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Série Avenida Paulista: o Instituto Paulista, que era e não era na Avenida Paulista

Nesta semana, a Série Avenida Paulista apresenta o Instituto Paulista que, na verdade, não era exatamente na Avenida Paulista, mas tinha seu endereço lá.

Inaugurado em 2 de outubro de 1910, o Instituto Paulista era um hospital, ou melhor, um complexo hospitalar com vários prédios que atendiam diferentes especialidades da medicina. A iniciativa desta construção foi do Dr. Antonio Candido de Camargo, que se tornou o Diretor-Presidente, e L. F. Baeta Neves, o Diretor Gerente.

Na época da inauguração nem todos os prédios foram entregues, mas como informa o anúncio do jornal Correio Paulistano, o hospital ficava em um belo prédio da Avenida Paulista, número 49-A.

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Em publicações no jornal, verificamos que o hospital tinha um prédio destinado à cirurgia e moléstias gerais (menos contagiosas) com 40 quartos e 3 salas cirúrgicas. Um outro edifício para o setor de doenças mentais, com 38 quartos.  E um hotel, o prédio com 23 quartos para hospedagem era designado para “hóspedes convalescentes e pessoas que acompanham os enfermos”.

A matéria ainda informa que o complexo conta com a “colocação mais pitoresca de São Paulo, com parque, bosques e jardins na Avenida Paulista 49-A (rua particular)”.

Um de seus fundadores foi o médico Dr. Antonio Candido de Camargo, que dá nome para o atual hospital A.C. Camargo Cancer Center, especializado em câncer, que fica no bairro da Liberdade.accamargo - Série Avenida Paulista: o Instituto Paulista, que era e não era na Avenida Paulista

Segundo o site do hospital: “Antônio Cândido de Camargo foi o grande mentor do fundador do Hospital do Câncer, Antônio Prudente e, também, presidiu a Associação Paulista de Combate ao Câncer – embrião do Hospital – até sua morte em 1947.

Desde a fundação da Faculdade de Medicina em 1913 até 1934, o Dr. Camargo foi o professor responsável pela cadeira de clínica. O mestre transmitiu ao discípulo – Antônio Prudente – os primeiros ensinamentos na área, todo o conhecimento avançado que trouxe dos tempos de estudo em Genebra, na Suíça, e na capital austríaca, Viena.

No Brasil, foi pioneiro em neurocirurgia e trouxe importantes contribuições para o tratamento de tumores de cérebro e medula. Em sua homenagem, o Hospital do Câncer inaugurado em 23 de abril de 1953, passou a se chamar A.C. Camargo”.

Voltando ao Instituto Paulista. Em 1916, o Instituto já contava com mais edifícios e se apresentava de forma diferente: os prédios eram os pavilhões especializados. Um dos edifícios era denominado Sanatório, focado nas doenças gerais, sendo que seus quartos custavam de 10 a 15 mil reis por diária, os mais caros permitiam ao doente ter um acompanhante.  Informa-se ainda que o sanatório possuía o “aparelho original do Dr. Doyen de Pariz para a cura radical dos tumores cancerosos”. Vejam só: cura radical é que todos querem até hoje.

Dirigido por um médico que vinha do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, o outro edifício era a Casa de Saúde, que era isolado e separado dos outros pavilhões, e atendia somente as doenças mentais e nervosas, tais como, as citadas “alcoolismo, morfinomania, histeria, epilepsia e neuraustenia”.

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Imagem de folheto da coleção de Paulo Castagnet

A construção seguinte era o Pavilhão da Fisioterapia, que vemos na imagem acima, com uma construção mais moderna, de linhas retas, grandes janelas retangulares que mostram a simetria da edificação, bem diferente do que se via na Avenida Paulista e em seus seus casarões em estilo eclético.

Em impresso de uma revista, informa-se que o “pavilhão” oferece hidroterapia, com banhos e duchas, mecanoterapia e artomotor do Dr. Bidu, massagem manual e vibratória, eletroterapia – galvânica, faradica e sinusoidal, alta frequência e estática. Confesso que fiquei curiosa sobre estes tratamentos. Será que eram gostosos e confortáveis? Além deles, havia lá também o aparelho do Dr.  Bergonie para tratamento da obesidade. O que seria esse equipamento? Uma esteira de correr?

Ainda havia o prédio do Hotel, como já dissemos, e o Gabinete Dentário para tratamentos odontológicos.

Mas, e seu endereço? No primeiro anúncio constava como Avenida Paulista, 49-A (rua particular) e, neste último, aparece como sendo entre os nºs 49 e 51 da avenida. Como assim “entre os números 49 e 51”? O mapa abaixo explica!

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No mapa Sara, de 1930, destacamos o trecho da Avenida Paulista onde aparece o Instituto Paulista, que está na parte escura, quase na cor preta, no mapa. A faixa azul que inserimos mostra a tal “rua particular”, que saia da Avenida Paulista e terminava no centro hospitalar. Por isso, o Instituto estava, na verdade, em uma rua que começava entre os números 49, local da casa da família de Rodolpho Crespi (a história dela, que já publicamos, pode ser lida neste link) e, do outro lado, a casa 51, que era de propriedade de Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão (contado em 2 histórias, a primeira pode ser lida neste link e, a segunda, neste link).

A rua particular do Instituto Paulista se transfhttps://spcity.com.br/serie-avenida-paulista-da-familia-correa-galvao-ao-banco-central/ormaria na continuação da Alameda Ministro Rocha Azevedo, que se estendia, no sentido bairro, no outro lado da Avenida Paulista, onde morava o próprio Ministro Álvaro Rocha Azevedo. Ele foi um dos fundadores da Avenida Paulista juntamente com Joaquim Eugenio de Lima. O ministro residiu exatamente na outra esquina, no número 58 (a linda história da família Rocha Azevedo foi publicada em 4 capítulos da nossa série, que pode ser conferida nestes links: capítulo 1, capítulo 2, capítulo 3 e capítulo 4).

Portanto, o Instituto Paulista, embora tivesse o endereço na Avenida Paulista, não ficava exatamente em sua calçada, embora ocupasse um grande quarteirão entre a Alameda Peixoto Gomide e Rua Frei Caneca e, ao fundo, a Rua São Carlos do Pinhal e apresentava uma ruela sem saída, no meio da quadra, que mais tarde viria a ser a Alameda Ministro Rocha Azevedo. Desta maneira, não temos o que apresentar sobre a edificação que estaria lá em seu lugar nos dias atuais, mas podemos mostrar na imagem o caminho atual, que antes  levava aos pavilhões do Instituto Paulista.

Para finalizar, é interessante notar que, nas proximidades deste local estão instalados vários hospitais como o Nove de Julho, o Sírio-libanês e o Hospital e Maternidade SacreCoeur. Concluímos que o Instituto Paulista se foi, mas deixou suas sementes pelo caminho.

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Até o próximo domingo, em que comemoraremos o Natal na Série Avenida Paulista. Aguardem…

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Luciana Cotrim
the authorLuciana Cotrim
Paulistana até a alma, nasceu no Hospital Matarazzo, no coração de São Paulo. Passou parte da vida entre as festas da igreja Nossa Senhora Achiropita, os desfiles da Escola de Samba Vai-Vai e as baladas da 13 de maio no bairro da Bela Vista, para os mais íntimos, o Bixiga. Estudou no Sumaré, trabalhou na Berrini e hoje mora em Moema. Gosta de explorar a história e atualidades de São Paulo e escreveu um livro chamado “Ponte Estaiada – construção de sentidos para São Paulo” resultado de seu mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC. É consultora em planejamento de comunicação e professora de pós-graduação no Senac.

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