Em 1924 durante a Revolução Paulista, a família se refugiara numa fazenda perto de Ribeirão Preto, não participando do conflito. Mas, em 32, Renato foi chamado e se alistou partindo para a frente de batalha dos Constitucionalistas, que eram contra o presidente Getúlio Vargas.

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À esquerda, Carta da força Pública do Estado de São Paulo, agradecendo e elogiando o desempenho de meu avô Renato na Revolução de 1932. e à direita, Carta de meu avô Renato para minha avó Nair dando notícias do front da Revolução. Conta que conseguiu um capacete novo e avisa que não chegará a tempo de comemorar o aniversário de minha mãe.

Com o pai na frente de batalha, as meninas vivenciaram o momento político de maneira apaixonada. Havia muita rivalidade entre os que apoiavam a Revolução e os que apoiavam o governo federal. Yolanda conta que se envolveu em uma briga com uma colega de escola, que se dizia brasileira, mas para os revolucionários, eles eram paulistas acima de tudo! A bandeira de São Paulo tomou o lugar da Bandeira Nacional.

O pai chegava inesperadamente, fardado, ficava alguns dias e depois partia novamente. Era sempre uma surpresa, tanto a chegada quanto a ida. As meninas se impressionavam com os relatos e as armas que trazia para casa. O que mais chamava atenção era a espada e o capacete, além das armas de fogo e mesmo uma granada que foi transformada em tinteiro.

A família, inteiramente alinhada com a Revolução, doou joias e alianças de casamento recebendo os anéis: “Dei ouro para

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Espada usada por meu avô na Revolução de 1932. No punho existe uma inscrição com a data da Proclamação da República, 15 de novembro de 1889.

o bem de São Paulo”. Os símbolos da Revolução viraram moda e as moças usavam orgulhosas, cintos e broches com as cores da bandeira paulista e berloques alusivos à causa como as miniaturas dos capacetes, como mostra a imagem abaixo.

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Para as crianças, principalmente para minha mãe que era pequena, não havia angústia, pois, o pai era invencível; um herói que enfrentaria qualquer perigo sem se ferir mas imagino como deve ter sido difícil para minha avó Nair manter a tranquilidade com o marido se arriscando.

As meninas cresceram cercadas pela família. A prima Cecília Lourdes era companhia constante juntamente com o primo Fernando e sua irmã Maria Silvia. Brincavam no sótão da casa, encenando peças de teatros e números musicais com as roupas antigas dos baús, Yolanda era a estrela dos musicais imitando Fred Astaire e Gene Kelly.

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Yolanda e a prima Cecília Lourdes encenando um número musical para a família.
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Família no jardim lateral da casa com o avô, Ministro Rocha Azevedo, sentado recebendo a visita da irmã que morava em Portugal, tia Ericyna e a filha Silvia. Jacyra em pé ao lado do pai e Yolanda e Cecília sentadas no chão.

Todo domingo de manhã meu avô Renato levava minha avó Nair e as filhas à missa no Largo de São Bento e depois iam tomar refrescos. De tarde saíam novamente para irem ao cinema e depois à Confeitaria Seletinha para o lanche de domingo.

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A família passeando no domingo. Renato e Nair com as filhas e a tia Jacyra.

Quando cresceram, a vida social das meninas era visitar as amigas da escola, frequentarem o Clube Paulistano, festas e bailes.

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À esquerda, Yolanda com o primeiro vestido de baile. à direita, Renata e Yolanda no Baile de Carnaval no Clube Paulistano.

Meu avô gostava muito de passear, e a família vinha constantemente ao Rio de Janeiro. Pegavam o navio em Santos e passavam férias em Copacabana.

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À direita, passagem de navio em 1933 com o nome da família, que ia de férias para o Rio de Janeiro. À esquerda, meu avô, com os trajes típicos da época, e minha mãe Yolanda nas areias de uma Copacabana cheia de casas.

Esses períodos no Rio de Janeiro foram ficando cada vez maiores. Havia familiares na cidade, as meninas fizeram várias amizades e meu avô fazia contatos importantes para os negócios dele. Nessas viagens frequentes, minha mãe conheceu meu pai, Mauricio Augusto Azevedo de Almeida, carioca de Copacabana.

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Meu pai Maurício e minha mãe Yolanda, em Copacabana em 1939.

Depois que o avô Rocha Azevedo ficou doente e faleceu em 1942, a família foi se mudando da Avenida Paulista. Alvrinho já morava em outra casa e Renato e família foram morar em um apartamento na Rua da Consolação.

A avó Maria Eugenia continuou na casa da Avenida Paulista morando com a filha Jacyra, que havia se separado, e a filha dela, Cecília Lourdes. Mas isso eu já contei no final do artigo da semana passada.

O que aconteceu com as Damas

Depois da guerra, quando a casa foi demolida meus avós Nair e Renato, vieram morar no Rio de Janeiro, no Leblon e aqui se estabeleceram.

Minha tia Renata não se casou; dedicou sua vida a viajar pelo exterior e pelo Brasil, fazia parte de um Grupo Excursionista, cantou como contralto durante muitos anos no Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e, formada em inglês, trabalhou até os 70 anos em tradução de patentes, primeiro em um escritório e depois em casa.

Pintou quadros, se dedicou ao hobby da fotografia, usando inclusive vários equipamentos que haviam sido da avó Cotinha.

Inteligente e curiosa, hoje está conectada na internet se mantendo atualizada sobre os assuntos de política, mercado financeiro e documentários. A leitura, geralmente em inglês é feita, muitas vezes, num Kindle.

Tem uma memória invejável e foi ajuda imprescindível para que eu pudesse escrever esses artigos. Viveu com os pais, meus avós, até a morte deles.

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Tia Renata Eugenia, consultando os antigos álbuns de fotografia em sua casa, aos 92 anos. Fotografia: Mauricio Cascardo

Meu avô Renato morreu em 1985, aos 86 anos.  Minha querida avó Nair, morreu em 1993, aos 94 anos de idade. Tiveram uma vida boa, cercados pela família e queridos por todos.

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Meus avós Renato e Nair em meu casamento em 1980.

Minha mãe se casou com meu pai em 1953. Um amor que durou a vida toda.

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À esquerda, minha bisavó Maria Eugenia e seu filho Álvaro Filho, no casamento de meus pais em 1953.

Tiveram 3 filhos: meu irmão Fernando Augusto (bisneto mais velho do Rocha Azevedo), nascido em 1954 e já falecido e eu e minha irmã gêmea Maria Beatriz nascidas em 1956!

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Quatro gerações: Minha bisavó Maria Eugenia, minha avó Nair, minha mãe Yolanda Maria, com meu irmão Fernando no colo.

Minha mãe se dedicou a família e é uma artista na pintura. Aprendeu a pintar porcelana nos anos 60 e desde então é professora dessa técnica. Continua dando aulas todas as semanas, mesmo aos 91 anos. Participou de inúmeras exposições, inclusive internacionais.

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Peças de porcelana pintadas por Yolanda numa exposição internacional no Rio de Janeiro
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Minha mãe Yolanda posando com um leque da minha bisavó Maria Eugenia. Fotografia: Mauricio Cascardo

Apesar de ser bem criança e morar no Rio de Janeiro, íamos sempre a São Paulo e me lembro muito da figura impressionante da minha bisavó Maria Eugenia, a Bivó. Uma mulher alta, com mais de 1,70 de altura, porte de rainha com cabelos brancos sempre presos em um coque. Seus vestidos eram sempre escuros como era hábito na época para as viúvas. Eu a olhava envaidecida por ter herdado seu nome.
Lembro de uma vez ir ao seu quarto. Na mesinha de cabeceira havia inúmeros frascos de remédio de homeopatia, método que ela usou a vida toda, e no canto um aquecedor de ambiente com uma chaleirinha em cima.  Ela estava deitada na enorme cama de casal com seu cabelo branco, comprido, solto espalhado no travesseiro.
Uma visão impressionante para uma menina de 5 anos criada num apartamento no Leblon!

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Eu e minha irmã gêmea Maria Beatriz posando ao lado de nossa mãe. Fotografia: Mauricio Cascardo.

Todos eles de quem eu falei nesses domingos, me deram essas histórias maravilhosas de presente. Mais do que simplesmente histórias, me deixaram exemplos, aptidões, valores e um senso de pertencer. Passei isso a meus filhos que também se apropriaram dessa história que levam como bagagem pela vida.
Às Damas, que dividiram isso tudo comigo e principalmente à minha mãe, que me deu a vida, eu dedico essas memórias.

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Semana que vem contarei a biografia do meu bisavô Álvaro Gomes da Rocha Azevedo.

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

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