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Série Avenida Paulista: palacete da família Moraes de Barros ao Edifício Eluma

Apresentamos mais um palacete da Avenida Paulista do início do século passado. A residência de Nicolau de Moraes Barros tem muita tradição e história para contar: mas não localizamos nenhuma fotografia de sua fachada. Por isso, mostraremos a imagem digital do site Janela da História.

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Construção digital da residência de Nicolau Moraes Barros.

Nicolau de Moraes Barros nasceu em 18 de agosto de 1876, na cidade de Piracicaba, onde viveu sua infância. De família tradicional, Nicolau era sobrinho de Prudente de Moraes, que foi governador do estado de São Paulo, senador e terceiro presidente do Brasil, tendo sido o primeiro político civil a assumir este cargo por força de eleição direta.

Nicolau de Moraes Barros  - Série Avenida Paulista: palacete da família Moraes de Barros ao Edifício Eluma

Irmão do Presidente Prudente de Moraes, seu pai, Manoel de Moraes Barros, mais conhecido como Moraes Barros (Itu, 1 de maio de 1836 — 20 de dezembro de 1902) foi um advogado, empresário e político brasileiro. Foi senador pelo Estado de São Paulo de 1895 a 1902, além de deputado provincial. Exerceu os cargos de promotor, juiz municipal e delegado de polícia em Piracicaba.

Em 1902, Nicolau de Moraes Barros graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, depois de formado, seguiu para Viena para continuar os estudos e, durante quatro anos, se especializou em Ginecologia e Obstetrícia. De regresso ao Brasil, fixou-se na cidade de São Paulo, onde exerceu as funções de médico assistente da Maternidade de São Paulo e cirurgião-adjunto da Santa Casa de Misericórdia.

Em 1921, conquistou por concurso a Cátedra de Ginecologia da Faculdade de Medicina de São Paulo (atualmente, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), tendo fundado a Escola Ginecológica Paulista, atividade que exerceu por 23 anos até 1944, quando se aposentou. Seu nome foi honrado como patrono da cadeira número 17 da Academia de Medicina de São Paulo.

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Nicolau de Moraes Barros homenageado pela turma de 1943 da Faculdade de Medicina

É evidente que, com a tradição familiar na área política e governamental, Nicolau teve uma participação ativa no Partido Democrático, tendo inclusive concorrido para vereador de São Paulo nos anos 1930.

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Panfleto do Partido Democrático com os candidatos para eleição em São Paulo.

Helio Begliomini declarou que Nicolau foi um homem que

“Possuiu grande fortuna, pois era oriundo de uma família de banqueiro. Contudo tinha espírito democrático; era encantador no trato de nobres sentimentos; possuía a verdadeira expressão do médico por suas atividades elevadas.”

Casou-se com Francisca Coutinho Nogueira e teve quatro filhos chamados Alice, Luís, Marina e Nicolau. Morava na Avenida Paulista, nº 77.

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Francisca Coutinho Nogueira, a Francisquinha, como era chamada, no jardim de hortênsias da casa da Avenida Paulista.

Sobre o casarão da Avenida Paulista temos algumas informações que descrevem sua arquitetura, mas nenhuma fotografia da fachada.  (Se alguém puder ou souber quem possa fornecer mais informações ou fotos, por favor, deixe um comentário).  A residência que se localizava na esquina com a Alameda Rio Claro foi qualificada como típica de famílias com uma fortuna mediana. O projeto arquitetônico e a construção foram desenvolvidos em 1911 sob a batuta de Ramos de Azevedo.

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Projeto do palacete desenvolvido por Ramos de Azevedo.

O palacete ficava no centro do terreno, no qual era possível adentrar por dois portões na Avenida Paulista, como também por dois portões na Rua São Carlos do Pinhal. Em meio a imensos jardins, possuía dois alpendres, uma sala de visitas, sala de jantar e escritório no andar térreo, onde também se localizavam a cozinha, despensa, áreas de serviço.

O projeto da mansão tinha uma circulação simples e lógica, era mais simples: à esquerda o escritório, à direta a saleta de entrada e à frente a sala de visitas com abertura para a sala de jantar. Aos fundos, a cozinha e separado a área de banho e banheiro.

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Francisquinha, em 1957, na sala de entrada da mansão.

Baseado no livro “O Palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira” de Maria Cecília Naclério Homem, o site “A Província” de Piracicaba, publicou o trecho abaixo, de autoria de Beatriz Elias, sobre o palacete da família Moraes Barros

“No piso superior havia três dormitórios: o do casal, o das meninas – que dormiam com uma governanta – e o dos rapazes, e um único banheiro. Os móveis haviam sido importados da Casa Maple, de Londres, das casas Mercier e Jansene, de Paris. As roupas de cama e banho foram adquiridas na Maison Blanc, em Paris.

Oito empregados garantiam o funcionamento da casa: cozinheira e sua auxiliar, jardineiro, motorista, copeiro, arrumadeira e lavadeira, além da governanta. As filhas contavam, ainda, com uma preceptora inglesa que lhes dava aulas de inglês, ensinando-as a costurar e cozinhar. Os adolescentes não frequentavam a sala de visitas, mas almoçavam com os pais. Os passeios mais comuns, durante a semana, aconteciam no vizinho Parque Trianon na Avenida Paulista”.

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As crianças da família em passeio no Parque Trianon.

A numeração do palacete, atualmente, corresponde ao número 1294 da Avenida Paulista, em que se encontra o Eluma. Ocupando  uma área de 44 mil m², o Edifício Eluma foi inaugurado em 1977. Com 24 andares,  chama a atenção por sua arquitetura diferenciada, assinada pelo arquiteto americano Charles Bosworth.

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Edifício Eluma nos anos 1980.

Uma história interessante e inusitada, que conta que no momento da contratação pelo empresário Luiz Eduardo Campello, o pedido era para criar um edifício multiuso, cuja cobertura seria a sua própria residência. É nela que hoje fica a equipe que gerencia todo o prédio 24 horas por dia.

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Edifício Eluma atualmente.

Anos atrás, o Eluma foi modernizado: foram instalados 8 elevadores Miconic 10, com sistema de chamada antecipada. O edifício foi o pioneiro na utilização dessa tecnologia na Av. Paulista. Além disso, o prédio ganhou o circuito fechado de TV e o controle de acesso, monitorados pela Central de Segurança que fica no próprio Eluma e novas quatro torres de resfriamento do sistema de ar-condicionado.

O Eluma foi um dos edifícios escolhidos pela Cushman & Wakefield para tomar parte de um projeto mundial de certificação verde de edifícios. No térreo, o prédio conta com uma grande agência do Banco Itau Personnalite, a agência Paulista e em seus andares estão empresas como a Mitsubishi Corporation do Brasil, a Bolsa de Imóveis e a ACE Seguros Brasil.

O empresário Campello, que foi o acionista controlador do Grupo Eluma, que deu nome ao edifício e nos anos 1990 foi líder do mercado brasileiro de tubos, conexões e laminados de cobre. O Jornal GGN disse que

“O empresário cearense era figura símbolo do high society. Era casado com Alice de Moraes Barros, filha de Nicolau Moraes Barros, ou seja, herdeira do palacete de uma da mais tradicionais famílias paulistas. Criou o Clube Samamabia no Guarujá, exclusivo e chique, em um lindo local único na ponta do litoral e esplêndida vista para o mar, reduto da grã-finagem nos fins de semana, no tempo em que o Guarujá era exclusivo. A Eluma tinha uma imponente sede na Av.Paulista em frente à Fiesp, o Edifício Eluma”.

Segundo o famoso estilista Dener, quando definiu o que é ser uma mulher luxo, disse:

“São mulheres que têm tudo que têm as elegantes e um quê a mais. Elas não lançam moda, elas consagram a moda lançada pelas elegantes. É para as elegantes que elas servem de padrão. Por isso a mulher-luxo é sempre uma líder, tal como Alice Moraes Barros Campello é no clube mais fechado do Brasil, o Samambaia (que ficava no Guarujá).”

Pois é, quando vocês passaram por este edifício na Paulista saberão o quanto de história aquele lugar guarda…

Aproveito para solicitar contato com quem conheça os parentes de Fernando de Moraes Campello, Luis Eduardo Campello, Maria Alice Campello e Marina de Moraes, filhos do casal, ou qualquer outra pessoa ligada a esta história para tentarmos achar alguma fotografia do Palacete de Nicolau de Moraes Barros.

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

6 Comentários

  • Olá !!
    Gostaria de entrar em contacto pessoalmente para conversarmos sobre um arquiteto que fez história nesta cidade …Christiano Stockler das Neves.
    Caso tenha interesse, fico à disposição !
    Atenciosamente
    Maria Fernanda de Stockler e Breia

    • Olá, Maria Fernanda. Como vai?
      Eu sou autora dos posts desta coluna. Claro que temos interesse em conversar sobre Christiano Stockler das Neves, grande arquiteto do começo do século passado. Para facilitar a comunicação, você poderia enviar os seus contatos para o email: luciana@spcity.com.br. Desde já, agradeço seu contato. Aguardo sua resposta. Abraço, Luciana

  • Infelizmente só tenho lembranças desta residência, minha avó Lourença de Campos foi cozinheira na mansão. Vivia entre Petrópolis e São Paulo, parece-me que tinham propriedades por lá.

  • Eu hoje estava buscando algumas notícias sobre o Clube Samambaia.
    Meu pai trabalhou no Eluma e foi gerente do Clube Samambaia.
    Frequentei por muito tempo o clube, tinha até um quarto lá pra mim e minha irmã.
    Se ainda tiver interesse após tantos anos, me procure que consigo dar uma direção sobre Marina e Eduardo

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