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Série Avenida Paulista: casas dos Matarazzo aos edifícios Barão de Christina, Cochrane e Matarazzo.

Na Série Avenida Paulista desta semana falaremos de três casas que pertenceram à família Matarazzo.

Tanto os sírios como os italianos foram presença marcante no período inicial da ocupação da Avenida. Anteriormente apresentamos em dois artigos a casa do Conde Francisco Matarazzo, quando da primeira geração, e depois, na segunda, em que foi reformada por seu sobrinho, Cicillo Matarazzo e, por fim, acabou demolida mais recentemente e, sem dúvida, muita gente lembra do casarão (você pode ver a primeira história aqui e a segunda aqui). Também apresentamos a Vila Virginia, residência do Senador Andrea Matarazzo, irmão do Conde Francisco Matarazzo (você pode ver a história aqui).

Das três casas de hoje, uma delas será apresentada como de propriedade de Mariângela Matarazzo. Não temos muitas informações das primeiras construções, mas sabemos que as casas ficavam ao lado do Trianon. Podemos vê-las em uma parte de uma foto antiga, que está abaixo. São as três casas depois do coreto gazebo do Trianon.

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Tivemos acesso também ao projeto arquitetônico destas casas que estavam em nome do Comendador Francisco Matarazzo, o patriarca da família.

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A numeração antiga das casas eram 80, 82 e 84. Nas listas telefônicas de 1917 até 1930, a casa de número 80 permanece em nome de Andrea Matarazzo. A casa de número 82 aparece em nome de possíveis locatários, sendo que em 1930, não consta da lista. Muito provavelmente voltou para a família e, mais para frente, aparece em nome de Mariângela Matarazzo. A casa de número 84 também está em nome de locatários até metade de 1930, quando consta o nome de Ida Matarazzo.

É complicado entender quem é quem na família, pois ela é numerosa, além de aparecerem os mesmos nomes em vários membros do clã. Para se ter uma ideia, vejam a árvore genealógica da família.

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Observem que a Condessa Mariângela, filha de Andrea, casou-se com seu primo Chiquinho, (Cicillo), filho do Conde Francisco, que também era pai de Ida, conhecida como Mimi, que aparece na casa de número 84.

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Mariângela e Conde Chiquinho Matarazzo, como era conhecido.

Das 3 casas, tivemos mais infirmações da segunda, a de número 82, que na numeração atual é a 1471. Em julho de 1948, na edição da Revista Acrópole, que era uma publicação especializada em arquitetura, a casa é apresentada para o público leitor como sendo “propriedade da Excelentíssima Senhora Dona Mariângela Matarazzo”.

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Podemos comparar nas imagens, que se trata de outro projeto arquitetônico para a casa. Provavelmente, a mais antiga, que era de estilo mais eclético, com nuances do tipo chalé, foi demolida e ergueram esta, de estilo moderno, com linhas mais retas e curvas suaves, uma bela construção representante da época.

Nas imagens abaixo, vemos a fachada em outros ângulos.É possível notar o contraste entre as portas arredondadas e as janelas superiores retas e, também, a leve curvatura da linha da sacada.

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O ambiente interno demostra o bom gosto e a classe do estilo da casa. No detalhe do  living, um aparador de alvenaria com poucos objetos, livros, cristais, flores e dois quadros. No hall uma elegante escada em formato semicaracol, com corrimão feito com ornamentos em ferro, que leva ao andar superior e também ao inferior, combinando com um belo lustre pendente no mesmo material.

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Nelson deve ter sido um parente da família do Comendador João Batista Scuracchio, imigrante italiano, industrial, que também tinha casa na Avenida Paulista, como o Conde Matarazzo (a história pode ser lida aqui). Aliás, a irmã de Nelson, casou-se com um descendente da família: ela era Letícia Aurora Scuracchio Matarazzo, casada com um dos muitos Francisco Matarazzo.

Não sabemos se a Condessa Mariângela residiu nesta casa, ou se foi apenas mais um investimento da família, o que é mais provável. Seu marido, o Conde Francisco Matarazzo morreu em 1977 e ela faleceu com 91 anos, em março de 1996 e, tendo sido a última moradora do mais conhecido casarão da família, que foi derrubado em janeiro do mesmo ano de sua morte.

As casas da Avenida Paulista viraram edifícios.

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A terceira casa na foto antiga, se tornou o atual número 1439, onde foi levantado o Edifício Mário Wallace Simonsen Cochrane. Construído em concreto natural, com projeto de Carlos Bratke, foi entregue em 1974. Com 18 andares, o destaque da fachada são os 2 pares de pilares que se estendem verticalmente por toda a altura do edifício.

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Edifício Mário Wallace Simonsen Cochrane coberto para reforma. Foto: Tuca Vieira/Folhapress

Com um projeto de arquitetura brutalista, típico da época, o prédio sofreu com desgastes até passar por reforma em 2013, as colunas foram abertas para tratar os vergalhões de aço que compõem a armadura do concreto.

Mário Wallace Simonsen Cochrane, que dá nome ao edifício, foi um dos proprietários do Banco Noroeste do Estado de São Paulo. O banco fazia parte de um conglomerado que incluía a Panair (companhia aérea), a Comal (maior exportadora de café do Brasil à época), Biscoitos Aymoré, Editora Melhoramentos a extinta TV Excelsior, entre outras empresas. O empresário tinha notoriedade pública como defensor da democracia e lutou abertamente contra o regime militar. Todas as suas empresas foram fechadas pelos militares, com exceção do Banco Noroeste, que foi passado para o seu primo Léo Cochrane. Em 1998 o banco foi vendido para o Santander.

A segunda casa da foto antiga, que foi reformada como apresentado, recebeu o número atual 1471 onde, em 1977, com projeto de Roberto Sister, foi construído o Edifício Barão de Christina. Com 19 andares,o prédio chamou à atenção por suas pastilhas coloridas na fachada. Atualmente tem 304 escritórios ocupados por pequenas e médias empresas.

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Edifício Barão de Christina: pastilhas coloridas e linhas arredondadas que protegem as salas comerciais.

O nome homenageia Francisco Ribeiro Junqueira, que foi o Barão de Christina, o 11º filho de Antonio José Ribeiro de Carvalho e de Helena Nicésia de Andrade Junqueira, filha dos Barões de Alfenas, Gabriel Francisco Junqueira e Ignácia Constança de Andrade. A família Junqueira, oriunda de Minas Gerais, teve casa na avenida Paulita também (clique aqui para ler).

O terceiro edifício, no número 1499, ocupou o lugar da casa do lado do Parque Trianon, na esquina da Alameda Casa Branca: o Edifício Conde Andrea Matarazzo. O prédio ocupa o quarteirão inteiro, com frente também para Alameda Santos, 1518 e Alameda Casa Branca, 37. Com um total de 252 salas, o edifício é ocupado por pequenas e médias empresas.

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O Edifício Conde Andrea Matarazzo: vidros em cristal fumê bronze, inovação à época.

A estrutura do edifício é em concreto armado com utilização de aços de alta resistência, revestidos externamente com granilite, com vidros em cristal fumê bronze, sendo o padrão visual arquitetônico do projeto de Roger Zmekhol.  As paredes dos halls e dos andares são de mármore tipo travertino. A construção foi concluída em 1975.

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Conde Andrea Matarazzo

No hall do prédio um busto em bronze com pedestal em granito, homenageia o Conde Andrea Matarazzo. Curiosa que a obra de autoria de F. Busacca, combina em cor, material e luminosidade do edifício.

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Uma outra curiosidade: há uma passagem de emergência ligando o último andar do Edifício Barão de Christina ao 17º andar do Edifício Conde Andrea Matarazzo, que foi construída por conta dos muito incêndios que ocorreram na Avenida Paulista neste período.

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

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