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Que tal uma visita guiada no Cemitério Consolação?

Foto via: viajeaqui.abril.com.br

Os cemitérios antigos de São Paulo conservam importantes acervos artísticos e históricos. Os cemitérios, tal como muitos casarões, teatros, linhas férreas e monumentos construídos em meados do século XIX e início do XX , são testemunhas da história social da cidade.

No final do século XIX  a cultura do café, então chamado ouro-verde, proporcionava vida opulenta a famílias que aqui se instalavam, vindas do interior do Estado e também de outros países em busca de novas possibilidades de trabalho ou para ampliação dos negócios e de suas fortunas.

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Foto: Patricia Paixão

Era o momento da Belle Époque paulistana na imitação dos hábitos parisienses, manifestos  na arquitetura, moda, festas, convenções e também dos sepultamentos e ornamento dos túmulos.
Os cemitérios, então chamados “campos santos”, em meados do século XIX,  já substituíam as igrejas na prática de sepultamentos.

Em 1856,  a Assembleia Legislativa Providencial de São Paulo aprovou o Primeiro Regulamento para os cemitérios da cidade de São Paulo. Esta medida provocou inúmeros protestos entre os praticantes do cristianismo que já tinham incorporado a tradição do sepultamento nas igrejas. Apesar dos protestos, o regulamento passou a ser seguido.

Assim surgiu,  em agosto de 1858,  o primeiro Cemitério Municipal, hoje  Cemitério da Consolação. Sua localização, nos arrabaldes da cidade era condição essencial e estratégica para garantia de salubridade da área urbana,  restrita ao  que nos dias de hoje corresponde ao centro velho – ruas Quinze de Novembro, Direita e São Bento.

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Foto: Patricia Paixão

Perfil dos sepultados

No cemitério municipal, em seus primeiros anos, eram sepultadas pessoas de todas as classes sociais: escravos, agregados, senhores de escravos, homens livres abastados e pobres, estrangeiros. Após a virada do século, o perfil dos sepultados passou a mudar, assim como modificou-se a geografia urbana paulistana.

Na época, o cemitério municipal passou a enterrar pessoas que, realizaram em vida,  atividades de relevância para a sociedade. Por este motivo,  as famílias e os amigos, a partir da primeira década do século XX, contratavam construtores e escultores de renome, em sua maioria com formação na Europa, como Victor Brecheret, Luigi Brizzolara, Galileo Emendabili, entre outros, para ornamentarem os túmulos das ilustres personalidades.

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Foto: Patricia Paixão

Esses túmulos são importantes registros  da história social e política de São Paulo,  com personalidades que se destacaram no cenário paulistano.

Outras necrópoles antigas, tais como Araçá e São Paulo, abrigam obras representativas da arte tumular.

Visita guiada no Cemitério Consolação

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O Serviço Funerário instituiu a visita guiada no cemitério da Consolação, criando um roteiro para conhecer os túmulos de personalidades ilustres e as obras de arte instaladas nos túmulos. A visitação é aberta para estudantes, professores, pesquisadores, turistas, entre outros.

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Obra “Sepultamento” do renomado escultor italiano Victor Brecheret, premiada em Paris

O cemitério da Consolação é um verdadeiro museu a céu aberto. Fundado em 15 de agosto de 1858, possui túmulos de personalidades como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Ramos de Azevedo, José Bonifácio de Andrada e Silva (o Patriarca da Independência), Antoninho da Rocha Marmo, Mário e Oswald de Andrade, além de obras de importantes escultores, tais como Victor Brecheret, Nicola Rolo, Luigi Brizzolara, entre outros.

Conheça um pouco sobre o Popórecepcionista do Consolação

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Ex-coveiro, hoje ‘Popó’ é monitor no Cemitério da Consolação e conta histórias do lugar (Foto: Daigo Oliva/ G1)

Francivaldo Almeida Gomes nasceu no dia 23 de setembro de 1967, na cidade de Crateus, Ceará, lugar onde passou a infância ao lado de seus quatro irmãos e três irmãs. Francivaldo, como muitos brasileiros, abandonou os estudos na quinta série do então ensino fundamental e foi trabalhar para ajudar sua família. Desde então, passou pela construção civil e pelo comércio ambulante até que um primo o chamou para trabalhar de garçom numa churrascaria em Brasília. Animado, aceitou o convite e para comprar a passagem vendeu seu único bem, um relógio de pulso.

Por quatro anos permaneceu em Brasília e, em 1986, veio para São Paulo e aqui na cidade, voltou para o ramo da construção civil, trabalhando na construção do prédio do Citibank na avenida Paulista.
Em 1987, Francivaldo casou-se com Josane, garota baiana que conheceu no parque do Ibirapuera e tiveram três filhos: Felipe, Herbert e Patrick e até hoje seguem casados. Ainda em 1987, trabalhando como porteiro no edifício onde, lembra, morava a ex-ministra Zélia Cardoso, Francivaldo viu no jornal que haveria um concurso público para sepultador do Serviço Funerário Municipal e fez a inscrição. Em 1989, já aprovado, escolheu o cemitério Consolação para exercer a função.

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Onze anos depois, uma nova oportunidade fez mudar sua vida. O então administrador do cemitério Consolação, o professor e historiador Délio Freire dos Santos, criador do roteiro da visita guiada, observando o interesse de Francivaldo pela arte e história do Consolação, começou a ensiná-lo sobre a história do cemitério, dos sepultados e sobre a arte tumular ali presente.
Demonstrando grande interesse, Francivaldo, além de acompanhar as visitas no cemitério guiadas pelo historiador, passou a frequentar a Biblioteca Mario de Andrade para se aprofundar na história das personalidades sepultadas. Estimulado pela busca de conhecimento, agarrou a oportunidade e retomou seus estudos até a conclusão do segundo grau. Na mesma época, participou do curso de Arte Tumular com exposição itinerante no Shopping Light, ministrado pelo professor Délio Freire.

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Foi nesta mesma época que ganhou o apelido de Popó. Ele conta que o cantor sertanejo Marcelo Costa, em visita ao cemitério, olhou para ele e disse: sabe que você é muito parecido com o pugilista Popó, vou te chamar assim, posso? O apelido pegou e hoje sou mais conhecido como Popó, que é mais fácil mesmo de guardar do que o meu próprio nome.
Em abril de 2002, com a morte do professor Délio, Popó assumiu a administração do cemitério Consolação e, também, a posição de guia das visitas.

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Foto: David Shalom/iG São Paulo

Nesses mais de 13 anos, Popó estima já ter recebido mais de oito mil pessoas para a visita guiada, com públicos que vão desde alunos do ensino fundamental e turistas até acadêmicos especialistas em arquitetura.
Hoje, acredita que todas as suas escolhas o levaram ao trabalho de sepultador, administrador e guia do cemitério Consolação e afirma, enfaticamente, que cumpre suas funções não por obrigação, mas por verdadeira paixão. Popó finaliza sua história dizendo “eu estudo a morte para melhor compreender a vida”.

Serviço:

Cemitério da Consolação
End: Rua da Consolação, 1660 − Consolação − zona Oeste − São Paulo.
Horário das visitas monitoradas: as terças e sextas-feiras, das 14 às 15:30 horas.
Para escolas, é possível agendar às quartas-feiras, em dois horários, às 10h e às 14h. Para fazer sua inscrição ou de seu grupo, envie e-mail com até um dia de antecedência para assessoriaimprensa@prefeitura.sp.gov.br com nome completo, telefone para contato, nome dos acompanhantes (se houver), dia e horário da visita.
Em caso de escolas, é solicitado que no mesmo e-mail envie também o nome da instituição de ensino, responsável que acompanhará o grupo e faixa etária dos participantes.

Entrada gratuita

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Miguel Garcia
the authorMiguel Garcia
Miguel Garcia é idealizador e coordenador de conteúdo do projeto. Publicitário, viajante, adora provar todos os tipos de comida, vinhos e cervejas e tem uma vontade imensa de fazer todos se orgulharem cada vez mais de viver em SP.

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