A Série Avenida Paulista desta semana apresenta um mistério que esperamos esclarecer junto com vocês e, em especial, da família Gavião Peixoto.
No livro de Benedito Lima de Toledo, “Álbum Iconográfico da Avenida Paulista” é mostrada uma casa em nome de Josefa Gavião Peixoto, que ficava entre a Alameda Joaquim Eugênio de Lima e a Carlos Sampaio/Maria figueiredo, mas sem precisar sua numeração. A legenda diz que a casa foi projeto do escritório de Ramos de Azevedo, no ano de 1915.
Nas pesquisas levantamos que Josefa nasceu em 1830 e seu sobrenome de solteira era Ribeiro da Silva. Era filha do capitalista comendador Antônio José Ribeiro da Silva. Ela casou-se com Bernardo Avelino Gavião Peixoto, herdando o sobrenome do marido e, com ele teve 6 filhas: Josephina, Anna Rita, Maria da Gloria, Rita e Bernardo e Antonio.
Depois de casada, ficou conhecida com 2 nomes diferente: Josepha Ribeiro Gavião e Josefa Gavião Peixoto.
Seu marido foi um homem muito conhecido à sua época. Bernardo Avelino Gavião Peixoto nasceu no ano de 1829, em São Paulo. Seu pai, o Brigadeiro Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, foi um importante militar e fidalgo do Foro Grande da Casa Imperial, Vereador da Imperatriz e Comendador da Ordem de Aviz. Também exerceu a política, tendo sido deputado do Império e Presidente por duas vezes da Província de São Paulo (1836-1838 e 1847-1848). Casado com Anna Policena de Andrade e Vasconcellos, de quem teve 3 filhos: Bernardo Avelino, José Maria e Camilo.
Bernardo Avelino Gavião Peixoto formou-se em Direito pela Academia de São Paulo, em 1849, e dedicou-se à magistratura e representou a cidade na Câmara dos Deputados em várias legislaturas.
Gavião Peixoto foi nomeado por carta imperial de 18 de fevereiro de 1882, presidiu a província do Rio de Janeiro, de 16 de março de 1882 a 28 de outubro de 1883. Rle foi um dos primeiros a idealizar uma ligação entre Rio e Niterói por meio de uma ponte, sonho que viria a ser realizado somente na década de 1970.
Era proprietário de vasta extensão de terras no interior paulista que pertenciam a Sesmaria de Cambuhy, como era chamado o local. Em sua homenagem, o núcleo formado às margens do Rio Jacaré-Guaçu, recebeu seu nome quando foi fundada a cidade de Gavião Peixoto.
A casa da fazenda São Bernardo, construída por ele, no ano de 1873, ainda existe. A porta do casarão é a original, de madeira maciça, no alto tem a inscrição das letras B.A.G.P. e o ano da construção. Diz a história que essas letras foram as primeiras que Tarsila do Amaral aprendeu ler, quando passava dias na fazendo em sua infância.
No trabalho intitulado “Os Núcleos Coloniais do Cambuhy” de Mivaldo Messias Ferrari, identificamos que “no dia 31 de outubro de 1.906, o casal Bernardo Gavião Peixoto e Josepha Ribeiro Gavião, através de escritura pública, do total de cerca de 31 mil alqueires, vendeu 2.500 alqueires e doou outros 2.500 para o Governo do Estado de São Paulo.
Demarcada a área constatou-se a existência de aproximadamente 6.000 alqueires. Assim, através do Decreto n 1.432, de 12 de janeiro de 1.907, o Governador Jorge Tibiriça criou nessas terras adquiridas os núcleos coloniais: “Nova Europa”, “Nova Pauliceia” e “Conselheiro Gavião Peixoto”, cada um compreendendo uma área aproximada de 2.000 alqueires. ”
A busca das origens do palacete da Avenida Paulista, encontramos outras residências pertencentes à família.
O pai de Bernardo tinha uma chácara localizada no morro de São Bento, que ficava entre as atuais ruas Mauá, Brigadeiro Tobias, Washington Luís e Avenida Prestes Maia. A chácara de Bernardo Gavião seria depois repartida entre três de seus filhos, que aí manteriam suas residências.
No artigo “Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana” de Eudes Campos encontrar duas fotos legendados das casas dos irmãos Bernardo Avelino e José que podem ser vistas abaixo:
Ficamos sabendo também que em algumas destas casas foram feitas com “pedra artificial”, ocorrida pelo surgimento, na região do Bom Retiro, da fábrica de “pedra artificial” de propriedade de João Ribeiro da Silva, que era advogado, banqueiro e empresário.
O artigo citado afirma que “Ribeiro da Silva tinha duas irmãs suas casadas com dois dos irmãos Gavião, Bernardo Avelino e Camilo, e era dono da importante Olaria do Bom Retiro, grande importadora de cimento. Decidindo ampliar os seus negócios, associou-se a Guilherme Clavel, conhecedor da técnica francesa da “pedra artificial”.
(…). Por intermédio da imprensa paulistana, Ribeiro da Silva chegou a adiantar, em 1875, que o Desembargador Bernardo Avelino Gavião Peixoto, outro irmão de José Maria e Camilo, construiria sua futura residência com elementos de “pedra artificial” produzidos na fábrica recém-inaugurada. Anos depois, porém, admitia um outro anúncio que era o sobrado de José Maria e Maria Cantinho que se encontrava decorado com motivos arquitetônicos feitos com a nova técnica de pré-fabricação”.
Aqui vemos uma conexão com Josefa Gavião Peixoto, a proprietária da casa da Avenida Paulista. Além de ser casada com Bernardo, ela era irmã de João Ribeiro da Silva, empresário envolvido com a construção civil conforme publicado no artigo sobre Charles Peyronton, dizendo que a construção da “casa de José Maria mais ou menos na mesma época em que o Dr. João Ribeiro da Silva, cunhado de dois dos irmãos de José Maria, contratava o francês para desenvolver projetos residenciais a serem oferecidos a quem comprasse lotes em Santa Ifigênia comercializados pela Olaria do Bom Retiro, conforme anúncios publicados na imprensa diária em 1878”.
Além disso, percebemos que a casa da Avenida Paulista tem as mesmas colunas como se fossem feitas de pedras, que aparecem na casa de José Maria Gavião Peixoto, provavelmente fornecidas pela empresa do irmão. Confiram nas fotos.
Verificamos que após o falecimento do marido em março de 1912, Josefa esteve à frente das iniciativas beneméritas e as que se referiam as propriedades da família. No jornal Correio de São Paulo existem várias publicações da época que mostram sua atividade.
Ela aparece como uma das patrocinadoras da construção do Instituto para Cegos Padre Chico que existe até hoje na Rua Moreira de Godoi, no Ipiranga.
E mais ainda seu nome é veiculado relacionado as ações relativas às propriedades da família, como por exemplo, quando em julho de 1922, é convocada para assinar um contrato de uma obra ou, em julho de 1923, no qual faz um acordo sobre obras com a municipalidade.
Ainda aparecem em seu nome uma casa na Avenida Angélica (1926) e outra na Brigadeiro Tobias (1927) e uma autorização de reforma e alargamento na casa da Rua Mauá (1923)
O projeto da casa da Avenida Paulista, feito por Ramos de Azevedo, data de 1915, portanto poucos anos após o falecimento de seu marido. Talvez este seja uma das primeiras iniciativas neste campo. Portanto, podemos concluir que Josepha foi bastante ativa depois que ficou viúva até a sua morte em janeiro de 1929.
Isso foi tudo o que conseguimos identificar sobre a proprietária e sua frondosa mansão da Avenida Paulista. Nem ao menos conseguimos precisar sua localização. Sem isso, não conseguimos identificar qual dos prédios atuais da avenida foi construído no terreno em que se encontrava a mansão.
Por isso, pedimos a colaboração de alguém que saiba alguma informação adicional que possa contribuir com a reconstrução dessa história, principalmente, pedimos ajuda aos descendentes da família Gavião Peixoto.
Conheça mais sobre a história dos casarões da Avenida Paulista aqui.
Ac
Espero que apareça alguém da família para esclarecer a localização exata do palacete.
Espero também Mafalda. ??
Precisamos de informações sobre a mansão de Josefa Gavião Peixoto na Avenida Paulista. Você pode ajudar? Conhece alguém que possa? #serieavenidapaulista #galvãopeixoto
google
Dulce Mráz Já foi escarafunchado e nada…
sugiro procurar nos lançamentos de impostos
Edinho Lilian
Belíssimo trabalho de resgate da história de nossa cidade… Parabéns Luciana Cotrim, na torcida por maiores esclarecimentos em torno da mansão.
Valdo, obrigada! Tomara que alguém possa ajudar…
Cara Luciana, você já consultou a “Décima Urbana”, definida como “imposto que recaía sobre o rendimento coletável de uma propriedade arrendada, o qual era devido ao erário público”? Existem arquivos na Biblioteca do Museu do Ipiranga.
As juntas de lançamento da décima urbana surgiram a partir do alvará de 27 de junho de 1808, que criou o imposto da décima para os prédios urbanos em condições habitáveis dentro dos limites das cidades e vilas que, segundo as demarcações das devidas câmaras, fossem localizadas à beira-mar, em todo Estado do Brasil e nos domínios portugueses. O tributo consistia no pagamento anual para a Real Fazenda, por parte dos proprietários, de 10% do rendimentos líquidos dos prédios, recaindo ainda sobre os prédios aforados.
A imposição da décima era uma prática conhecida em Portugal, tendo sido estabelecida pela primeira vez através da lei de 5 de setembro de 1641, durante o reinado de D. João IV (1640-1656). Visando fazer face às despesas de organização das forças militares do país após a Restauração, cada cidadão deveria contribuir com 10% de todos os seus rendimentos e bens de raiz. Tal cobrança deveria incidir não apenas sobre a propriedade predial, mas sobre qualquer tipo de rendimento, sem isentar rei ou clero.
Na décima urbana instituída no Brasil, o cálculo tomava por base o rendimento líquido dos prédios alocados. No caso do uso dos prédios pelos próprios proprietários, tal cálculo seria feito pela renda presumida em arbitramento, e nos prédios aforados, pelo foro anual. Estavam isentas da cobrança da décima urbana as colônias da Ásia, cuja justificativa era a “decadência em que se achavam”; os prédios que pertencessem às santas casas de misericórdia; e os rendimentos da agricultura, já onerada pelo dízimo.
Com a criação do imposto no Brasil, foram instituídas as Juntas da Décima em todas as cidades e vilas, para as quais seriam nomeadas “pessoas responsáveis” para formar e dirigir os lançamentos. Na Corte, a Junta era presidida por dois superintendentes, que seriam os dois juízes do crime nomeados nesta mesma data, cabendo a cada um deles o lançamento da décima em duas freguesias. Haveria ainda, em sua estrutura, um escrivão, dois “homens bons”, um nobre e outro do povo, dois carpinteiros, um pedreiro e um fiscal, que seria um advogado. Todos estes membros deveriam ser propostos pelo superintendente e aprovados pelo Conselho da Fazenda.
A Décima Urbana funcionou até 1830. Se a família Gavião Peixoto possuía terrenos por essa época, eles estão lançados ali.
Caro Luis,
Quanto conhecimento. Muito obrigada pela explicação de como funcionava a Décima Urbana. É possível que a família Galvão Peixoto tivesse terrenos neste período, mas o meu interesse específico é pela casa da Avenida Paulista, e como ela foi inaugurada em 1894, não será este o caso. Muitíssimo obrigada, com certeza guardarei as informações para a próxima pesquisa que fizer.
Marcela Ortegosa
Livia Liria Avelhan
Massa!
Só sei que nada sei
Que pena!!!!
Era assombrada pela dona Augusta há 400 anos atrás.???
?????
Olá, Luciana
Parabéns! Você matou a charada. No meu site Arquipaulistana tenho um estudo sobre Yan de Almeida Prado (1898-1987), o primeiro historiador a se interessar pela velha arquitetura da cidade. Entre seus papéis hoje em meu poder (cópias xerográficas) há um texto que faz referência à nova casa da viúva de Bernardo Avelino. Mas as informações colhidas oralmente estão estropiadas. Ele diz em suas notas apressadas:
“Havia dezenas de outras desde estilo vinholesco até art nouveau (de Nhonhô Borges esquina de Ipiranga com Visconde de Rio Branco) derrubadas pela especulação imobiliária e av. de Prestes Maia. De permeio const. Ramos de Az. uma casa térrea, porão alto para as velhas Gavião Peixoto por volta de 1920, quando elas se mudaram do casarão da Rua Mauá esq. Brig.o Tobias [elas deviam morar na antiga casa de Bernardo Avelino Gavião Peixoto [1829-1912] derrubada em 1913 para o alargamento da Rua Mauá] para rua Maranhão esquina da av. Angélica [*].” As partes entre [ ] são comentários meus. Obrigado, Eudes.