O último casarão demolido na Avenida Paulista ficou conhecido como sendo de propriedade de Dina Brandi Bianchi. Ele caiu em novembro de 2011, no dia 4 deste mês, o jornal Estadão publicou:
Na virada de segunda para terça-feira, um casarão dos anos 1920, branco e de dois andares no número 91 da Avenida Paulista, foi demolido sem chamar a atenção. A rapidez da demolição foi consequência da pressão de moradores e entidades de preservação do patrimônio, que tentavam evitar a destruição. Não deu tempo.
Pouco se sabe sobre sua história, o site São Paulo Antiga tentou contato com herdeiros, mas não teve sucesso na empreitada. Para este post, fizemos uma pesquisa minuciosa para tentar traçar a memória do casarão. Apesar de ser conhecido como de propriedade da Sra. Dina Brandi Bianchi, que era casada com Silvano Bianchi, o palacete estava em nome dela e também de sua irmã, Marina Brandi Gravina, casada com Pedro Bento José Gravina.
Elas eram filhas de Manfredi Abílio Brandi e Ottilia Palmieri Brandi. O Sr Manfredi teve diversos negócios em São Paulo e no Rio de Janeiro. Um deles, nasceu em setembro de 1946, quando foi decretado pelo Presidente da República, Eurico Dutra, a autorização para pesquisa de lavra de minério no município de Santo André. Entre os 4 cidadãos autorizados para tal estava Manfredi Abílio Brandi.
Neste mesmo ano, encontra-se registro da Estamparia Brandi Ltda., empresa de sua propriedade, que quando foi admitido como sócio o Sr. João Henriques, mudou a razão social para Estamparia Metalúrgica Vitória Ltda. Nos anos 1950, a metalúrgica receberia mais dois sócios: os Srs: Jacob Glucksmann e Silvano Bianchi, marido de Diná Brandi Bianchi. Seu endereço era na Rua 24 de Maio, 797 e no Rio de Janeiro, na Rua Capitão Félix, 32. O edifício abandonado da estamparia no Rio de Janeiro pode ser visto neste vídeo como cenário da exposição Permanências e Destruições, realizada em janeiro deste ano.
Em outro negócio, Manfredi Abílio Brandi, juntamente com outros dois sócios, eram proprietários de uma área de 730.897 metros quadrados na antiga Fazenda Oratório, perto de Santo André. Em 1957, ele investiu em um projeto de re-loteamento e urbanização do local, hoje conhecido como Capuava. Atualmente, com 1.327 domicílios cadastrados e uma população estimada em cerca de sete mil pessoas, a favela Capuava ocupa uma área de 85.867,85m² e hoje os herdeiros da família Brandi sofrem inúmeros processos de usucapião de moradores de residências do local.
Voltando ao nosso casarão, a foto mais bela e antiga que conseguimos desta mansão foi realizada em 1985 por Marcelo Novelli que, muito gentilmente nos cedeu para publicação aqui na Série Avenida Paulista. Vejam com a construção era mais detalhada nas janelas superiores e com a fachada e entrada lateral totalmente aberta.Muito mais elegante!
Em março de 2011, o jornal Estadão publicou que sua construção era
“bem conservada, a casa de paredes brancas abriga hoje uma agência da Porto Seguro. Funcionários disseram que sabem da venda do imóvel e que terão que sair do local até o fim do ano. “Trabalhar em um lugar bonito como esse dá até gosto. Parece um castelo”, disse uma funcionária, que pediu para não ser identificada”.
Era lindo mesmo! Podemos ver nos detalhes do palacete.
O velho casarão, em uma madrugada de novembro de 2011, ficou assim:
Acreditamos que a intenção da família em demolir o palacete era antiga, e era objetivo de alguns dos sucessores de Marina Brandi Gravina, os seus filhos Fabio, Adriana, Maria Clelia e Pedro Augusto. Em maio de 2005, consta a aprovação, na Prefeitura de São Paulo, de um alvará de execução de nova edificação para o endereço da Avenida Paulista, 91, em nome da Construtora Garda, cuja o responsável técnico era exatamente o Sr. Fabio Gravina, filho da proprietária do casarão. O documento previa a construção de um edifício com 13 pavimentos, não sabemos porque a empreitada não ocorreu naquele período.
Por outro lado, verificamos que a Sra. Dina Brandi Bianchi, tida como proprietária do casarão, em 1953, aparece em uma petição, em que forneceu a informação de seu endereço como sendo na Rua Dr Fabricio Vampré, 129, na Vila Mariana, onde a 3 anos foi construído o prédio Praça Vampré. Portanto, será que ela não morava na Paulista desde essa época?
Outra curiosidade sobre a Sra. Dina, já falecida: ela é mãe da famosa chef de cozinha, Silvana Bianchi, que foi proprietária do restaurante Quadrifoglio, no Rio de Janeiro. Por sua vez, Silvana é avó de Sean Goldman, o menino cuja mãe faleceu, e ela, como avó, pediu a guarda do menino, mas a justiça brasileira determinou a ida dele para os Estados Unidos para morar com o pai. Foi um caso de repercussão internacional.
Em agosto de 2010, a Revista Contigo publicou que
“Silvana Bianchi é paulistana, filha de italianos. Sua formação em gastronomia não é acadêmica: aprendeu tudo com os pais, Dina e Silvano Bianchi. O casal preparava pessoalmente as massas servidas aos três filhos. Apesar de formada em geografia e tradutora de italiano, nunca se imaginou em outra profissão: adora cozinhar”.
Será que Silvana apreendeu a cozinhar na Avenida Paulista? Será que Marina morou mais tempo no palacete do que sua irmã Dina? Só mesmo os familiares para responder. Outra questão que precisa de resposta é em relação à construção do casarão. Já foi divulgado que ele foi construído nos anos 1920, mas não se sabe por quem e nem quando e nem se a família Brandi o construiu ou apenas o adquiriu.
Estudiosos da Avenida Paulista do início do século passado constataram que, pela numeração antiga da avenida, esta localização estava relacionada à família de Raimondo Lenci, que foi casado com Maria Cocito Lenci, ambos de origem italiana. Em 1907 consta a liberação de uma linha telefônica em seu nome e, em 26 fevereiro 1926, foi publicado uma solicitação, que foi aprovada, de D. Maria Lenci, para aumentar o prédio na Avenida Paulista, 184 na numeração antiga desta época corresponde ao número atual 91, que é o endereço do palacete que motiva o nosso texto. (Claro que a numeração da Companhia Telephonica não batia com a da Prefeitura, como podemos conferir nas notícias)
Outro dado da época da demolição da casa,publicado na Folha de São Paulo, aponta outra informação:
“Não se sabe ao certo quando o casarão foi construído. A certidão de dados cadastrais do imóvel na prefeitura diz que a obra é de 1994. Mas uma imagem antiga, obtida por Gabriel Rostey, da associação Preserva SP, mostra o imóvel em 1952, quando as casas dos antigos barões de café ainda dominavam.
Se alguém souber responder, ou conhecer algum membro das famílias Lenci ou Brandi, que possam nos ajudar a rememorar a história do casarão…é muito importante para recompor a nossa memória paulistana.
Durante os anos 2000, o casarão foi alugado para escritório da empresa Porto Seguro, que permaneceu lá até a decisão da demolição. Antes desse fato, muitas solicitações foram realizadas para que a demolição não fosse aprovada. Instituições como a Preserva SP entraram com pedidos de tombamento da casa, inclusive dias antes uma manifestação foi realizada diante da casa em prol do tombamento. Tudo em vão.
Com a letargia do processo de tombamento, a autorização para construir nova obra veio antes, e a Construtora Even pode anunciar o novo edifício. Em área de terreno com 1.312,50 m², o Paulista Tower é um edifício comercial com dez andares e salas de até 594 metros quadrados.
O projeto arquitetônico é do escritório Königsberger Vannucchi, o paisagismo da EKF Paisagismo e a decoração da DP Barros Arquitetos Associados. Para tal construção a Even contou com 25 milhões de reais de investimento. O site do empreendimento informa que a previsão de entrega da obra era em julho de 2015**, mas os asteriscos deixam dúvida. Alguém sabe se o edifício foi ocupado?
A empresa diz, também, que a fachada do prédio foi inspirada no famoso Edifício Pauliceia, ícone dos anos 50, que também fica na Paulista e que um de seus diferenciais é oferecer varandas com vista para a vizinha Casa das Rosas. Engraçado: para vender os escritórios, vale retomar construções antigas e preservadas, torna-se um excelente argumento de vendas, não é mesmo? Mas, para demolir, nada se considera. E assim vamos tentando resgatar lembranças e memórias.
Prezada Luciana Cotrim, Bom Dia!
1º Ref.: Av. Paulista. Tenho o “Registro de Imóvel” e toda a situação Judicial do Inventário até 13/01/2011, histórico documental Iniciando do Domingos António Brandi (pai do Manfredi anos 1875, etc = um considerado Negociante (=Barão?) do café, entretanto nunca residiu na Av. Paulista, 91). 2º Ref.: A Estamparia no RJ iniciou na década de 1930. Ato Constitutivo de 19/10/1939 e foi-se definhando quando faleceu o Manfredi em 13/07/1967 em Roma – Itália. 3º Ref.: Tenho toda a genealogia do Manfredi e Ottília. 4º Ref. : Regularizações do Parque Oratório – Faz parte do meu plano segundo a Lei 11.977 de 2009, contudo atualmente estou trabalhando no “Projeto de Regularização do Loteamento Alcantara Machado (Atual Vila Varela) em Poá – SP”.
Portanto tenho muitos documentos relacionados a estes loteadores, precisariam ser escaniados, Tenho dificuldade de tempo disponível. Favor informar o seu interesse e seu E-Mail. Grato, Orlando.
Orlando, bom dia. É com muita satisfação e alegria que recebi sua mensagem, que só pude ver agora a noite. Primeiramente, agradeço muito seu contato. Você deve imaginar como pesquisei e pouco encontrei sobre esse casarão. Nesta série que escrevo sobre os casarões da avenida Paulista tento retomar a história dos casarões e das famílias que moraram neles. Por isso, o meu interesse central é sobre a casa da Avenida Paulista – todo tipo de informação sobre a construção em si, seu uso, alterações realizadas e venda e, também, sobre seus moradores – tanto da família que construiu a casa quanto locatários. Você poderia me ajudar com mais informações? Além dos dados, procuro fotos, mapas, plantas, imagens da casa. Tudo o que puder enviar será de grande serventia e muito bem aproveitado. O e-mail para envio é o luciana@spcity.com.br . Desde já agradeço muito a gentileza. Grande abraço.
Também tirei fotos dessa casa. A primeira foi em 1982. Tirei outra em 1982. abrçs
Apenas uma observação: Há foto anterior a 1985: Há uma de 1982 que tirei. Mais tarde, em 2008 tirei outra. abrçs