Há certo tempo o cenário da gastronomia no Brasil, vem buscando afirmar sua identidade, e começou a procurar um ar mais nacional. Muitos chefes saíram em busca do Brasil dentro do Brasil. Capitaneados por cabeças estreladas como Mara Salles, Alex Atala, Helena Rizzo, Ana Luiza Trajano, Flavia Quaresma, entre outros grandes nomes da nova gastronomia nacional, formada por chefes, ironicamente formados em sua grande maioria fora do Brasil, mas com muita bagagem técnica e força de vontade. Embrenharam-se na selva amazônica, rastejaram em manguezais, cataram frutas do cerrado, e foram comer queijo curado em Minas Gerais. Voltaram para suas cidades de origem com mil planos e idéias e de repente a Gastronomia Regional Brasileira explodiu, e nessa explosão digna de um Big Bang surgiram eventos, pesquisas cursos temáticos e muitos, muitos, sim muitos chefes falando sobre isso.
E entramos em um período de discussões profundas, demarcações de origem e a busca pelo Brasil sagrado. E ai todo mundo começou a falar em voltar às origens as raízes do Brasil, e eu pergunto que raízes? Minha mãe é chilena, meu pai brasileiro do interior de São Paulo meus avos italianos, e assim como eu quantos de nós brasileiros castiços temos origens germânicas, ibéricas, nipônicas ou africanas, e sem esquecer indígena o que faz das origens do Brasil algo difícil de demarcar.
A proposta dos chefes em trazer a gastronomia Regional Brasileira para a Alta Gastronomia é muito justa, hoje em São Paulo o restaurante mais estrelado é de comida Regional Brasileira o D.O.M. com seu menu degustação de ingredientes vindos de avião do Brasil inteiro. Também ser considerado o sexto e sétimo melhor restaurante do mundo ajudou e muito a cair nas graças da elite paulistana.
Mas voltando no tempo esse movimento de resgate nacional não é exclusivo nosso, na verdade nasceu fora do nosso país, foi uma reação meio que simultânea, onde certos chefes, pensadores e agricultores locais acharam que a globalização afetaria a sua forma de ser, seus produtos se perderiam aos produtos de massa e seu ofício seria extinto. O Chefe estrela Jamie Oliver foi e é um dos baluartes desse movimento que conversa com o Slow Food, movimento que prega o consumo consciente de alimentos, em uma cadeia que envolve desde o produtor até o consumidor final tudo muito bonito, mas no mundo capitalista tais expoentes vivem a beira da falência. Na Espanha a cozinha de vanguarda comandada pelos irmãos Adrià impulsionou o resgate dos produtos regionais, e então muitos jovens aspirantes a cozinheiros saiam das faculdades e rumavam para a Costa Brava espanhola aprender com os mestres e voltar ao Brasil. E vimos à gastronomia Brasileira como uma espécie de mocinho da história, surgindo do esquecimento para se libertar da opressão imposta por outras cozinhas menos puras.
Já não falávamos mais em Foie gras, Truffas ou Salmão, mas sim em queijo meia cura, mas não qualquer queijo tinha que ser da Serra da Canastra se possível de algum produtor que tenha apenas 2 vacas e produza somente 3 peças ao ano, melhor ainda, Quiabo, Maxixe, Quirera, Tapioca surgiram como iguarias raras e caras, e até a nossa velha amiga Castanha do Pará mudou de nome para ser Castanha do Brasil. Ou seja Gourmetizamos o que era para ser Desgourmetizado.
E agora vamos digerir tudo isso com uma cachaça tipicamente gourmet, mas que afinal de contas nem por isso é menos saborosa.
